A intensidade de números ruins da economia brasileira continua ininterrupta e as perspectivas sugerem que ainda devem piorar muito antes dos primeiros sinais de melhora, por isso a costumeira postura de focar problemas na Grécia, na China, nos Estados Unidos, etc. se fragiliza tendo em vista que o tempo por sí só desmente esta tese e deixa evidente que o Brasil é efetivamente vitima de si próprio e seus desmandos, que agora requisitam tratamento de choque para o qual a economia fortemente deteriorada não reúne condições de responder às expectativas de um ajuste mais rigoroso.
Há muitas irrealidades que são colocadas em perspectivas mais com o intuito de criar lampejos de otimismo, mas que focados com acurácia deixam evidente que são mais anseios do que realidades possíveis.
A projeção para inflação em 2015 tem merecido constantes elevações, mas mesmo assim é bem possível que ainda estejam abaixo do potencial presente de alavancagem. O Boletim FOCUS tanto quanto o BC a estão projetando em 9,0%, porém os indicadores que vão sendo apurados sugerem que irá além, muito provavelmente mais próxima de 10%, e ambos cometem a ousadia de projetar entre 4,5% a 5,5% a inflação para 2016.
Evidentemente que com a atividade econômica em recessão ocorre um fator adicional de retração das pressões inflacionárias, as quais se junta a política monetária com pesada taxa de juro que encare e retrai a demanda, afora o aspecto seletivo do crédito.
Mas, será quase impossível numa economia que voltou a tomar gosto pelos reajustes repassados imediatamente aos preços, algo retomado de uma memória ainda não eliminada, promover uma desinflação da ordem de 4,5% nos níveis atuais que ainda não é definitivo. É muito, praticamente impossível de convergir nesta intensidade, mas posta nas conversas serve para criar uma esperança, algum otimismo, mas certamente será objeto de justificativas contumazes e frequentes quando não consumada.
Por outro lado, inflação pesada, juros elevados e crédito seletivo, além do desemprego em ascensão inevitável doravante e a retração decorrente do receio de perda do emprego, irão contrair cada vez mais o consumo e assim levar a arrecadação do governo, como já está ocorrendo, a um viés de queda consistente, colocando o país em amplo risco de perda do grau de investimento, o que seria extremamente caótico no quadro presente.
Os fluxos de capitais financeiros, após recuperação em abril, já revelam tendência de saída do país, o que pode se tornar mais intenso na medida em que a economia avance em sua deterioração.
O BC mantém ainda US$ 110,0 Bi em contratos de “swaps cambiais” que se prestam na grande maioria a “hedge” por parte dos bancos e são registrados na BM&F e um volume ainda considerável de contratos a termo de moedas registradas na CETIP (SA:CTIP3) em grande parte por empresas importadoras e exportadoras.
O fluxo cambial financeiro vem demonstrando queda desde maio, praticamente devolvendo o que ingressou em abril, e desta forma diminui naturalmente a demanda por contratos de swaps cambiais, o que tem permitido que o BC venha reduzindo a oferta de rolagem, as vezes ainda transparecendo excessiva e que acaba por permitir movimentos de volatilidade orquestradas a partir do mercado futuro de dólar com a intensidade de até 2,0% permitindo ganhos em especial aos bancos, de vez que a manutenção de posições compradas especulativas na expectativa de alta do preço da moeda americana sofrem o impacto da taxa SELIC elevada.
Por outro lado, o país está exportando menos pela perda de preço das commodities e baixa competitividade dos manufaturados e importando menos face à perda de atividade econômica, o “hedge” através contratos a termo na CETIP também estão sofrendo diminuição.
Contudo, devemos considerar que este ainda não é um cenário definitivo que permita que se alardeie de forma inconsequente que o BC poderia reduzir a oferta de contratos de “swaps cambiais”, como se fosse algo a bel prazer.
Na medida em que o cenário da economia brasileira piorar e fatores externos como a elevação do juro americano vierem a ocorrer, além do risco presente de perda do grau de investimento pelo país, poderá ocorrer a intensificação da saída dos recursos externos que estão aqui investidos e ocorrer forte retração no direcionamento de recursos para o Brasil.
Cenário deste tipo, em tese, reduzirão a demanda por hedge, mas em contraposição poderão levar as empresas estrangeiras a demandar “hedge” para os ativos fixos que detém no Brasil e esta atitude pode impulsionar a demanda.
É importante atentar que a despeito do juro ofertado pelo Brasil ser expressivo e atraente, a perda do grau de investimento tornará obrigatório que determinados fundos retirem os recursos do país.
Há, portanto, riscos possíveis em perspectiva não desprezíveis e para os quais o país deve estar atento, até porque as causas decorrem do próprio Brasil, o que acontecer será mera consequência.
O Brasil não está atraente aos investimentos atualmente, mesmo o plano de concessões na infraestrutura parece, exceto ao interesse pontual da China, ter causado baixo interesse no exterior. Tem um movimento na Bovespa e no câmbio com acentuada presença de operações de daytrade . Há poucos ou nenhum papéis de relevante interesse na Bovespa e no câmbio o movimento é cadente, assim como as captações externas.
As perspectivas são efetivamente de tendência a um fluxo cambial negativo no ano de 2015.
O Boletim FOCUS, divulgado hoje com data de 26 de junho, eleva o IPCA-2015 de 8,97% para 9%, o que nos parece ainda atrás da curva, consideramos bastante provável a aproximação em 10%. Acreditamos que está mal focado quando projeta o IPCA-16 em 5,50%, visto que não acreditamos que seja possível uma desinflação de 4,50% num único ano. Mantém o preço do dólar ao final do ano em R$ 3,20, projeção que realizamos em dezembro-2014, mas dado o agravamento do quadro econômico brasileiro acreditamos que já possa ser elevado a R$ 3,30 ou pouco mais. Elevou a projeção da SELIC-2015 de 14,25% para 14,50% o que está em linha com a costumeira atitude do BC e que impactará aumentando as dificuldades para o alcance do superávit primário de 1,2%, já considerado inviável. Revê a queda do PIB de -1,45% para -1,49%, o que parece pouco, já que a FGV já colocou a projeção de 1,8% e é bastante provável que se aproxime de 2%, a partir da visão deixada pelo IBC-Br do BC. A produção industrial teve revista a sua retração de -3,65% para -4,00% o que é factível e vem se evidenciando na queda da arrecadação do governo como um dos fatores de peso. A balança comercial foi revista de US$ 3,1 para US$ 4,0 Bi, não nos parecendo viável, salvo se se acentuar a queda nas importações em razão da perda continua da atividade econômica.
DESTA FORMA, CONSIDERAMOS QUE CADA VEZ MAIS, TODA ATENÇÃO ESTEJA FOCADA NO BRASIL, CAUSA MAIOR DE TODAS SUAS MAZELAS ATUAIS, POIS AQUI É QUE ESTÃO OS MOTIVOS E RAZÕES EFETIVAS DA DETERIORAÇÃO ECONÔMICA DO PAÍS, O RESTANTE QUE ESTÁ VINDO OU POR VIR É MERAMENTE CONSEQUÊNCIA E GRÉCIA, ESTADOS UNIDOS, CHINA OU QUEM QUER QUE SEJA NÃO TEM CULPA!