- Na semana passada, as ações do Deutsche Bank afundaram, diante da alta dos CDS do banco, gerando preocupação entre investidores e depositantes.
- Os problemas estruturais do Deutsche Bank já vêm de longa data, desde a crise financeira de 2008, e deterioraram a confiança no banco.
- Os bancos centrais talvez precisem imprimir dinheiro para fornecer liquidez e resgatar os bancos problemáticos, mas as preocupações com a inflação podem fazê-los pensar duas vezes.
No fim da semana passada, testemunhamos a queda de mais uma peça do dominó que ameaça a estabilidade financeira dos EUA e da Europa.
Desta vez foi o Deutsche Bank (ETR:DBKGn) (NYSE:DB), cujas ações chegaram a cair mais de 10%. Isso ocorreu após a forte alta nos swaps de crédito (CDS) do banco, que refletem o custo de seguro contra a insolvência da instituição para os titulares de títulos de dívida.
Há especulações de que o gatilho foi o anúncio de um resgate antecipado de títulos de nível 2. Embora, em tese, esse não seja um sinal de fraqueza, o mercado interpretou dessa forma.
Em razão dos problemas estruturais de longa data do Deutsche Bank, o mercado tende a adotar conclusões negativas dos fatos.
Fonte: Bloomberg
Riscos do Deutsche Bank já vinha sendo acompanhados
Os problemas estruturais de uma das maiores instituições financeiras da Alemanha, cujos ativos são avaliados em cerca de US$ 1,5 trilhão, remontam à crise financeira de 2008.
O maior empecilho daquela época foram os prejuízos da unidade de investimentos, que acabou sendo desmembrada e gradativamente extinta, além das várias multas aplicadas por órgãos reguladores.
A base do plano de recuperação dos últimos anos foi o foco em áreas tradicionais do setor bancário, como serviços a clientes corporativos e de varejo, e sua implementação ainda está sendo executada, de acordo com um relatório de 2022.
O resultado, que pode ser visto como um sinal positivo, é um lucro de mais de US$ 6,45 bilhões, excluindo o braço de investimentos do banco.
Então, o que há de errado com o banco alemão?
Os pontos fracos estão relacionados ao fator “confiança”, não apenas em bancos individuais, mas também no sistema como um todo.
No momento, nenhum dos bancos do sistema de reservas fracionárias consegue sobreviver a uma corrida em massa dos depositantes por seus recursos.
Ainda que não haja nada de errado, do ponto de vista dos fundamentos, com o Deutsche Bank, a má reputação do banco pode ser um problema sério.
Os bancos centrais terão que imprimir dinheiro?
Em vista dos anúncios e das ações dos principais bancos centrais, especialmente do Federal Reserve, tudo indica que o remédio para uma eventual crise bancária seria, mais uma vez, imprimir dinheiro, algo que, infelizmente, soa bastante familiar.
Na prática, as propostas do Fed são fornecer liquidez aos bancos em dificuldade, ou seja, criar mais dinheiro do nada e aumentar o tamanho das garantias bancárias, que é um resgate de curto prazo, mas também um aprofundamento da crise estrutural.
Isso ocorre porque os bancos, por contarem com um avalista que virá em seu socorro sempre que algo der errado, terão menos incentivos para gerenciar o risco de forma eficaz ou melhorar a gestão de forma geral, o que representa um risco moral.
Por outro lado, as garantias de depósitos tendem a reduzir a pressão sobre os bancos por parte dos clientes, que irão se concentrar mais nas taxas de juros do que na situação financeira da instituição.
Isso faz sentido do ponto de vista do cliente, pois os fundos são legalmente protegidos. Então, tudo leva a crer que o banco central terá que imprimir dinheiro novamente.
Ainda assim, desta vez há um fator-chave que pode fazer o Federal Reserve pensar duas vezes antes de continuar a injetar centenas de bilhões de dólares no mercado: a inflação.
Mínimas do ano passado em perigo
As ações do Deutsche Bank entraram em tendência de baixa no início do mês. O papel está agora se aproximando das mínimas de 2022, que estão um pouco acima da marca de US$ 7.
É provável que vejamos um ataque a essa região. Se os vendedores conseguirem fazer um rompimento, a mínima de março de 2020 poderia ser o próximo alvo.
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Aviso: O autor não possui atualmente qualquer posição nos ativos mencionados.