Quando as pedras do tabuleiro começam a se encaixar o que se constata é que temos um movimento especulativo instalado no mercado de câmbio brasileiro, que, contudo, poderá ser corrigido a partir das evidências de que é insustentável e ação mais eficaz do BC.
Porém, variações abruptas e volatilidade em nada contribuem para a retomada da atividade econômica, já que criam insegurança e incertezas.
O dólar apresentou atípica depreciação no mercado de câmbio brasileiro ao longo da última semana, e analistas de plantão se apressaram a encontrar uma série de justificativas, tais como aumento do fluxo de recursos estrangeiros para o país, queda da moeda americana no exterior decorrente de dados econômicos menos favoráveis, etc... Enfim, mais do mesmo contumaz!
Colocamos confrontando estes argumentos que era notória a ocorrência de especulação pontual focando a apreciação do real e que não existiam no momento fundamentos que poderiam dar suporte àquele movimento.
Evidentemente que o dólar tem a sinergia com a economia americana, porém a formação do seu preço não pode ser “pura” nos países emergentes que, afinal, não são protagonistas, mas tão somente “satélites” da moeda americana e devem agregar nos preços de suas moedas toda a gama de fatores negativos e positivos econômicos dos seus próprios países.
Portanto, a taxa de equilíbrio deve estar certamente num preço que reflita o contexto brasileiro e suas dificuldades versus com os impactos externos, e convenhamos, o peso dos nossos problemas internos se sobrepõe em muito os fatores externos na atualidade.
No momento imediatamente posterior à fala do Ministro Levy sobre não desejar mais o preço da moeda americana artificializada no nosso mercado, ocorreu valorização errática na sua intensidade da moeda americana, que até precificou em seu preço à vista perspectivas futuras acreditadas negativas num claro erro de precipitação ou mesmo especulativo.
Mas o real sequer atingira a sua taxa de equilíbrio no nosso mercado, após anos de artificialização, estando, contudo, próxima e eis que surge um movimento também errático de apreciação da moeda brasileira, absolutamente sem fundamentos criveis de sustentação, com cunho altamente especulativo.
Atribuiu-se a pretenso movimento intenso de ingresso de capitais externos a partir da semana passada. Porém, quando se observa o fluxo cambial liquido da semana de 20 a 24 constata-se que houve ingresso financeiro liquido positivo da ordem de US$ 1,44 Bi e comercial liquido negativo de US$ 0,37 M, resultando em ingresso liquido total de US$ 1,08 Bi, muito pouco para provocar a oscilação efetiva e a volatilidade ocorridas. Afinal, o fluxo cambial no mês está positivo em US$ 5,5 Bi e no ano em US$ 10,26 Bi, números melhores do que se imaginava, mas ainda insuficientes para cobrir a posição vendida de US$ 18,3 Bi, já deduzido o fluxo positivo, com que os bancos vêm financiando a liquidez do mercado de câmbio à vista e que praticamente é um redutor das reservas cambiais brasileiras de US$ 372,9 Bi para US$ 354,6 Bi.
É interessante que quando são abordados os números do fluxo cambial e a eles se dá destaque ocorre a não percepção de que os bancos detém posições vendidas pela insuficiência de ingresso de recursos, já que não ocorrem vendas ao BC, e indicam que com isto o BC evita a necessidade de expor esta carência ao vender dólares diretamente ao mercado. Este é um ponto de fragilidade nem sempre considerado.
Esperava-se um fluxo financeiro mais intenso nesta semana , especialmente de capitais especulativos, pois o país vem oferecendo um juro real elevado não visto desde 2008, medido pelo swap de 360 dias descontada a inflação projetada para 12 meses adiante que resulta em 7% e hoje o COPOM deve elevar a taxa SELIC, provavelmente, em mais 0,50%.
No nosso entendimento a decisão do BC acerca da rolagem de contratos de swaps cambiais vincendos em maio é para o câmbio, no momento, mais relevante do que a própria decisão do COPOM em torno da taxa SELIC. É necessário que o BC exerça efetivamente um monitoramento mais eficaz nos volumes ofertados para rolagem, pois o ambiente atual sugere que esteja sendo excessivo e contributivo para a apreciação do real, contrariando o propósito do próprio governo e tornando insegura a realização de negócios com o mercado externo por parte das empresas.
Ontem foi um dia com evidências claras de que a especulação pode sucumbir ante os fatos concretos e mais ainda se o BC ajustar a calibragem das rolagens dos contratos de swaps cambiais vincendos.
O Brasil registrou um decepcionante superávit primário de R$ 1,4 Bi em março, o mais baixo para este mês desde março de 2013, e acendeu uma luz vermelha nas perspectivas de alcançar o ambicionado 1,2% projetado pela equipe econômica no ano. Anteriormente havia obtido um aumento de receitas de tão somente 0,5% também fora do ponto contra um crescimento da DP de 4,6%.
Os espaços para “sangrar” mais a economia estão ficando estreitos e a atividade econômica não dá sinais de efetiva retomada.
O IGP-M acelerou em abril ao registrar 1,17% após 0,98% em março, deixando evidente que a inflação continua aquecida e este indicador impacta em itens importantes.
Enquanto isto se divulga que a economia americana ficou estagnada no 1º trimestre, devido ao inverno rigoroso e aos preços da energia, com o PIB crescendo tão somente 0,2% após ter registrado 2,2% no 4º trimestre de 2014.
O FED salientando o crescimento mais fraco da economia e do mercado de trabalho manteve a taxa de juro e deixou indicativos consistentes de que a alta do juro pode ser protelada até mesmo para o ano que vem.
A rigor, este cenário americano seria indutor de apreciação do real, mas o que se verifica é o real em depreciação e o index do dólar em queda, como se fosse um paradoxo, mas no caso deixando evidente que ocorre uma tendência de acerto das incoerências recentes causadas pela especulação no nosso mercado de câmbio.
No nosso ponto de vista a partir do mês de maio as realidades serão retomadas e o preço da moeda americana no nosso mercado buscará o seu preço de equilíbrio entre R$ 3,05 e R$ 3,10, compatível e necessária para o “status quo” da economia brasileira que ainda tem suas expectativas eivadas de incertezas.