Não há dúvidas de que o crescimento da familiaridade dos brasileiros com investimentos é algo muito positivo. No entanto, como qualquer outro processo de popularização, ele levanta novas questões.
O maior interesse pelo assunto impulsiona o aparecimento de inúmeras fontes de informação. Claro, onde há demanda, a oferta aparece. Evidentemente, nem tudo tem a mesma qualidade.
Na era das redes sociais, a informação, que antes era mais difícil de ser disponibilizada, agora não é mais. É como se estivéssemos todos em uma grande mesa de bar virtual, onde qualquer pessoa fala o que pensa e pode ser ouvida por qualquer outra que esteja interessada.
Mas, repito, essa é uma característica da nossa vida atual e acontece com todos os assuntos, embora com diferentes graus de impacto.
Por exemplo, você já deve ter usado o Google para procurar informação sobre uma dor ou um sintoma que esteja sentindo. Você sabe que o certo mesmo é procurar um médico, mas tudo bem tentar se informar um pouco.
Em se tratando da nossa saúde, é seguro se informar porque a maioria de nós tem bom senso. Temos um filtro que nos protege, o qual começamos a construir desde a infância. Sabemos que, mesmo o remédio certo, em dose errada, pode nos matar.
Em se tratando de investimentos, um filtro também precisa ser construído. E a única forma de construí-lo é vivendo. Com paciência e cautela.
Eu não sou profissional do mercado financeiro, nem médico. Construí o meu discernimento, tanto sobre saúde quanto sobre investimentos, na base da "experiência cautelosa". Cometendo meus próprios erros (e não os de outros), mas nenhum deles fatal.
Comprei a minha primeira ação em 1998, pela Corretora Souza Barros. Comprei meu primeiro fundo imobiliário em 2003, quando esses ativos nem eram listados em Bolsa. Fui cliente da Investa, a primeira plataforma de fundos do mercado brasileiro.
Fui passando de corretora para corretora, em uma época que uma comprava a outra em busca de "novas" clientes. Fiz curso de análise técnica no final de semana. Avaliei a criação de um clube de investimento. Me cadastrei no Tesouro Direto logo que ele foi lançado.
Em 2016, fiz o primeiro de alguns investimentos anjo. Em 2019, entrei também no mundo do Private Equity, aproveitando a criação de fundos para o varejo.
Nesses mais de 20 anos, sobrevivi a vários tombos do mercado. Eu tinha ações de companhia aérea em 11 de setembro de 2001! Eu não tinha proteções contra alta do dólar em 2002. Passei pela crise de 2008 (a tal "marolinha") e por tudo que veio depois durante o governo Dilma.
Com cautela e me esforçando para aprender, fui construindo o meu filtro. Mas também tive sorte. No "Joesley Day", eu tinha ações do setor de papel e celulose. Elas voaram e protegeram todo o resto da minha carteira. Em março de 2020, eu "sentei na mão" e voltei a comprar em setembro. A coisa foi feia, vi meu patrimônio cair 50%. Mas não era a primeira vez.
Enfim, dizem que a Bolsa expele os amadores. Mentira! Eu nunca fui profissional de mercado e, 22 anos depois, ainda estou aqui.
Tem gente que anda de moto. Outros, colecionam carros antigos. Conheço quem estuda tudo sobre vinhos. São hobbies maravilhosos. O meu é investir. E escrever.
Hoje, a minha mania de investir e administrar o meu próprio portfólio tornou-se uma atividade relevante. Dá até para viver disso. Mas você entendeu por onde eu andei para chegar até aqui?
Dá para um investidor amador viver de seus investimentos? Eu acho que sim, haja vista o meu próprio exemplo. Entretanto, na minha opinião, o caminho é longo e a caminhada é lenta. Mas o destino é lindo!
Com filtro, bons negócios!