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Câmbio: O que Ocorre Efetivamente: “Daytrade” ou Fluxo Cambial Positivo?

Publicado 15.06.2015, 16:38
USD/BRL
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O mercado de câmbio tem imposto à taxa cambial da moeda americana um movimento praticamente sistêmico de variação diária que sugere que esteja ocorrendo movimentos especulativos com a realização de operações de “daytrade”, já que por vezes atinge percentuais significativos que não encontram fundamentos no fato de melhora de fluxo cambial.

Na realidade, ao se verificar tardiamente os dados de fluxos cambiais divulgados pelo Banco Central do Brasil às quartas feiras, não são identificáveis ocorrências de intensificações de fluxos cambiais, que a bem da verdade teve em maio saldo negativo e não revelou-se otimista no principio do mês de junho.

Com a previsibilidade posta em prática pelo Banco Central do Brasil na realização das ofertas de contratos de “swaps cambiais” esta ação maléfica ao comportamento do mercado ganha mais espaço para ocorrer, visto que a autoridade monetária, que informara que monitoria o mercado e faria a oferta de rolagem em linha com a demanda presente, mas que na pratica a realiza de forma rotineira com valores idênticos cotidianamente, em tese, pouco mudou da sistemática antiga do programa de oferta de contratos de “swaps cambiais”. Acreditamos que o fato de fazer a oferta de forma linear e de um montante total dado a conhecer estimule a volatilidade nos momentos que excede ou que comprime a oferta em relação à demanda presente e é neste vácuo que os especuladores se aproveitam para realizar as operações de “daytrade”.

É muito prematuro falar-se em fluxo cambial derrubando a taxa cambial, visto que os bancos ainda mantêm posições vendidas que se prestam a financiar a liquidez do mercado à vista, e o país detém um volume extraordinário de déficit em transações correntes que não conseguirá ser financiado, mais uma vez, pelos ingressos líquidos de recursos externos.

Por outro lado, a redução da oferta de contratos de “swaps cambiais” não tem decorrido da melhora de fluxo, mas provavelmente pelo fato de que recursos externos que estavam presentes no nosso mercado financeiro intensificam sua saída do país, como aconteceu em maio com um fluxo negativo financeiro de US$ 5,5 Bi, e assim a demanda por “hedge” cai e este movimento pode levar ao crescimento do saldo liquido do fluxo cambial.

Há, contudo, outros fatores de sustentabilidade do preço da moeda americana com viés de alta.

O ajuste fiscal que vem sendo definido está causando um efeito do “cachorro correndo atrás do rabo”, ou seja, quanto mais tributa e promove ajustes nos preços administrados mais a economia aprofunda o seu quadro de recessão e assim perde condição contributiva.

Aliás, desde o inicio do ajuste fiscal vimos ressaltando que as medidas poderiam superar os empecilhos de natureza política, mas certamente encontrariam a economia absolutamente incapaz de responder aos objetivos arrecadatórios do governo.

Na realidade, replicando o que já dissemos, “o remédio está se transformando em veneno” e quanto mais o governo desejar tributar, mas contribuirá para o agravamento do quadro econômico, que ainda deve piorar muito ao acentuar o desemprego, queda de renda e consumo, etc.

Existem, portanto, inúmeros fatores contrários aos anseios do governo de obter o superávit primário de 1,2%.

Com a economia em recessão o país se faz pouco atraente aos investidores estrangeiros, até mesmo aos especuladores, pois no contexto ocorre também uma expressiva inflação e a volatilidade no preço da moeda americana é um fator de contração aos que trazem recursos ao país somente para rentabilizá-los, visto que o risco cambial fica elevado e impacta no custo das operações de “hedge”.

Urge que o BC seja mais efetivo no monitoramento da demanda dia a dia de rolagem de contratos de swaps cambiais, pois ao estabelecer a meta mensal não capta movimentos que ocorrem ao longo do mês que podem contrariar o volume definido.

A volatilidade pode, inclusive, ser um fator de desestimulo aos investidores interessados em participar do programa de concessões, assim como a indisponibilidade de hedge de longo prazo no nosso mercado ou seu encarecimento desestimulante.

O Boletim FOCUS divulgado hoje pelo BC, fechado em 12, eleva a projeção do IPCA para os próximos 12 meses de 5,95% para 6,10% e para o final deste ano de 8,46% para 8,79%. Esta projeção ainda nos parece atrás da curva.

A taxa cambial foi mantida em R$ 3,20, que tem sido a nossa projeção desde o final do ano passado, mas atualmente já há risco sobre a sustentabilidade deste preço ao final de 2015.

A taxa SELIC foi mantida em 14%, mas já há uma grande parte do mercado apostando em torno de 15%. Em nossa opinião, o BC deveria ser mais cauteloso nas eventuais próximas altas, visto que a recessão por sua intensificação pode quebrar a inércia da inflação e fazê-la retroagir de forma mais eficaz que o juro, que acaba por onerar o Tesouro num momento em que encontra dificuldades para atingir o superávit primário.

O PIB 2015 foi mais uma vez rebaixado de 1,30% para 1,35%, mas certamente pelo que se observa no comportamento da economia não é improvável que atinja 1,50%.

Com este contexto controverso o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vem se mostrando preocupado com a possibilidade do alcance do superávit fiscal estar a risco.

Este fato é também relevante para o câmbio, visto que repõe na mesa a possibilidade de perda do grau de investimento pelo país, o que seria extremamente drástico.

O comportamento oscilante dos dados econômicos norte americanos também suscita sempre o questionamento sobre a mudança da taxa de juro nos Estados Unidos, o que é outro fator que impacta no preço do dólar no nosso mercado, já que a moeda nacional, o real, é atualmente uma das mais vulneráveis do mundo.

Não há efetivamente razões fundamentadas que possam dar sustentabilidade à queda do preço da moeda americana no nosso mercado, que a rigor deveria manter um viés aquecido de alta, monitorada pelo BC através a oferta de hedge no mercado futuro para evitar exacerbações.

Por isso, a volatilidade que se observa nas últimas semanas na formação da taxa cambial, até com percentuais bastante substantivos, tem mais sinais de movimentos orquestrados por operações de “daytrade” do que de impacto de fluxo cambial.

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