“Nada funciona e todos fazem de conta de não sabem o por quê”, e assim a percepção é que temos tantos desafios quanto em 2020, agravados por inúmeros fatores novos, dentre os quais a relevante crise fiscal que exauriu os recursos governamentais inviabilizando a capacidade de agir no sentido de incrementar a atividade econômica e manter programas assistenciais às classes menos favorecidas.
A vacina que era a esperança do país conquistar condições mais estáveis para o trabalho focando a retomada da atividade econômica, a despeito do negacionismo dominante e insuflado de forma equivocada, rapidamente caiu no desalento da falta da mesma por carência de matéria prima essencial e do produto, deixando notória a desarticulação diplomática brasileira e suas consequências.
A pandemia do coronavírus se faz crescente e preocupante e pode se tornar efetivamente neutralizante da atividade maior focando a retomada da atividade econômica, os números continuam atemorizantes tendo a população como refém.
A crise fiscal está no seu ápice, mas há pressões de diversas alas no sentido de retorno dos programas assistenciais por parte do governo, pois agora não há mais como não reconhecer que este foi o grande fator de suporte do PIB de 2020, que evitou queda maior da atividade ao transformar não consumidores em consumidores.
A tentação em acentuar este risco é enorme, mas ainda não conseguiram acomodar no orçamento absolutamente estreito o dispêndio para nova rodada de programas assistenciais, necessário, mas mais necessário para o governo e sua visão populista já que os índices de aprovação revelam viés de queda.
E o COPOM continua observando a “paisagem” absolutamente inerte e sem pró-atividade ante a inflação presente e bastante perceptível, revelando “receio” em desmontar o que construiu e que de forma abrangente não teve ainda os impactos no ímpeto empreendedor do empresariado, mas venha atenuando o custo de carregamento da Dívida Pública e mantendo o dólar com preço acima da razoabilidade, e assim continua “batendo palmas para si próprio” e veja um cenário que não se vê, já preocupante e que ensejava atitudes corretivas.
Imaginar que possa agir em maio ou junho, ou em meados do ano, já jogará as perspectivas efetivas de retomada para 2022, e 2021 já se configure um ano perdido.
Enfim, o risco de piora com o agravamento da Dívida Pública e o desalento seja pela ausência da vacinação, seja pelo agravamento da pandemia, são, inquestionavelmente, muito maiores do que as expectativas de melhora, e este é o ponto efetivo.
O Brasil não está fazendo por si aquilo que os outros países não farão, a despeito da percepção de que as maiores economias, algumas das quais ainda com desafios para a retomada da atividade e perturbadas pela pandemia, estão agindo de forma mais frontal e contundente com aporte de recursos, que, lamentavelmente, não temos, visando acelerar a recuperação.
Por vezes, percebemos que há perda da noção efetiva de que somos um país em desenvolvimento, com enormes carências e envolvidos num severo quadro de descontrole fiscal.
O IGP-M deste mês já está evidenciando pressões preocupantes e a inflação está amplamente perceptível em especial nos bens essenciais, e afora os fatores presentes ocorrerá naturalmente o reflexo da inflação antecedente do IGP-M de 24% em 2020 nos itens de serviços e contratos, se não de alugueres, mas certamente nos serviços administrados.
Agora com Biden à frente do governo democrata americano haverá uma despressurização dos conflitos e também um novo pacote financeiro maior do que o PIB brasileiro para incentivar a retomada da atividade americana e dar suporte à sua população carente, e isto no primeiro momento sugere que fragilizará o dólar perante as demais moedas fortes e, também, frente às emergentes.
No Brasil poderá haver a repercussão desta depreciação do dólar no mercado externo, mas há enormes fatores de contenção para uma depreciação plena que poderia conduzir o preço a R$ 5,00, e que tem viés de agravamento além do juro em desconformidade que causa impactos na formação do preço e estimula volatilidade.
A BOVESPA se “olhar para dentro” não conquistará impulsão sustentável neste momento, mas suas “blue chips”, influenciadas pelo mercado externo, já perto do esgotamento da capacidade de recompor preços, ainda poderão ser atraentes aos investidores estrangeiros, mas precisa ser acompanhada detidamente, pois dada a situação do país tem o risco agravado.
O COPOM pelo menos retirou o “forward guidance” o que foi positivo, visto que há forte evidência de que está “sem radar” afetado pela enorme nebulosidade contida nas perspectivas. Assim, mitiga a sua capacidade de errar.