Por Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
O dólar estadunidense registrou uma forte desvalorização na quinta-feira, atingindo seu nível mais fraco contra o iene japonês desde setembro de 2019. A moeda americana também retomou sua alta contra o euro e a libra esterlina, com o par EUR/USD batendo no nível de 1,12. O dólar vem enfrentando uma semana difícil no exterior, com o Índice Dólar se desvalorizando mais de 3% desde a máxima de fevereiro. Grande parte desse declínio pode ser atribuída ao Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), que estimulou a especulação de um corte de juros na semana passada e de fato reduziu as taxas em 50 pontos-base na terça-feira. Apesar de o mercado estar precificando uma flexibilização maior em abril, alguns investidores estão alimentando esperanças de que o relatório de empregos não agrícolas desta sexta-feira possa impulsionar o dólar.
Tradicionalmente, a folha de pagamentos não agrícola é um relatório que movimenta bastante o mercado, podendo facilmente mudar a perspectiva de uma moeda, mas neste caso isso é pouco provável. Os economistas preveem uma desaceleração na geração de empregos e no crescimento dos salários. Em vista da atual atitude do mercado em relação ao dólar estadunidense e da liquidação de praticamente 1.000 pontos nas ações, um relatório fraco deve ter um impacto maior na moeda americana do que um relatório forte. A razão é que os investidores vão considerar que o número mais brando seria uma justificativa para uma flexibilização maior do Federal Reserve. Um número forte, por outro lado, seria considerado como um dado atrasado que não refletiria o verdadeiro impacto do coronavírus. Embora mais indicadores favoreçam um relatório forte (como mostramos abaixo), qualquer rali inicial provocado por um bom número deve apresentar uma rápida reversão. O USD/JPY perdeu o patamar de 106,50 e pode ir em direção aos 105 se o relatório de emprego desapontar.
Ainda estamos aguardando o Banco Central Europeu anunciar uma flexibilização, o que prejudicaria a disparada no euro por enquanto. Se o relatório de empregos ficar abaixo das expectativas, o próximo ponto de parada do EUR/USD seria 1,1300.
Argumentos a favor de um relatório de empregos mais forte:
1. O componente de emprego do ISM não industrial subiu de 53,1 para 55,6;
2. Challenger registra -26,3% nas demissões;
3. Índice de Confiança do Consumidor do Conference Board sobe de 130,4 para 130,7;
4. Índice de Confiança da Universidade de Michigan sobe de 99,8 para 101.
5. O componente de emprego do ISM industrial subiu de 46,6 para 46,9.
Argumentos a favor de um relatório de empregos mais fraco:
1. ADP registra 183K na folha de pagamentos privada vs. 209K anterior;
2. Média Móvel de 4 Semanas sobe levemente de 212K para 213K;
3. Pedidos contínuos de seguro-desemprego sobem de 1,701M para 1,729M.
O USD/CAD também pode atingir a máxima de 8 meses se os dados de trabalho no Canadá ficarem aquém das expectativas. Ao longo de 2019, o mercado de trabalho canadense apresentou um desempenho extraordinário. Até mesmo o último relatório foi positivo, com mais de 34K empregos criados no mês de fevereiro. No entanto, o Banco do Canadá achou que era necessário reduzir as taxas de juros em 50 pontos-base nesta semana, com o governador Stephen Poloz dizendo ainda que os cortes de juros podem ajudar na confiança do consumidor. Considerando a força geral dos últimos dados no Canadá, não podemos deixar de acreditar que sua decisão de fazer uma flexibilização agressiva foi motivada pela fraqueza nos novos dados que serão revelados nos relatórios de emprego da sexta-feira e do IVEY PMI.