As empresas que somente agora acordaram para a importância da governança corporativa devem tomar cuidado para não implantarem um modelo defasado. E quem já implantou precisa se atualizar porque a realidade agora é outra. Hoje, um bom modelo de governança é implementado dentro das regras do ESG, sigla em inglês que significa Ambiental, Social e Governança. Sua importância deriva da consciência de que todas as atividades econômicas geram algum impacto social e ambiental que precisa ser mitigado ou totalmente evitado.
O aquecimento global talvez seja o exemplo mais conhecido. Se não reduzirmos as emissões, em poucas décadas a temperatura da Terra estará tão alta que tornará inviável a própria vida no planeta. Isso é o que desejamos? Claro que não. A pandemia de coronavírus é outro exemplo, pois ela nos fez perceber mais facilmente os danos causados por práticas não sustentáveis. O que antes era apenas uma preocupação com as leis vigentes se transformou em uma demanda da sociedade, dos investidores e de vários governos. Então, a empresa que trabalhar para construir um ambiente de negócios totalmente voltado para as regras ESG, não só estará contribuindo para um mundo melhor como também estará gerando valor e atraindo o interesse de mais capital.
Acontece que implantar um modelo de governança corporativa nos moldes do ESG não é tarefa fácil. Há muitos desafios a serem suplantados mesmo para as maiores empresas cujos executivos se preocupam com o tema há anos. Opiniões sobre o que são boas práticas de gestão não faltam, mas os critérios de avaliação ainda são um problema. Como avaliar e mensurar a aderência dos diversos fatores que cercam a sustentabilidade se ainda não existe um conjunto de informações que sirva de padrão? Em outras palavras, baseado em que você acredita que essa decisão vai gerar este ou aquele resultado? Qual a base de comparação? Qual a credibilidade dos dados usados para a implementação do modelo? E por aí vai.
A União Europeia pretende, até o final do ano, concluir a redação de uma regulamentação com métricas a serem utilizadas pelas empresas. Isso será um passo importante porque dará a companhias, investidores e mesmo ao poder público as métricas necessárias para avaliações. No Brasil, o tema é muito discutido pelo mercado, que acompanha o que se passa lá fora, mas ainda estamos distantes do protagonismo europeu.
Outro problema envolve a dificuldade de entendimento do que o ESG realmente é. Dar cestas básicas para famílias de uma comunidade pobre é caridade, mas nada tem a ver com sustentabilidade. Isso porque a caridade ajuda em um momento difícil, mas não liberta as famílias da dependência de ajuda. Ao contrário, um programa desenvolvido pela empresa em conjunto com o poder público para dar as mesmas cestas básicas e, simultaneamente, educar, qualificar e empregar as pessoas dessa comunidade, de forma que elas possam caminhar com as próprias pernas, é uma ação com alto perfil de sustentabilidade. Se os executivos que comandam uma corporação não souberem distinguir uma coisa da outra, como eles vão implantar, verdadeiramente, um modelo de governança com base no ESG?
Um terceiro ponto importante é a visão distorcida de que sustentabilidade representa maior custo com menos rentabilidade. A palavra sustentabilidade não é empregada à toa. Sustentar significa se manter. Uma empresa não sustentável tem vida curta. Quando uma empresa se preocupa em criar formas de produzir mais e melhor com menos desperdício de matéria prima, ela está garantindo a manutenção desse recurso para ela própria ao mesmo tempo que o dinheiro investido nas inovações necessárias, resultam em produtos mais competitivos. É um ciclo.
Portanto, para que um modelo de governança corporativa seja implantado com base em regras ESG é preciso total engajamento dos acionistas e dos executivos que lideram esse processo. Como ainda não há um padrão que seja seguido por todos, busque os critérios usados pelas empresas ou entidades não governamentais que já possuem métricas usadas como base em seus relatórios. E não se limite ao que ocorre no Brasil. Fique atento à evolução da legislação de países mais avançados neste tema, principalmente os pertencentes à União Europeia, protagonista quando o assunto é ESG.
Os desafios não são poucos. Mas ao superá-los a empresa se coloca em posição para participar não só do jogo econômico doméstico, mas global. Afinal, quem fechar os olhos para o ESG não conseguirá sobreviver futuramente.