Desligue o Homebroker e Vá Ler um Livro

Publicado 07.11.2017, 09:04

Saudações.

Conte-me: quantas vezes por dia você checa as cotações das suas ações?

Certa vez conheci um sujeito, programador, que havia feito um aplicativo que enviava para o celular dele, automaticamente, as cotações no número de vezes que ele configurasse. Ele me mostrou, todo orgulhoso, que recebia o dado por SMS seis vezes por dia.

Há não muito tempo, almocei com um ex-colega de faculdade. Ele me confidenciou checar duas vezes por dia o Tesouro Direto - sim, você leu certo... -, para acompanhar o comportamento.

Outro amigo confidenciou: "Tenho dois empregos: um é a minha profissão; o outro é leitor de relatórios de análise. Isso me demanda um tempo desgraçado."

Tem alguma coisa errada aqui, não?

***

Uma das coisas que surpreende a muitos que não estão familiarizados com meu jeito de trabalhar é que eu simplesmente não tenho um painel de cotações. A muito custo, vejo os preços de fechamento. Fora isso, alguns alertas apontam para movimentações atípicas em ativos que são de meu interesse (recomendações da Top Shot, por exemplo).

Minha carteira pessoal, quando muito, vejo a quantas anda uma vez por mês.

Sim: uma vez por mês.

Um pouco de contexto: por muitos anos, não tive televisão. A que tenho hoje é dedicada exclusivamente a conteúdo que escolho conscientemente assistir - Netflix, YouTube e coisas do gênero. Acredite: eu não sei os números dos canais da TV aberta.

Já li cinco, seis jornais por dia, e também acompanhava alguns sites para notícias em tempo real. Até que percebi que o que estava contido ali era muito mais ruído do que informação - e, sinceramente, de lá para cá a qualidade da informação caiu bastante.

Com o passar do tempo, ficou claro para mim que uma das guerras que se passam lá fora - e sobre as quais sempre faço questão de alertar - é pela sua atenção. Isso vai desde as fontes de notícia até as malditas redes sociais, desenhadas especialmente para transformar você em um zumbi que curte e compartilha noite e dia.

Como não poderia deixar de ser, isso se repete (e com muita ênfase) no mercado financeiro.

Em bom português? Estou convencido de que grande parte do que circula por aí é bullshit - e sequer os próprios autores acreditam no que estão dizendo. O frenesi em torno do mercado propiciou o ressurgimento (e esse "re" é importante, pois eu já vi isso antes) de uma indústria de "entretenimento" disfarçado de informação.

A grande questão é: isso consome tempo, energia e dinheiro. E não necessariamente produz resultados - na maioria dos casos, simplesmente não produz outra coisa senão uma horda de pequenos investidores perdidos em meio ao tiroteio.

Quem se dá bem, nesse contexto, é a banca. Pense comigo: cassinos não têm janelas, nem relógios, contam com todo tipo de luxo e conforto; são desenhados para que você permaneça lá dentro o máximo de tempo possível. O fato de o seu homebroker se parecer, cada vez mais, com o painel de controle de um ônibus espacial não é fruto do acaso.

Meu ponto é: esta é uma indústria que tem todos os incentivos do mundo para manter você "ligado" o máximo possível - pois nesse estado mental você opera; gera corretagem. Não importa se você ganha ou perde; não importa se a estratégia funciona ou não. O que importa é gerar receita. Daí a necessidade de incutir em você, o tempo todo, a desesperadora sensação de que você precisa fazer alguma coisa.

Quer um exemplo prático? Recebi, dias atrás, a seguinte pergunta: "Você tem alguma ideia sobre o comportamento da bolsa ontem? Parece que tudo despencou. Eu tenho XXXX, XXXX e XXXX. Mantenho ou realizo?"

Imagine que maravilhoso é, para uma corretora, quando uma oscilação de um dia na bolsa (que, pela sua própria natureza, oscila - "a renda é variável porque varia") é capaz de fazer o sujeito cogitar girar o total dos recursos que tem investido sem sequer saber o motivo do que está fazendo.

A banca sempre ganha.

***

Minha proposta para você é muito simples: avalie friamente se i) o volume de informação que você está consumindo está, de fato, contribuindo para seus resultados e ii) as estratégias de investimento que você adota não só funcionam como compensam adequadamente o tempo, atenção e energia que você dispensa para implementá-las.

O segundo ponto, penso, é especialmente importante para quem faz trading. Em primeiro lugar - e já advoguei por isso em outras ocasiões -, penso sinceramente que apenas uma parcela minoritária de seus investimentos deveria ser destinada a capturar oportunidades de curto prazo.

(E é necessário enfatizar: uma estratégia consistente e disciplina operacional são fundamentais. Foi com esse intuito que o meu colega José Castro preparou um set-up simples e extremamente funcional, que vem dando bons resultados: em uma de suas recentes operações, retornos atingiram 12 por cento em meras 24h. Mais informações já já: aguarde.)

Para o restante, posições estruturais e de prazo de maturação longo continuam me parecendo a melhor alternativa - e é, via de regra, o que a maioria dos bons gestores de recursos faz.

Tendo respondido a esses questionamentos, que tal um detox? Que tal abrir mão, conscientemente, de consumir os materiais menos relevantes?

É enganosa a ideia de que, para ganhar dinheiro no mercado, você precisa viver o mercado freneticamente. Pelo contrário, insisto: a mim parece que mais atrapalha do que ajuda. Viver o mercado - e, principalmente, que você viva o mercado - interessa a quem vive do mercado.

Pense nisso.

E, como de costume, cuide-se: tem uma guerra lá fora - pela sua atenção, inclusive.

Últimos comentários

Carregando o próximo artigo...
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.