- PIB da China no 2º tri registra forte desaceleração do maior país importador de petróleo do mundo.
- Aumentam as dúvidas em relação à capacidade de a demanda petrolífera atingir recordes históricos neste ano.
- Vácuo na demanda dificulta caminho da Opep rumo à prosperidade, segundo analistas.
Há um ano, quando a alta do petróleo teve um fim abrupto, a China foi logo apontada como a grande culpada, por conta do seu controle draconiano da pandemia. Nesta semana, Pequim é usada novamente como bode expiatório para a perda de força do movimento de alta de três semanas do petróleo. Desta vez, no entanto, a grande culpada não é a pandemia, mas a frustração da esperança de uma recuperação econômica mais vigorosa no país asiático, após o fim das restrições da crise sanitária.
Os dados oficiais sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre na China mostraram que o crescimento da segunda maior economia mundial e principal importadora de petróleo está perdendo ímpeto em relação ao período imediatamente anterior.
Além disso, a atividade chinesa também cresceu em ritmo mais lento do que o esperado em relação ao ano anterior, na medida em que a indústria manufatureira e o mercado imobiliário, setores mais importantes da economia local, seguem sob pressão.
Isso acabou suscitando dúvidas sobre a capacidade da demanda mundial de atingir máximas históricas neste ano, com base na determinação da China de promover a retomada a qualquer custo, inclusive cortando juros para estimular o avanço.
Ocorre que Pequim pode ser pega na “armadilha de liquidez” se continuar executando uma política monetária acomodatícia em um ambiente deflacionário, explica Kelvin Ong, analista da plataforma de negociação online OANDA. O especialista disse o seguinte:
"Para compensar a fraca demanda interna e a deterioração da confiança do consumidor, medidas expansionistas de estímulo fiscal provavelmente serão mais eficazes do que mais cortes de taxas de juros."
Os preços do petróleo caíram mais de US$ 1 por barril durante a tarde em Cingapura, à medida que os operadores digeriam as repercussões dos dados chineses para o comércio global e o petróleo.
Às 12h de Brasília, o barril de West Texas Intermediate (WTI), que serve de referência para os EUA, caía 0,57%, negociado a US$ 74,86. Nas últimas três semanas, sua valorização foi de cerca de 8%.
Já o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência para a Petrobras (BVMF:PETR4), cedia 0,65%, a US$ 79,35 no mercado futuro. A exemplo do petróleo norte-americano, o Brent se valorizou cerca de 8% nas últimas três semanas.
Desde sexta-feira, o rali do petróleo perdeu vigor, devido, de um lado, à realização de lucro e, de outro, às expectativas de que os dados da China decepcionassem, como acabou acontecendo.
Mas nem todos os dados da China foram ruins
Depois de um forte início de ano, com a flexibilização das medidas restritivas contra a covid-19, a economia chinesa vem enfrentando uma demanda fraca tanto interna quanto externamente, bem como uma queda prolongada no mercado imobiliário local, que é um importante vetor de crescimento.
Isso gera grandes problemas para quem tem posições compradas no petróleo, bem como para os países da Opep, liderados pela Arábia Saudita, que esperavam um grande salto no consumo petrolífero durante o verão nos países desenvolvidos do norte.
Ocorre que nem todos os dados de crescimento da China foram ruins.
A produção das refinarias mais as importações líquidas de produtos derivados aumentaram 25% e 17% em relação ao ano anterior em abril e maio, respectivamente, de acordo com dados da agência CEIC. A produção de diesel em maio foi 26% maior do que no ano anterior e 40% maior do que em maio de 2019, antes da pandemia.
Em vista das dificuldades enfrentadas pelo setor imobiliário no país, esse número não deixa de causar surpresa. O investimento em propriedades em maio ficou 21% abaixo do número registrado em maio de 2022. Ao mesmo tempo, o transporte rodoviário continua mostrando sinais de fraqueza.
