A abertura do mercado financeiro ontem se deu sob um clima excepcionalmente especulado e exacerbado, mas ao longo do dia a racionalidade foi tomando conta da formação dos preços e assim, conteve uma boa parte dos excessos.
Em nossa abordagem ontem destacamos “é preciso manter sensatez no câmbio, situação não tem solução imediata”, porque era imaginável que ocorresse forte especulação, como ocorreu, no inicio dos negócios provocando “overshooting” no preço do real como reflexo dos resultados eleitorais do 1º turno, abrindo espaço para forte especulação consubstanciada em fatores emocionais e não racionais.
A BOVESPA chegou a ficar em torno dos 58.000 pontos com alta de quase 8% para depois retornar a parâmetro de alta em torno de 5%, sob o comando das ações da Petrobras.
O dólar chegou a sofrer depreciação expressiva retrocedendo seu preço ao entorno de R$ 2,36 para depois recompor-se ao nível entorno de R$ 2,43, parâmetro adequado para um dia em que a moeda americana cedeu frente às moedas emergentes e globais e adequado para o contexto brasileiro no momento – entre R$ 2,40 a R$ 2,45 – para uma trajetória seguinte para as proximidades de R$ 2,50 ou um pouco mais se o FED americano sinalizar mudanças em sua política monetária em período mais breve do que vem sendo considerado.
Como temos enfaticamente exposto, não há solução para o problema cambial brasileiro no curtíssimo/curto prazo e não se deve confundir “anseios de candidatos” a exequibilidade na prática de forma tão fácil e imediata.
O câmbio seguramente será o último item de uma pauta programática do governo depois do sucesso de um novo plano macroeconômico para “reconstrução” do país e resgate de sua credibilidade, confiabilidade e atratividade perante os investidores estrangeiros.
Portanto, não dá para precificar agora no preço da moeda americana algo que seja diferente do “status quo” presente e sua perspectiva de piora no curtíssimo/curto prazo, que deve envolver intensificação de saída de recursos estrangeiros do país de natureza especulativa e, também, face à possível mudança na política monetária americana.
Mudança efetiva na política cambial por enquanto será sempre um anseio, efetivamente só factível no médio/longo prazo. Por enquanto todos os fatores conduzem à apreciação do preço da moeda americana não por desejo, mas sim pelas circunstâncias do país.
Ontem, o dólar americano permaneceu no mercado internacional um pouco abaixo dos parâmetros alcançados com as altas mais expressivas em quatro anos em relação às principais moedas globais. Os investidores aparentemente realizaram os ganhos após os relatórios bastante fortes envolvendo o emprego, desemprego e pedidos de seguro desemprego divulgados na sexta-feira, fortalecendo as expectativas de alta antecipada na taxa de juros americana.
O índice do dólar que acompanha o desempenho da moeda americana comparando-a com a cesta de seis principais moedas caiu 0,89%.
Contudo, o dólar continua com potencial de retomar a valorização no mercado internacional tendo em vista que a economia americana vem sugerindo este comportamento.
Da mesma forma, o real continua com potencial para um pouco mais de depreciação frente ao dólar, o que nos leva a projetá-lo flutuando entre R$ 2,40 a R$ 2,45, com grande propensão a estar mais próximo de R$ 2,45, porém qualquer sinal mais efetivo do FED americano sinalizando antecipação de mudanças da política monetária poderá coloca-la em R$ 2,50.
Tudo leva a crer que o mercado cambial está com pensamento simétrico ao nosso, ou seja, considerando que não há como mudar-se o comportamento do preço da moeda americana no curtíssimo/curto prazo dado o contexto Brasil, precisando antes piorar um pouco mais ainda neste ultimo trimestre do ano, para então posteriormente, se tudo for delineado com acerto, imaginar-se o desmonte da intervenção do BC no mercado de câmbio futuro e regularizar-se o fluxo de recursos estrangeiros proporcionando a que os bancos cubram suas posições vendidas e o país volte a elevar suas reservas cambiais, hoje já não expressivas “vis a vis” o endividamento total do país.
As reservas cambiais brasileiras são no momento somente um escudo que, dada as circunstâncias e dentro do possível não devem ser usadas, sob o risco de motivar movimento especulativo sobre o real, até porque a formação do preço já não está se sensibilizando com a oferta dos contratos de “swaps cambiais”.
A colocação da “casa em ordem” na política cambial será uma tarefa desafiadora para o próximo governo eleito.
Volatilidade na formação do preço, movimentos especulativos pontuais, etc, poderão continuar ocorrendo sob os efeitos eleitorais, mas a realidade que está por vezes encoberta por estas sombras sempre se fará maior e duradoura, porque o quadro negativo atual do câmbio é consequente de fundamentos fragilizados do país.