Dados divulgados ontem (09) e hoje (10) abalam a tese de que, aos poucos, o Brasil estava saindo da crise e que, em breve, o fluxo negativo de capital estrangeiro voltaria a ficar positivo. Ontem, dados sobre a inflação, que havia sido estimada em 0,03%, veio em -0,04%. Ou seja, tivemos uma deflação, indicando que a atividade econômica diminuiu ao invés de aumentar ou permanecer estável.
Hoje, foram publicados dados do varejo, que têm relação direta com o grau de consumo das famílias. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o aumento foi de 1,3%, frustrando a estimativa de 1,8%. Na comparação mensal, o crescimento foi de apenas 0,1%, contra uma expectativa de 0,3%, mostrando que a expansão do comércio varejista foi quase nula ao longo do último mês (setembro) e contrasta com os dados de agosto, que mostraram uma expansão da ordem de 1%.
Com a economia mundial em desaceleração e a guerra comercial entre China-EUA sem sinais de trégua, o grau de aversão a investimentos de risco tende a aumentar significativamente, afetando principalmente a atratividade de países emergentes, com o Brasil. O efeito negativo desse cenário tem impacto duplo: mina a capacidade de trazer investimentos para o país ao mesmo tempo que estimula a saída dos investimentos que já foram feitos.
Em ambos casos, um primeiro empecilho é o estado absolutamente precário da economia brasileira: baixa produtividade, alto índice de desemprego, pouco poder de consumo – o que desestimula quaisquer investimentos de ordem industrial ou do setor de serviços, agravado pela incapacidade do governo de prover estímulo econômico. Segundo, a tática utilizada para tentar prover esse estímulo – uma redução na taxa básica de juros – não teve o efeito esperado a nível doméstico e, a nível internacional, diminuiu a atratividade dos títulos públicos brasileiros.
Acrescente-se a isso um grau de instabilidade política bastante alto, que começou no segundo mandato de Dilma Rousseff e se agravou após o processo de impeachment. Com a eleição de Bolsonaro – cuja imagem no exterior não foi, em ocasião alguma, a de um candidato pró-mercado, mas de figura autoritária, homofóbica e boquirrota – a imagem do Brasil se deteriorou ainda mais, em especial na medida em que o presidente fomentava tensões com diferentes lideranças globais – algumas delas, francamente pueris, como no caso envolvendo a esposa de Emmanuel Macron, presidente da França.
Tudo isso resultou, até o momento, em uma saída total de 27 bilhões de reais da bolsa brasileira, com 6 bilhões saindo apenas nesse mês de outubro. Não surpreende, desse modo, a alta observada no dólar em período recente. Na medida em que ativos são convertidos em reais, são depois convertidos em dólares: não apenas porque a moeda americana é padrão para negociações internacionais, mas também porque é considerada um ativo-refúgio em momentos de crise econômica, devida a resiliência do mercado dos Estados Unidos. Uma vez que a urgência para tirar investimentos do Brasil supera a oferta de dólares no mercado à vista, o preço dispara e só é aliviado com a interferência do Banco Central do Brasil.
Perspectiva futura
Na medida em que as economias desenvolvidas não dão sinais de melhora e a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo – China e Estados Unidos – se arrasta sem sinais claros de avanços num acordo que bote fim ao conflito, a economia brasileira deve sentir cada vez mais os efeitos da crise. Embora, em meses anteriores, a economia tenha dado alguns tímidos sinais de melhora, o cenário macroeconômico e os sinais de piora continuam muito mais relevantes.
Não por menos, o número de contratos futuros de real, negociados nas bolsas americanas e apostando na desvalorização da moeda brasileira, já se aproxima do patamar histórico atingido em 2014, quando o saldo de contratos abertos era de 47 mil. Atualmente, estão em 39 mil – há três semanas atrás, no entanto, eram apenas 9 mil. Isso mostra a convicção de grandes agentes especulativos – que ganham com as oscilações do mercado e, por isso mesmo, costumam estar corretos sobre o rumo do preço – de que o real continuará se desvalorizando em relação ao dólar (ou, em outras palavras, de que o preço do dólar continuará subindo no Brasil).