O dólar fechou nesta segunda-feira em alta de quase 2%, acima dos R$ 4,00 pela primeira vez em mais de dois meses e meio, com os investidores decepcionados com a ida de Nelson Barbosa ao Ministério da Fazenda e com a ausência de sinalizações mais contundentes de rigor fiscal em seu discurso. O dólar futuro, que já havia reagido à nomeação de Barbosa após o fechamento do mercado à vista na sexta-feira, avançava cerca de 0,90%.
Mais flexível na condução das políticas de ajuste fiscal necessárias ao equilíbrio das contas públicas, o ministro Barbosa, neste momento, pode representar um retrocesso. As apostas majoritárias podem recair sobre o aprofundamento da crise.
A escolha de Barbosa, anunciada na sexta-feira, já havia sido entendida como clara sinalização de que a presidente Dilma Rousseff pretende promover mudanças na política econômica. Barbosa tem pensamento mais alinhado ao de Dilma, com maior foco na retomada do crescimento em meio ao agravamento da recessão e da crise política.
Em teleconferência com investidores feita antes mesmo de sua posse, nesta tarde, Barbosa repetiu que a direção da política econômica continua a mesma após assumir o comando da Fazenda no lugar de Joaquim Levy, com foco no ajuste fiscal e redução da inflação. Ainda assim, operadores afirmaram que o mercado quer ver ações concretas de austeridade para se convencer de que o comprometimento do governo com o ajuste não se esvaiu.
Podem ter faltado sinalizações mais incisivas de austeridade fiscal nas declarações de Barbosa. O discurso foi basicamente o mesmo de antes, mas o mercado está convencido de que as coisas podem mudar para pior.
Outro motivo para a alta recente da moeda norte-americana foi a decisão, na semana passada, do Supremo Tribunal Federal (STF) de acatar as principais teses do governo sobre o rito do processo de impeachment.
Operadores vêm reagindo bem à possibilidade de afastamento da presidente, com alguns avaliando que isso poderia destravar o ajuste fiscal. Outros salientam, porém, que a incerteza política tende a atrasar ainda mais a implementação de cortes de gastos e aumentos de impostos. A chance de haver um impeachment pode ter diminuído e o mercado pode não gostar disso.
Segundo a pesquisa Datafolha feita com deputados federais mostra que há mais parlamentares decididos a votar a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff do que os que anunciam ser contrários ao afastamento dela, mas nenhum dos dois lados já tem os votos suficientes para sair vencedor.
Por Rodrigo Rebecchi (Equipe Youtrading)