"Décalage" Temporal Inflacionária – Câmbio e Taxa Selic
“Parto do pressuposto que o BC e o governo estão comprometidos em baixar a taxa de inflação”
O BC tem ao seu dispor duas ferramentas de extrema importância no controle da inflação, a Taxa de Câmbio e a Taxa de juros Selic, como é do conhecimento geral.
Agora que tivemos algum alívio a nível político, pelo menos no curto prazo, com a manutenção dos vetos presidenciais essencialmente e esperemos que o governo continue focado no ajuste fiscal, mesmo sendo o congresso uma pedra no seu sapato.
Conseguiu-se alguns avanços, vamos esperar por novos desenlaces e que sejam positivos.
Mas a intenção deste artigo não é focar-se nesses aspectos, apesar de serem extremamente importantes e por estarem relacionados com o controle das contas públicas e com o nível de confiança que afetam o mercado, o que também tem implicações diretas e indiretas na inflação.
Como temos assistido o BC tem atuado e bem nas duas vertentes que acho mais fundamentais no controle da inflação: A taxa de câmbio e a Taxa Selic.
Enquanto o controle da taxa de câmbio e o seu efeito na diminuição da inflação é mais complexa e polêmica a elevação da taxa Selic e bem mais pacífica, pois reprime a demanda forçando a baixa de preços, com efeito mais negativo, a contração da economia, aumento do desemprego e a diminuição do rendimento disponível.
A questão central no valor do dólar é saber qual é o patamar mais adequado, em que simultaneamente seja impactante na inflação e ao mesmo tempo favoreça as exportações.
Neste momento, mesmo com a subida das Taxa Selic, intervenções do BC ao nível do câmbio, a contração da economia, a inflação ainda não mostra sinais de abrandamento e porque?
Porque essas atuações não têm efeito imediato, existe uma "décalage temporal" (pass-through) entre a sua aplicação e a obtenção de resultados, que podem ter que ser ajustados no tempo, pois os patamares atingidos podem não ser suficientes para a obtenção da meta pretendida e no tempo pretendido em termos de inflação. Não estou considerando o efeito da inflação de arrasto ou inércia inflacionária, que podem perpetuar a alta da inflação por um tempo mais longo.
Visto isto, não é previsível no curto prazo haja qualquer inversão da atuação do BC a nível do câmbio e da Taxa Selic, enquanto não houver dados consistentes de que a inflação está a diminuir e a convergir para a meta, em que essa "décalage temporal" (pass-through) não é passível de ser estimada (há estudos que apontam para 3 a 4 meses, baseados em situações semelhantes, mas acho que cada caso é um caso, e não me atrevo a partilhar dessa estimativa). Temos de aguardar a evolução da inflação para ver os resultados.
Podemos ainda ter um cenário em que a intervenção no câmbio seja mais forte, forçando a uma maior baixa do dólar no medio longo prazo não descartando um aumento da Taxa Selic isoladamente ou em simultâneo, se os dados nos próximos meses da inflação não forem os melhores.
É evidente que não estou a levar em conta muitos outros fatores, como o fluxo cambial, as reservas cambias, a força e o equilíbrio do BC, ajuste fiscal, dentre outros, mas é uma coisa é quase certa, se o BC não conseguir conter a inflação através também do cambio então teremos forçosamente novas subidas da taxa Selic com todos os seus efeitos negativos agregados.
É minha convicção que depois desta "décalage temporal" (pass-through) a inflação irá ceder, talvez não convergindo para a meta de 4,5% (que acho muitíssimo difícil de atingir) mas próximo dos 6,5% em 2016. Vamos ver...