Publicado originalmente em inglês em 01/10/2020
Todas as empresas petrolíferas, desde a super-rica Aramco (SE:2222), da Arábia Saudita, até as pequenas firmas de fraturamento hidráulico em Oklahoma, foram duramente afetadas pelos baixos preços do petróleo.
Nos EUA, até o mês de agosto, pelo menos 36 empresas pediram falência. Até mesmo a Saudi Aramco foi forçada a atrasar alguns dos seus planos de expansão de despesas para fazer frente às suas obrigações perante o governo saudita e outros acionistas.
Cada uma das empresas do setor está tentando sobreviver à recessão global causada pelo coronavírus da melhor forma possível. Entretanto, há uma diferença clara entre as empresas europeias e americanas quando o assunto é visão estratégica.
Mudança continental, conservadorismo americano
Empresas do Velho Continente, como Royal Dutch Shell (LON:RDSa), (NYSE:RDSa), BP (LON:BP), (NYSE:BP), Total (PA:TOTF), (NYSE:TOT) e, em certa medida, Equinor (OL:EQNR), (NYSE:EQNR), estão acelerando cada vez mais os planos de transição produtiva para outras fontes de energia além de óleo e gás.
As empresas americanas, por outro lado, estão cada vez mais comprometidas com a produção dessas commodities. Companhias como Chevron (NYSE:CVX), ConocoPhillips (NYSE:COP) e ExxonMobil (NYSE:XOM) continuam com suas estratégias pré-coronavírus de realizar cortes e ajustes para diminuir despesas durante o período de preços baixos.
As empresas europeias consideram que esse período de demanda mais baixa é um prenúncio de um futuro em que o mundo precisará de menos petróleo. Dessa forma, estão tentando acelerar o desinvestimento de ativos de extração e produção para atuar com mais intensidade no mercado de gás natural e energia renováveis.
As companhias americanas, ao contrário, veem a situação atual de baixo consumo como um mero recuo temporário, já que acreditam que seus ativos de extração e produção continuarão agregando valor, desde que as despesas sejam reduzidas no curto prazo.
Perspectiva de demanda incerta; é preciso mais inovação
Ninguém realmente sabe como estará a demanda petrolífera daqui a cinco ou dez anos. Provavelmente as empresas europeias acreditem que a demanda petrolífera esteja desacelerando.
A mudança para a geração e transmissão de eletricidade renovável pode ser o que os acionistas dessas empresas queiram, mesmo que a lucratividade seja menor do que a produção de óleo e gás. Além disso, diversos governos europeus e a própria união europeia oferecem incentivos financeiros para investir em geração de energia renovável, algo que pode compensar as perdas financeiras dessas empresas.
Será que as empresas europeias e seus acionistas estão abrindo mão de lucros futuros? E se os preços do petróleo subirem por conta do aumento da demanda, e a falta de investimento em novos recursos petrolíferos gerar menos lucros?
Por outro lado, as empresas petrolíferas americanas ficarão com ativos desvalorizados caso o consumo de petróleo continue caindo por causa da transição para combustíveis não fósseis?
Eu acredito que a transição para fontes renováveis – ou outra forma de energia não fóssil – não ocorrerá sem uma ou várias inovações tecnológicas. Precisamos, por exemplo, de armazenamentos muito melhores.
Também precisaremos de melhores baterias, que carreguem com mais rapidez, armazenem a carga por mais tempo, possam ser recarregadas muitas vezes e sejam mais leves e menores. Sem uma inovação significativa, os combustíveis fósseis continuarão exercendo um papel importante no consumo energético dos países ocidentais e crescerão à medida que novas economias se desenvolvam.
A demanda petrolífera está sendo fortemente impactada agora, mas se recuperará. Quando a economia global se reerguer da recessão atual, as pessoas e economias em dificuldade voltarão a adotar sua fonte mais barata e eficiente de energia disponível: óleo e gás.
O problema é: o que tudo isso significa para os investidores do petróleo?
Primeiro, eles não devem se animar tanto com os relatórios de empresas europeias que pregam que o “pico de demanda” está chegando ou já passou. A BP recentemente emitiu um relatório que repercutiu muito na imprensa, mas os mercados petrolíferos não lhe deram muita importância. Os mercados continuarão ignorando a ideia de pico de demanda e previsões catastróficas.
Em segundo lugar, os investidores devem entender que, no longo prazo (daqui a mais de 15 anos), poder haver escassez de petróleo. Alguns ativos estão bem explorados, como os diversos campos da Península Arábica.
Entretanto, sabemos que outras áreas detêm petróleo, mas não exatamente quanto. Além disso, outras reservas estão completamente indefinidas. Temos pouca atividade de exploração, pois, além dos preços baixos do petróleo em 2020 e da transição das petrolíferas europeias para energias alternativas, temos visto uma queda no dispêndio de capital desde que a cotação do óleo caiu no fim de 2014.
É bem provável que isso eventualmente gere escassez de petróleo e preços muito mais altos, mas não por muitos anos.