Em 2021, o mercado brasileiro de fusões e aquisições chegou ao patamar de 2 mil transações por ano. É uma conquista importante. Após quase 10 anos no patamar de 800 transações anuais, em 2019, o Brasil rompeu a barreira de 1 mil transações, e não foram precisos nem dois anos para que mudássemos novamente de patamar. As perguntas óbvias deveriam ser: o que nos trouxe a essa mudança e como devem ser os próximos anos?
Bem, o Brasil, ao longo dos últimos quase 30 anos, mostrou grande evolução do seu mercado de capitais e de finanças corporativas. Foram anos de reformas, de melhorias microeconômicas, controle prolongado e constante da inflação, aumento do papel institucional do Banco Central até a sua independência, menores taxas de juros e, sem dúvida, expansão e mais maturidade do ecossistema de empreendedorismo.
Todas essas mudanças fizeram com que o ambiente de investimentos, compra e venda de empresas, presença e atividade de fundos de private equity e venture capital se desenvolvesse, se estabelecesse e quiçá começasse inclusive a amadurecer.
Por termos esses agentes participando efetivamente do jogo de capitais, o resultado natural é: comprar e vender empresas se torna algo comum e corriqueiro no horizonte dos empresários, executivos e investidores.
Olhemos algumas histórias bastante marcantes de nosso mercado. Por exemplo, até hoje um dos principais setores nas estatísticas de M&A é o segmento de saúde.
Em 1999, uma gestora de private equity ainda bastante ativa e relevante no mercado nacional, o Pátria, investiu praticamente R$ 100 milhões para ingressar no capital do Delboni Auriemo — até aquele momento um laboratório importante com atuação focada na Grande São Paulo. Logo após esse ingresso, a nova empresa, renomeada para DASA (SA:DASA3), adquiriu outra marca relevante com presença em São Paulo, o Lavoisier.
A partir daquele movimento, a DASA nunca mais parou de fazer aquisições e de protagonizar movimentos no mercado de capitais brasileiro. Fizeram a abertura de capital em 2005, acessaram o mercado de capitais diversas vezes, foram adquiridos por Edson Bueno, então acionista do Laboratório Sérgio Franco, em 2014 — o que promoveu uma queda de sua liquidez na Bovespa —, mas em 2021, fizeram seu relançamento e, atualmente, são novamente uma das principais empresas do segmento de saúde na Bovespa. Enfim, resumi de forma breve como a maturidade do mercado brasileiro beneficiou determinadas empresas e isto reflete e explica por que os negócios em fusões e aquisições não param de evoluir.
Perspectivas
Esse renovado DNA impulsionado por capital, oportunidades e empresários bem-preparados e motivados nos faz crer que a cifra de 2 mil transações anuais é um prenúncio de que continuaremos a nos desenvolver. É nítido o aumento da importância de transações em tecnologia, se considerado o volume total de transações no Brasil.
Os números mostram que o setor, dentre outros, é um impulsionador importante para que continue havendo um volume alto de transações nos próximos anos. Ademais, nos setores tradicionais, vemos que a necessidade de competitividade, melhores margens e escala também alavancam esse movimento. Um excelente exemplo disto é a onda de aquisições da Rede D’Or, em um setor tradicional, que é o negócio de Hospitais. A Rede D'Or (SA:RDOR3) já se tornou a maior rede privada na América do Sul focada nesse segmento.
De maneira geral, a perspectiva para o mercado de fusões e aquisições no país continua bastante animadora, mesmo com o cenário de volatilidade interno e externo (vide Guerra Rússia x Ucrânia, inflação alta e eleições no Brasil).
Entre as principais razões estão os fatores impulsionadores que continuam presentes no mercado com a participação de fundos, perspectiva de melhora da taxa de juros e consequente aumento das emissões de ações, além da melhoria de indicadores econômicos, que tende a atrair mais capital de longo prazo.