O Brasil precisa mais do que boas intenções e retóricas otimistas por parte do governo, pois para crescer, gerar emprego, renda e consumo conquistando a redenção da queda do PIB atribuída ao impacto da pandemia do coronavírus na economia, serão inicialmente necessários planos de governo sustentáveis e viáveis e desenvolvimento efetivo de programas focando o crescimento, e, obviamente um volume considerável de investimentos.
Ontem, o Ministro Guedes num de seus arroubos explicativos do Renda Brasil “criou”, demonstrando que o programa é, por enquanto, uma necessidade e uma ideia sem estudos efetivos sobre fundos de financiamento, a sugestão que os dividendos das empresas estatais que não forem privatizadas poderiam gerar o “funding” para bancagem do programa. Algo hilário, pois teríamos receitas variáveis dando suporte a custos fixos, deixando evidente que não há estudos mais aprofundados em torno do programa assistencialista e deixando a oportunidade de ironicamente se perguntar, e se as empresas geradoras das receitas variáveis derem prejuízo quem vai devolver? O programa ou o Tesouro? E o teto orçamentário?
Enfim, são coisas do país da “jabuticaba”!
A economia fechou 2019 de forma decepcionante ante as expectativas e em 2020 estava lenta quando foi “atropelada” pela crise da pandemia do covid que impôs ao governo o agravamento da crise fiscal, que já existia mais foi largamente ampliada, e a queda do PIB não foi maior exatamente pelo consumo ter sido ancorado pelos generosos fluxos de renda às classes carentes promovidos pelo governo através programas assistenciais diversos, que “respingou” em demanda à indústria, mas não foi capaz de restabelecer vigor ao setor de serviços que é forte gerador de empregos e representa 70% do PIB nacional.
Apurado o tamanho do “estrago” do 1º semestre, programa-se a redução dos programas assistenciais sem se poder efetivamente dimensionar qual será o impacto na demanda do varejo, em especial, com reflexos diretos na indústria, e se colocam dados iniciais alvissareiros de crescimento que podem estar sendo “exacerbados na observação”, visto que partem de uma base debilitada.
Antes de festejar e criar um otimismo que pode se revelar vulnerável será fundamental que se observe o “novo normal” que vai sendo desenvolvido e que certamente será bem diferente do ambiente anterior.
O “susto e as dificuldades” trazidos pela crise da pandemia seguramente devem mudar os hábitos de consumo e lazer da população, torná-la mais defensiva e cautelosa e isto promoverá reflexos na demanda agregada da economia.
E, não se observa perspectiva de uma vigorosa retomada da geração de empregos, até pelo contrário, e como ficarão os “sem renda” que precisarão continuar sendo ancorados pelo governo, porém de forma não tão intensa quanto na crise, e esta realidade podem contrair as expectativas de retomada em V e conduzi-la a U, mais lenta e que pode retardar a efetiva retomada para 2022.
O “novo normal” é ainda uma incógnita e para que as projeções se tornem mais assertivas é necessário que se torne mais palatável, mais perceptível os cenários novos e, certamente, a visão cética sugere que sem investimentos tudo será mais difícil.
Será preciso haver algo mais concreto e efetivo do que a colocação retórica e superficial que têm prevalecido, não basta como salientada boas intenções.
O setor privado precisará mudar de atitude e ao invés de esperar que o governo tome a iniciativa, improvável por não dispor de recursos, assuma o protagonismo dos investimentos focando dinamizar a atividade gerando emprego, renda, consumo e tributos, e, por enquanto, tendo a convicção de que os investidores estrangeiros não estão atraídos pelo Brasil.
Há disponibilidades de linhas de crédito no país e o juro está baixo.
Há muito “falatório”, muitas projeções para este ano e para o ano seguinte, mas ainda há poucos fundamentos sustentáveis, grande parte é anseio, visto que todos desejam que o país se recomponha e volte a ter uma atividade econômica dinâmica, mas há poucos planos de governo elaborados focados neste objetivo, mesmo envolvendo o setor privado, pois até o programa de privatizações se revelou insucesso até o momento.
Em razão disto é que temos considerado pouco alvissareiro o momento para crescimento da Bovespa, o que se confirmou ontem no momento pós euforia da queda menor do que esperado do PIB. Afinal, o que há de concreto, de efetivo que enseje efetiva confiança na recuperação harmoniosa da atividade econômica, da renda, do consumo e do emprego.
É preocupante que haja número tão relevante de IPO´s na fila, pode haver desapontamentos.
Ontem, não acompanhou Wall Street, não deu para se deixar contagiar com a euforia alheia, se bem que os dados da ADP não foram entusiasmantes.
A convicção única é que o agronegócio é o único segmento forte da economia brasileira neste momento.
O dólar que vimos salientando que dentro do conceito desejado pelo governo de “alto” está “muito alto” e tende a passar por ajuste, visto que face ao ambiente global envolvendo Estados Unidos e grandes economias e o quadro de eventuais pressões legítimas internas tem espaço para re-precificação, considerando até que o conteúdo “risco fiscal” já esteja embutido no preço atual, poderá aproximar-se do preço de R$ 5,00 gradualmente.
A PIMCO, uma das maiores gestoras de recursos do mundo senão a maior, tem projeções de que o dólar deve sofrer depreciação de 2% no mercado global, considerando os mais recentes cenários levantados pelo FED americano, enquanto o IIF em estudo recente considerou que o real está depreciado 15% acima do seu preço normal.
Como temos destacado, não há em perspectiva focos de pressão de demanda no mercado de câmbio a vista, saída efetiva de recursos do país, portanto se houver será no mercado futuro e o país tem um mercado de derivativos sofisticado e o BC apto a intervir adequadamente para conter qualquer movimento que fuja à normalidade. Ademais, o país tem reservas cambiais confortáveis.
O BC precisará ser pró ativo, caso sejam necessárias intervenções em ocorrências de disfuncionalidades.
O preço ainda alto, em torno de R$ 5,00, mais “menos alto” seria previdente para proteger o país de pressões inflacionárias, visto que se deseja crescer vai ter que incrementar importações até agora contidas e que reequilibrarão a balança comercial.
Ademais, este novo alinhamento de preço estaria mais bem equacionado com a melhora que tem sido revelada pelo CDS Brasil 5 anos, que caiu abaixo de 200 pontos.
Não há no radar razões para apostar contra o real com fundamentos, o país tem problemas, mas estes não passam pelo câmbio necessariamente.
O Presidente do BC, Campos Neto, em conferência ontem não foi enfático de que haverá novo corte na taxa SELIC, postura bastante sensata.