O preço da moeda americana apresenta tendência de queda e volatilidade sem que haja um fundamento consistente que possa dar sustentabilidade a este comportamento, salvo a perceptível intenção do governo de promover uma “meia volta” na tentativa inicial de, via câmbio com preço realista, incentivar a indústria brasileira elevando sua competitividade no comércio exterior e no mercado interno, já que indiretamente provocaria melhores condições frente aos produtos importados.
Após o preço de a moeda americana ultrapassar R$ 4,00, como consequência da realidade do país, agora o governo tenta, ao manter o mercado liquido a vista com fornecimento de linhas e com a manutenção da rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos no mercado futuro, reverter a diretriz adotada que não resultou nos pontos positivos esperados, mas tão somente fomentou inflação, retornando à prática do câmbio administrado quanto possível.
Esse é o movimento que efetivamente se presencia no momento, ou seja, retorno ao contexto anterior face ao insucesso de busca de incentivo à retomada da atividade econômica via taxa cambial realista.
Mas esta estratégia é frágil e de sustentação duvidosa, pois a ingerência forte do BC na formação da taxa cambial com sucesso se deu num contexto de “ventos a favor”, e agora o contexto é muito adverso. Pode ter sucesso temporário, mas com volatilidade, o que enseja a prática do “day trade” pelos especuladores.
Há um discreto hiato provocado por expectativas externas sobre as atitudes que serão adotadas pelo FED americano, pelo governo chinês e pelo comportamento dos países da eurozona, mas o fato concreto é que o Brasil e sua situação econômica deteriorada são as grandes causas de suas mazelas, tudo o mais é pano de fundo.
Em perspectiva o Brasil será dos poucos ou o único dos país a ter queda do PIB em 2016, o que demonstra que somos diferentes para pior, e já se esvaziou o discurso falso de que tudo que acontece aqui decorre da crise internacional.
O país está envolvido numa crise econômica sem precedentes e não consegue motivar o setor produtivo, até porque tem necessidade de arrecadar mais e não sendo decorrente pelo crescimento da atividade econômica, acaba sendo ônus adicional que contrai cada vez a atividade industrial, e que gera como consequência natural desemprego, que deve se acentuar muito, queda de renda e consumo que conduzirão o país a uma recessão forte.
Tudo leva a crer que já se tem indicativos que 2016 podem ser tão desoladores quanto 2015 e o país cada vez mais está exposto a ter suas notas revistas pelas agências de rating, com grande possibilidade de ocorrência de um downgrade, que seria drástico para o país, mas pela circunstância atual não injusto.
Assim, o país continua sem despertar atratividade ao capital externo e tem sinalizações consistentes de que poderá ter saídas expressivas caso ocorram fatos no exterior e em relação a si próprio que estimulem este movimento.
Alta do juro americano certamente provocaria deslocamento de recursos estrangeiros alocados no nosso mercado financeiro, e uma revisão dos ratings, até culminando com o downgrade, obrigaria parte de recursos relevantes a deixar o país, e a persistência do quadro fiscal e da atividade econômica são fatores de rejeição à opção dos investidores pelo Brasil.
As autoridades de governo gostam de destacar que temos US$ 370,0 bilhões de reservas cambiais, mas afinal tem mais de US$ 110,0 bilhões que dão credibilidade (lastro) ao hedge ofertado no mercado para proteção das exposições em moedas estrangeiras, em especial financeiras, das empresas, portanto liquidamente não é tão expressiva e devemos considerar ainda que os bancos estão US$ 20,0 bilhões descobertos gerando liquidez, que deveria ser dada diretamente pelo BC ao mercado, através estratégia de repasse de linhas de financiamentos do BC aos mesmos.
Num cenário prospectivo em que se identificam riscos de pontos fomentadores de saídas de recursos externos do país e reduzidas possibilidades de ingressos é preciso considerar a dimensão das reservas cambiais com menos alarde, pois a tendência mostra risco de redução. E naturalmente os analistas dos investidores externos não deixam de considerar esta realidade.
Exportamos menos, importamos menos e conseguimos discreto saldo positivo na balança comercial, o que deixa evidente que é fruto da atividade econômica cadente e não do dólar estar mais elevado.
Acreditamos que as análises em torno do preço da moeda americana no nosso mercado devem ter foco nas causas internas e menos nas causas externas neste momento.
A busca da artificialização do preço da moeda americana aconteceu no Brasil de forma desastrosa num passado não muito distante, destruindo a indústria nacional e abrindo espaço para os produtos e insumos importados, mas o momento da economia era favorável, embora construída sobre estrutura oportunista temporária (demanda reprimida, crédito e consumo) que conduziu o governo a gastos excessivos e desinteresse em investimentos estruturais, passando a falsa impressão de desenvolvimento, que agora está sendo posta a nu e revelando a consistência dos erros.
O governo agora já sem condições de continuar aumentando o juro ao qual a inflação não responde mais busca agora retornar a práticas velhas visando utilizar o preço da moeda americana como ancora para conter focos inflacionários, já que a tendo liberado não alcançou os resultados esperados.
A indústria tende a manter a retração e é possível que as importações possam acabar estimuladas por uma taxa cambial mais baixa, até ao ponto de provocar uma balança comercial negativa com o crescimento da participação de produtos acabados.
Enfim, atira-se para todos os lados, mas a economia não reage, falta confiança e motivação ao empresariado e credibilidade aos propósitos do governo.
O cenário atual, enganosamente calmo, enseja precaução com riscos de uma alta do preço da moeda americana intempestiva e elevada, dada a fragilidade de sua sustentabilidade e também da estratégia que vem sendo adotada para apreciar defensivamente o real.