As economias mundiais estão desacelerando em relação aos meses anteriores. A aversão mundial ao risco é evidente. Receios inflacionários mais persistentes pelo mundo fazem com que os mercados operem em estado de apreensão. O impasse na aprovação do aumento do teto da dívida nos Estados Unidos causa um cenário catastrófico para ativos de riscos globais. Para completar, a reunião da Opep+, que poderia aliviar um pouco os temores inflacionários, teve efeito contrário, pois o cartel decidiu manter o ritmo de aumento da produção gradual. Como os preços de combustíveis já estão altos, esse aumento gradual não alivia a inflação.
Por aqui, continuamos em ritmo de espera para que as reformas e problemas relacionados ao orçamento evoluam. A demora em evoluir nestes temas segue testando o humor do mercado. As incertezas fiscais, com a indefinição dos precatórios e do financiamento do Auxilio Brasil, estão estressando o investidor. No final da tarde de ontem, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), relator no Senado de reforma tributária sobre o consumo, apresentou parecer propondo a instituição de um modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual, em linha com o que era desejado pela equipe econômica, defendendo que o texto está maduro e conta com o apoio de todos os setores e esferas do governo para ser aprovado. Segundo ele não haverá aumento da carga tributária. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), comemorou o que considerou ser um texto para a PEC da reforma tributária de convergência entre Executivo, Estados e municípios. Mas o ritmo de tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) está nas mãos do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Ontem foi divulgado o índice da produção industrial no Brasil, que teve em agosto queda de 0,7% em relação ao mês anterior, acumulando em três meses perdas de 2,3%. A indústria vem há meses apresentando um panorama que mostra que há um desarranjo das cadeias produtivas, escassez de matéria-prima, encarecimento da produção e a demanda demonstra que ainda há muitas dificuldades no mercado de trabalho.
Os mercados globais estão com problemas sem solução de curto prazo. Os gargalos na produção, a inflação, a crise de energia, o caso Evergrande (OTC:EGRNY), e ontem mais uma empresa do setor de imóveis que também não pagou seus credores na China, o teto da dívida americana.
O câmbio atingiu um novo patamar que penaliza o crescimento e pressiona os juros. Na pesquisa Focus do início da semana, as expectativas para a inflação do IPCA continuam piorando para 8,51% neste ano. Campos Neto disse que, se não sair uma solução para o Auxilio Brasil dentro do teto de gastos, haverá uma reprecificação dos ativos. Ou seja, a coisa pode piorar. Apesar da garantia de que o Copom irá até onde for preciso para cumprir a meta da inflação, os desafios continuam com a inflação cada vez mais pressionada pelos combustíveis e energia.
Os preparativos do Fed para reverter os estímulos impactam ainda mais na depreciação do real e no movimento de carry trade. Atenção sexta feira para o payroll (o relatório mensal de criação de empregos norte-americano). E ontem nos EUA saiu o déficit comercial que aumentou mais do que o esperado em agosto, impulsionado pelas importações conforme as empresas recompõem os estoques, no sinal mais recente de que o crescimento econômico desacelerou no terceiro trimestre. O déficit comercial aumentou 4,2% para 73,3 bilhões de dólares no mês passado. Acima do esperado pelo mercado. Os PMIs de serviços nos EUA melhores que o esperado reforçam os sinais de recuperação da atividade no país, aumentando expectativas pelo início da retirada de estímulos pelo Fed em novembro.
Um indicador das expectativas de inflação de longo prazo da zona do euro baseado em preços de mercado subiu para um novo pico em seis anos ontem, com o recorde nos preços do gás e um novo aumento do petróleo bruto alimentando expectativas de um maior crescimento futuro dos preços.
O Credit Default Swap (CDS), conhecido como “risco-país” de cinco anos do governo brasileiro, já subiu 41% este ano.
Ontem o dólar voltou a fechar em alta e numa máxima de mais de cinco meses, após uma arrancada nos minutos finais dos negócios no mercado à vista, que empurrou a moeda acima de 5,48 reais, com o nervosismo acerca de mais despesas no Brasil se somando ao dia de força da divisa norte-americana no exterior. Nos dois últimos dias, o real dividiu com o peso chileno o título de pior desempenho nos mercados globais de câmbio. O dólar fechou cotado a R$ 5,485 na venda. A busca por ativos mais seguros tem feito o dólar alcançar patamares tão elevados e dificultando a recuperação do real.