Foi mais uma semana em que os investidores operaram com os “nervos à flor da pele”. Tivemos desencontros na “base de apoio” do Congresso com a equipe econômica, sobre a execução do Orçamento, polêmicas desnecessárias sobre a necessidade (ou não) de eventos religiosos presenciais, em pleno caos pandêmico, o ministro do STF, Luis Roberto Barroso, autorizando a abertura de uma CPI da Covid (ruim para o presidente), a aproximação do governo com os empresários, etc. Nos EUA, o governo Biden avançou na sua ambiciosa agenda de estímulos, com mais um mega pacote, de US$ 2,9 trilhões, e no Brasil, o sucesso da mega temporada de leilões de ativos. Foram concedidos 22 aeroportos, uma estrada de ferro e prevista uma rodovia e vários lotes dos portos de Pelotas e Itaqui.
Em decorrência disso, algum desafogo se fez presente, com o futuro de juro recuando, o dólar cedendo ainda mais e a bolsa de valores em alta.
Na quinta-feira (dia 8), alguns eventos foram decisivos para isso. Tivemos alguns avanços nas negociações em torno do Orçamento, o STF decidiu por suspender os cultos e missas, em função da necessidade de isolamento nesta fase mais aguda da pandemia (mortes passando de 4 mil), e o Butantan anunciou a liberação de insumos para a continuação da produção de vacinas. Neste dia o Brasil bateu mais um recorde diário de mortes pela Covid19 em 24 horas, 4.290, com os novos casos, elevados a 86.652. Isso prognostica um mês de abril ainda mais dramático do que o anterior.
Sucesso nos leilões. Tivemos também mais um leilão, da ferrovia Oeste Leste (Fiol) na região cacaueira da Bahia (sudeste baiano), depois dos bens sucedidos leilões de 22 aeroportos, acontecidos quarta-feira. Isso, aliás, deve ser dito. Os leilões do ministro Tarcísio Freitas são (ou foram) um sucesso, com um volume de investimentos previsto para os próximos anos acima de R$ 20 bilhões. Isso reforça, na central de boatos, que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, ex-capitão do Exército e engenheiro do IME, pode se apresentar como nome interessante a fazer chapa com o já candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Se acontecerá, ou não, é outra história. Como dizem, “política é como as nuvens no céu, a cada momento numa posição”.
Nos EUA Jerome Powell, presidente do Fed, em ata do Fomc, reforçou sua política acomodatícia. Por enquanto, ele não vê preocupação com a inflação, considerada ainda temporária, o que é demonstrável pelos dados. Os pedidos de seguro desemprego, por exemplo, subiram 16 mil na semana (a 744 mil), a segunda seguida, se deslocando dos mais otimistas dados do “payroll” (+916 mil). Isso acabou derrubando, nesta quinta-feira, as taxas dos vários treasuries, negociados no mercado.
Em paralelo, o mega pacote de US$ 2,9 trilhões continuava repercutindo, embora alguma reação dos republicanos o colocava em suspense. A carga adicional de impostos, sobre as empresas, é o “nó da questão”. Algo deve ser alterado, não mais prevalecendo os 28% definidos.
No Brasil, a discussão também recai sobre o tema fiscal, mas por outras razões. O Orçamento segue em negociação no Congresso. O Tesouro defende os ajustes necessários, já que, como apresentado, dificulta na execução. Há sim riscos, na visão do TCU, na incorrência de “crime de responsabilidade fiscal”. A movimentação dos presidentes das casas (Rodrigo Pacheco no Senado e Arthur Lira na Câmara) indicam serem contrários aos vetos do presidente Bolsonaro em relação às emendas dos deputados.
Como todos sabemos, na proposta orçamentária, apresentada para este ano, foi definido um corte de R$ 26,4 bilhões nas despesas obrigatórias, concentradas na Previdência, abono salarial, seguros desempregos, e forte expansão, de R$ 29 bilhões, nas emendas impositivas.
O problema é que com estas a conta não fecha, o que coloca em dúvida o cumprimento do teto dos gastos. Há, claramente, nesta proposta, um viés “populista fiscal” no uso de mais recursos, visando as eleições de 2022. Se o debate perdurar neste impasse, o risco será a demissão de toda a equipe econômica, incluindo Paulo Guedes, além do governo Bolsonaro incorrer em ilegalidade e risco de paralisia da máquina pública (“shutdown”). Segundo sondagens, as negociações caminham para preservar parte das emendas adicionadas no Orçamento, entre R$ 16 e R$ 18 bilhões. Outra parte seria vetada pelo relator. O problema é que os presidentes das casas não aceitam isso.
Temos o prazo até o dia 22 para este imbróglio se resolver. Apenas um detalhe. Ao Centrão, e seus representates, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, o que interessa é a obtenção de “nacos de poder”. Se comenta sobre o Ministério da Economia ser partilhado, Planejamento ser criado, ou Indústria e Comércio, com novos cargos disponibilizados. Comenta-se também sobre os ministérios da Educação, do Turismo e do Meio Ambiente. A fome não para. É a velha governança de coalizão, ou de cooptação, à plena carga.
Nesta sexta-feira é divulgado o IPCA de março e, com certeza, algum “stress” deve se formar na curva de juro futuro, já que o índice do IBGE deve vir mais elevado.
Estimativas variam entre 0,9% e 1,0%, o que o deve jogar a mais de 6,2% em 12 meses. A corroborar o fato dos núcleos, considerando o curto prazo, já estarem “rodando acima da meta”. Isso deve reforçar a necessidade da “normalização da taxa Selic”, havendo consenso uma elevação de 0,75 ponto percentual, na reunião do Copom de maio (dia 5). Dentre os fatores, continua a depreciação cambial, em repasse aos preços finais, as “commodities” elevadas, pela retomada da China, pressionando os alimentos, mesmo que arrefecendo, mas ainda elevados, e o combustível. Lembremos que o gás natural sofrerá um forte reajuste ao fim deste mês (39%).
Bom fim de semana a todos!