Fui surpreendido dias atrás. Eu realmente não imaginava que algum dia ouviria aquilo.
Pense em alguém com perfil conservador. Meu irmão está se aproximando dos 50 anos, é militar, casado, pai de dois filhos e espera ansiosamente pela sua aposentadoria, daqui a cinco anos. Ou seja, o conservadorismo em pessoa.
No almoço de família, ele se sentou ao meu lado e desferiu as seguintes palavras: “Eu quero investir em ações. Como faço?”.
Em um primeiro momento, ainda perplexo com aquele desejo, me veio logo à cabeça a famosa frase de Sir John Templeton: “Mercados em alta nascem do pessimismo, crescem no ceticismo, maturam no otimismo e morrem na euforia”.
Meu irmão querendo entrar na Bolsa seria um sinal de quê? Otimismo? Ou será que já estamos vendo euforia nas ruas? Fiquei pensativo.
Antes de responder, perguntei o que estava motivando aquela decisão. De bate-pronto, ele me respondeu: “Minhas aplicações de renda fixa não rendem mais nada”.
Aquilo, de certa forma, me tranquilizou. De fato, o bull market que estamos vivenciando é algo totalmente diferente do que já estudamos e vimos em outras épocas — ainda estamos no início do otimismo.
Acompanhe meu raciocínio.
O último bull market na Bolsa brasileira se deu no período de 2005 a meados de 2008. Nessa época, o Brasil surfava o boom das commodities no mercado internacional, afinal de contas, somos um dos principais exportadores de minério, soja e suco de laranja.
Como pano de fundo, tínhamos uma taxa Selic média que girava em torno de 14% ao ano, tendo atingido 20% em 2005. A inflação ainda assombrava o brasileiro e chegou a repiques de 8% ao ano em 2005 e de 6% em 2008.
Mesmo assim, esse bull market rendeu aos investidores um desempenho de 185,5% no período. Sensacional, não? Mesmo com a competição de uma renda fixa de dois dígitos ao ano.
Se considerarmos o bull market atual, que teve início em 2016, quando a Bolsa chegou aos 40 mil pontos, estamos atingindo a performance de 191,1%, patamar bem próximo daquele do período 2005–2008.
Fonte: Bloomberg
Agora, vejamos o pano de fundo que temos hoje.
Inflação controlada, taxa Selic na mínima histórica, empresas mais eficientes e preparadas, consumidores e empresários retomando a confiança, reformas estruturantes a pleno vapor, emprego em processo de recuperação. Percebe a diferença?
Além disso, com taxas de juros a 4,5%, a migração do investidor pessoa física para a renda variável se torna cada vez mais uma realidade; grandes fundos de pensão terão que aumentar o seu patrimônio em ações para bater metas atuariais; fundos multimercados já estão montando equipes parrudas de análise de ações a fim de buscar maiores retornos.
Concorda que o ambiente agora é muito mais propício para os investimentos em ações do que de 2005 a 2008?
Assim, é de esperar que este bull market atinja níveis de rentabilidade muito maiores, o que nos dá uma segurança de que estamos apenas no meio desse movimento ascendente.
O bull market dá medo? Dá. Quando vemos ações subindo 30%, 40%, 50% em semanas, ficamos receosos, e o diabinho começa a nos perguntar: será que as ações não estão bem precificadas? Será que é hora de vender?
Mas logo vem o anjinho e nos lembra: o momento atual é diferente; o investidor estrangeiro nem pôs os pés ainda na Bolsa brasileira; o Brasil está destoando dos demais países emergentes com crescimento econômico e sem turbulências políticas; a retomada do “investment grade” é iminente; o lucro das empresas vai crescer significativamente, pautado na alavancagem operacional e na redução nas despesas financeiras.
O anjinho vai ganhar essa batalha. Quem tiver medo e escolher ficar de fora da Bolsa vai deixar dinheiro na mesa. Vide janeiro de 2019, quando a Bolsa subiu mais de 10% em um único mês, tendo vindo de altas expressivas pós-eleição do Bolsonaro.
Portanto, mantenha-se sempre posicionado em Bolsa neste bull market, o que não quer dizer que não seja saudável realizar ajustes de posição, rebalancear a carteira e embolsar ganhos de tempos em tempos.
Nunca é um movimento ascendente linear. Sempre há percalços nesse caminho. Aproveite as oportunidades e tenha sempre proteções (dólar, ouro e puts).
Ah, já ia me esquecendo. Querido irmão, sim, é hora de investir em ações. Fico feliz que você esteja tomando essa iniciativa.
Primeiramente, defina quanto do seu patrimônio total será direcionado a ações. Uma vez decidido, como dica de alocação inicial: um terço em empresas maduras com qualidade diferenciada e marcas renomadas; um terço em companhias boas pagadoras de dividendos (busque Vacas Leiteiras que paguem mais de 5% de renda anual); e, para fechar, um terço em microcaps, as nossas “pequenas notáveis”, que vão fazer seu patrimônio crescer significativamente.
E assim, parafraseando o mestre Zeca Pagodinho: deixe o bull market te levar.
Um feliz 2020, bons investimentos e vamos juntos rumo aos 150 mil pontos do Ibovespa!