O volume de transporte de carga ainda está abaixo dos níveis do final de 2019, assim como o volume de transporte de passageiros por estrada, que equivale a menos da metade dos níveis pré-pandemia. O tráfego aéreo doméstico se recuperou mais rapidamente, mas, em relação ao consumo total de petróleo da China, o combustível de aviação ainda é pequeno em comparação com o diesel e a gasolina.
Em uma matéria recém-publicada, o Wall Street Journal tenta fornecer possíveis explicações para o fenômeno, mas conclui dizendo que a mais simples é que tanto as refinarias quanto os órgãos reguladores superestimaram a retomada econômica no país, bem como o consumo mundial.
Cortes de produção podem resolver apenas parte do problema
John Kilduff, sócio do fundo de hedge de energia Again Capital, de Nova York, afirmou:
“Para sustentar o rali do petróleo, é necessário contar com a China. Tradicionalmente, o país responde por mais de 20% do consumo mundial do produto”.
“Não é possível pegar um atalho para a prosperidade, essa é minha mensagem para a Opep. Por mais que os otimistas acreditem que qualquer perda de demanda possa ser compensada por uma redução proporcional da produção, o nível de conforto do mercado em relação ao consumo é sempre maior. A restrição é fantástica no petróleo, desde que você consiga mantê-la. Mas vimos o que aconteceu após a invasão na Ucrânia, isto é, a rapidez com que perdemos o patamar de US$ 140 por barril, apesar de a Opep tentar administrar a produção mês a mês com cortes”.
Nos últimos meses, a Opep+, formada pelos membros originais da organização e mais 10 aliados sob os auspícios da Rússia, reduziu a produção em quase cinco milhões de barris por dia, ou cerca de 5% da demanda mundial.
Apesar de todo esse esforço, em grande parte realizado pela Arábia Saudita, o petróleo tem se mantido abaixo de US$ 80 por barril há meses, em comparação com as máximas de 14 anos em torno de US$ 140 por barril alcançadas após a invasão russa da Ucrânia em março de 2022.
Em reconhecimento à importância estratégica da China como compradora, o relatório mensal mais recente da Opep declarou que é necessário haver uma melhora contínua no país para que o petróleo ganhe impulso.
Ainda assim, o cartel não forneceu qualquer explicação das razões que o levaram a acreditar que a recuperação da China seria rápida.
Dados aduaneiros de Pequim contaram uma história persistente e preocupante: as exportações recuaram 12,4% em relação ao ano anterior em junho, a maior queda em três anos, devido ao aumento das taxas de juros em todo o mundo, o que acabou prejudicando a demanda por produtos chineses.
Além do PIB chinês, esta semana também trará dados de vendas no varejo dos EUA referentes a junho, que podem mostrar um aumento de 0,5%, com base na recuperação das vendas de automóveis e nas vendas mais altas nos postos de combustíveis, sugerindo que a demanda do consumidor continua resiliente.
Os investidores também terão atualizações sobre a saúde do setor imobiliário, com relatórios sobre licenças para construção, início de construções de moradias e vendas de imóveis construídos nos EUA. Qualquer sinal de aumento da atividade do consumidor no país será recebido com sentimentos mistos pelos investidores de petróleo. Por um lado, é positivo ver um crescimento da economia real e, consequentemente, da demanda petrolífera; por outro, há a preocupação de que o Federal Reserve veja isso como um sinal de maior inflação futura e responda com mais aumentos nas taxas de juros.
Uma pesquisa amplamente acompanhada sobre o sentimento do consumidor, realizada pela Universidade de Michigan e divulgada na sexta-feira, mostrou que a disposição dos americanos em gastar atingiu seu nível mais alto em dois anos, o que, na visão de economistas, não é muito favorável para as pretensões do Federal Reserve, que deseja ver a inflação cair em ritmo mais forte.
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Aviso: O conteúdo deste artigo é puramente educativo e não representa qualquer recomendação de compra ou venda de qualquer ativo tratado. O autor Barani Krishnan não possui posições nas commodities ou investimentos sobre os quais escreve. Ele geralmente utiliza uma variedade de visões além da sua para promover a diversidade da análise de qualquer mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias.