Câmbio: É Preciso Foco nos Fatores Internos

Publicado 27.08.2014, 10:34

Não parece fazer sentido comparar o comportamento das moedas dos países emergentes entre si com uma visão imaginária de que existe simetria entre as mesmas.

Embora emergentes há inúmeras diferenças entre os mesmos a partir dos seus “status” econômicos, perspectivas, credibilidade externa induzindo atratividade pelas oportunidades, etc.

Então são situações diferentes que precisam ser analisadas de formas diferentes.

Os problemas macroeconômicos do Brasil diferem em muito de inúmeros outros emergentes e, especialmente no câmbio, há acentuados fatores presentes que o torna diferente dos demais.

O Brasil tem uma taxa cambial absolutamente fora do ponto, então não dá para fazer exercícios de suas variações em relação a esta ou aquela moeda deste ou daquele país ou mesmo em relação ao MSCI de moedas emergentes. A taxa cambial do Brasil está severamente administrada e distorcida não permitindo comparações sustentáveis e críveis.

Há uma intervenção maiúscula por parte do BC no mercado de câmbio futuro com a colocação soberba de contratos de swaps cambiais para ancorar a credibilidade do real, sem o que o preço estaria muito distante do atual, e há carência de fluxos positivos no mercado à vista que impõe aos bancos a geração de liquidez com manutenção de posições vendidas, substituindo o que deveria ser feito pelo BC, mas de toda forma motivados pelos ganhos de arbitragens entre a rentabilidade do cupom cambial e o custo das linhas de financiamentos que dão suporte a este posicionamento.

Portanto, este grau de intervenção que já supera os US$ 93,0 Bi em contratos de “swaps cambiais” e com os bancos colocando, valor presente, mais US$ 15,0 Bi para suportar a liquidez no mercado a vista, provoca enorme deformação na formação do preço da moeda americana, que assim se presta a contribuir para a contenção das pressões inflacionárias, deixando, entretanto, expressivos efeitos colaterais na economia do país.

Tudo isto evidencia que o Brasil no quesito câmbio e formação do preço da moeda americana tem absoluta assimetria em relação aos seus pares emergentes.

O Brasil se defronta com um contexto em que não pode parar a oferta de contratos de “swaps cambiais”, pois se o fizer o preço da moeda americana sofrerá forte apreciação, além do risco de ocorrer movimento especulativo sobre o real. A redução da oferta e/ou redução dos contratos de “swaps cambiais” passa necessariamente pela melhora de fluxo cambial para o país, cenário que não se vislumbra no curto prazo.

E o que está por vir na nossa visão é um movimento mais intenso de operações que estão com “hedge” para liquidação efetiva pressionando o preço do mercado à vista.

A lógica seria com esta transição ocorrer queda na demanda de contratos de “swaps cambiais” e intensificação da demanda no mercado a vista, requisitando moeda disponível efetivamente. Porém, se estiver presente no mercado futuro um posicionamento expressivo especulativo, provavelmente está lógica não prevalecerá, pois os especuladores continuarão tomando os valores ofertados e se forem reduzidos poderão agir pressionando a apreciação do preço da moeda americana.

Por isso é que a reação emocional do mercado depreciando o preço da moeda americana quando as pesquisas evidenciam números contrários ao atual governo não faz sentido, pois a racionalidade indica que a questão do câmbio demandará um longo período para a normalização. Há a necessidade de o país resgatar sua credibilidade junto aos investidores externos com um programa econômico focado na recuperação do crescimento, queda da inflação, rigor fiscal, etc, que estimule fortemente o ingresso de recursos externos que permita o desmonte da intervenção presente e, então, permita que se restabeleça o preço equilibrado da moeda americana.

O que existe atualmente nos discursos dos candidatos é um anseio de ter o câmbio em bases realistas, mas isto dependerá de medidas acertadas do novo governante, que poderá ser até o mesmo, e da reação dos investidores estrangeiros, porém nada que por mais otimizado que seja venha a ocorrer em menos de 1 ano ou 1 ano e meio.

Entre o anseio e a efetiva possibilidade há uma distância enorme a ser transcorrida.

A estratégia que vem sendo utilizada pelo BC no momento tende a perder eficácia e o preço da moeda americana certamente fechará o ano em bases mais realistas.

Há fundamentos críveis que sugerem saída de recursos especulativos do país, o que pode ser alavancado se o FED emitir sinais mais efetivos de mudança na política monetária americana, e, por outro lado, prudencialmente os investidores tendem a reduzir seus investimentos no país neste 2º semestre.

Precisamos acentuar os olhares pela janela que mostre os problemas internos do país e perdermos a mania de nos compararmos com os demais países que embora tendo o mesmo apelido de “emergentes” tem situações diferentes das nossas.

A volatilidade deverá se acentuar deformando momentaneamente as tendências, mas é inegável que o viés é de apreciação do preço da moeda americana.

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