Nosso mercado financeiro navega no “oceano” e “bons ventos” de Wall Street e Federal Reserve (Fed), e, com isto, procura mitigar a percepção imediata sobre o que acontece por aqui no nosso Brasil, e que impactará com mudanças drásticas de expectativas que já ocorrem com intensa rapidez, na medida em que fica evidente a “incontrolável” alta dos preços hídrico/energéticos e combustíveis que intensifica as pressões inflacionárias que provoca rápida e expressiva necessidade do BC/Copom assumir postura muito mais cética e dura, para não naufragar na gestão das políticas monetária e cambial.
Há muito foco na postura do Fed quanto ao fim dos estímulos nos Estados Unidos, mas o que nos importa de forma mais direta e inquestionável são nossas questões “intestinas”, como a tendência forte de que a inflação atinja dois dígitos ao final do ano, tornando inevitável a alta “contundente” da taxa Selic pelo BC/COPOM ante um quadro que, certamente, comprometerá as projeções de retomada da atividade econômica, crescimento do PIB, geração de emprego e renda.
Este fato novo, que, contudo, já estava no “radar”, mas sem esta intensidade, acontece num momento bastante conturbado do país, que tem um ambiente conflituoso entre os poderes amplamente afetado pelas pretensões eleitorais precoces do presidente, que fomenta a intranquilidade quanto a situação fiscal do país, já que a propensão a intensificação das despesas e novos gastos é latente e presente e pode afetar pontos orçamentários muito sensíveis como riscos neutralizantes adicionais a atividade econômica no país.
Os efeitos deletérios desta mudança prospectiva de cenário deve impactar em tudo aquilo que for mais sensível a alta da taxa Selic, passando pelas ações de empresas de tecnologias, pelos juros praticados no mercado, aumento natural do risco país e, inquestionavelmente, da inflação que exigirá do BC/COPOM medidas incisivas que se anteponham às pressões inflacionárias, sob risco de deixarem “o cachorro correndo atrás do rabo”, e então, levando o país a arcar com o ônus, sem ser beneficiário do bônus.
Na margem, o governo já convive com o emperramento do andamento das reformas tributárias e administrativas, cada vez mais desidratadas em seus alinhamentos iniciais, com a absoluta necessidade de amparar o enorme contingente populacional à beira da miséria, com a descrença em sua política econômica, a qual busca ancorar em colocações retóricas que, por vezes, beiram ao ridículo, numa evidente demonstração de que não tem um “norte” efetivo a orientar suas decisões, o que estimula as incertezas e intranquilidade, além de uma questão fiscal para a qual surgiu o novo desafio de pagamento dos precatórios num momento de grande fragilidade de recursos.
Como salientamos em comentário anterior é hora do BC/COPOM ser pró-ativo, antecipar-se às expectativas e promover um ajuste reacionário forte aumentando a taxa SELIC, buscando inibir a disseminação dos impactos inflacionários para os preços relativos da economia e, também, oportunisticamente colocar o juro como antídoto efetivo a exacerbação do câmbio, que poderia recuar atenuando parte das pressões, até porque, embora nem todas, já há sinais de que parte das commodities estão deixando de ter pressões de alta nos preços internacionais.
A crise hídrica/energética tem potencial enorme de alterar as expectativas, mas a dos combustíveis também é relevante já que a planta modal do Brasil envolve transporte rodoviário de 70% da sua produção, e os novos embates de risco para a questão fiscal, o que sugere que se faça efetivamente uma reavaliação dos riscos para o Brasil, observando mais o que ocorre internamente do que no exterior, até porque com o quadro confuso e indefinido em torno do país, sua atratividade fica extremamente fragilizado.
O país está precisando de visão mais cética a seu respeito, mais realista de forma a induzir governo e autoridades a agir de forma pró-ativa e rapidamente nos realinhamentos buscando conter a deterioração das expectativas.