Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
Com exceção do euro e da libra esterlina, todas as principais moedas se desvalorizaram na terça-feira frente ao dólar estadunidense, com o dólar australiano liderando a queda. O Reserve Bank (RBA, banco central da Austrália) cortou as taxas de juros pela terceira vez neste ano para a mínima histórica de 0,75%, porém o mais relevante é o topo de curto prazo na moeda americana. O dólar estadunidense começou firme o pregão de Nova York frente a todas as principais divisas e nas máximas plurianuais contra o euro, mas essa tendência de alta se reverteu após os dados industriais no país. De acordo com o último relatório do ISM, a atividade nas fábricas atingiu o nível mais fraco em 10 anos. A atividade manufatureira teve contração pelo segundo mês seguido, com o índice caindo de 49,1 para 47,8. Essa deterioração gera preocupações com a forma com que o crescimento mundial mais fraco está afetando a economia norte-americana e, por extensão, seu mercado de trabalho. Embora o emprego na indústria seja um item separado no relatório de empregos que será divulgado na sexta-feira nos EUA, o fato de que o índice de emprego tenha caído para seu nível mais baixo desde 2016 é um sinal de alerta para a economia norte-americana. Saberemos mais quando o relatório do setor de serviços for divulgado na quinta-feira, mas, por enquanto, o relatório de ontem mudou a trajetória do dólar ao gerar expectativas para dados mais brandos. Além da correção no dólar, os rendimentos do Tesouro americano ficaram negativos, e o Dow despencou mais de 300 pontos. Se o relatório da ADP ficar abaixo das expectativas, podemos ver uma queda mais significativa que pode empurrar o par USD/JPY abaixo de 107,50.
Graças ao declínio no dólar, podemos ver um fundo de curto prazo no euro. A perspectiva para a Zona do Euro não é nada boa, e o fato de a União Europeia (UE) negar que esteja considerando aumentar o prazo para a questão fronteiriça da Irlanda não ajuda em nada as moedas europeias. No entanto, o risco de encerramento de posições de venda é alto antes da divulgação do relatório de empregos não agrícolas de sexta-feira nos EUA, e os investidores podem usar a desculpa de que os números do PMI industrial foram revisados para cima para o mês de setembro. O setor manufatureiro ainda está bastante fraco, mas uma corrida para cobrir as posições de venda pode levar o par EUR/USD para 1,10, sem, contudo, romper a tendência de baixa.
O dólar australiano teve o pior desempenho entre as principais moedas, o que não causa surpresa em vista da decisão do Reserve Bank de reduzir os juros pela terceira vez neste ano. A instituição reduziu os juros para a mínima histórica e afirmou que está preparada para “flexibilizar ainda mais a política monetária, se necessário”. O banco central australiano espera que as pressões inflacionárias permaneçam atenuadas por algum tempo e expressou preocupação com a perspectiva para o consumo. Os indicadores sugerem que o crescimento do emprego desacelerará porque o “avanço dos empregos e da inflação está mais lento do que gostaríamos”, nas palavras do Governador Lowe. Apesar de não acreditarmos que o RBA afrouxará sua política monetária mais uma vez neste ano, a declaração de ontem foi mais moderada (dovish) do que o mercado esperava. O par NZD/USD caiu para a mínima de quatro anos com o corte de juros do RBA, o que coloca pressão sobre o banco central neozelandês para que também flexibilize sua política.
O par USD/CAD teve queda apesar do crescimento do PIB mais brando do que o esperado e de preços menores para o petróleo. O movimento foi impulsionado inteiramente pela fraqueza do dólar estadunidense. Embora o declínio tenha quase rompido a consolidação de duas semanas, o fato de o USD/CAD encerrar o pregão de Nova York na mínima semanal aumenta a possibilidade de uma queda maior. Se o USD/CAD vier abaixo de 1,32, poderíamos ver um rápido deslize para 1,3150. Por fim, a libra esterlina encerrou o dia estável frente ao dólar estadunidense. A atividade manufatureira mais forte do que a esperada ajudou a evitar novas perdas, mas o foco principal continua sendo o Brexit. Se a UE fizer concessões à questão fronteiriça da Irlanda, o par GBP/USD pode subir, mas, até que isso aconteça, grandes movimentações na libra podem ser limitadas.