Câmbio: Na Prática a Teoria é Outra. O BC Não Enuncia Seus Objetivos

Publicado 14.08.2014, 07:03
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Há certas obviedades em questionamentos que são recorrentes e resultam sempre nas mesmas posturas por parte dos entrevistados, pelo simples fato de não ser pertinente que deem a resposta esperada por dever de oficio.

Perguntar ao dirigente do BC se a autoridade monetária utiliza o preço da moeda americana induzida à apreciação focando a contenção das pressões inflacionárias, mesmo sendo uma verdade irrefutável, não poderá ter uma resposta afirmativa, já que envolveria não só o reconhecimento tácito da situação, mas provocaria repercussões que se irradiariam por todos os segmentos do mercado financeiro e até mesmo pela economia.

Na mesma linha perguntar se há limite para oferta de “hedge cambial” é inócuo, pois se afirmar que há, impactará fortemente provocando a apreciação do preço da moeda americana, embora a autoridade saiba qual é a sua capacidade técnica de geração de oferta de contratos de “swaps cambiais”.

Afirmar que não há falta de liquidez no mercado à vista é um erro crasso, basta observar o montante de posições vendidas que vem sendo carregadas pelos bancos como consequência efetiva de fluxo cambial faltante, ou seja, negativo. No momento mais crítico o BC foi o gerador de linhas de financiamentos para dar lastro e sustentabilidade ao montante de posições vendidas.

Esta era uma estratégia que deixava muito transparente o fato que a autoridade monetária estava se valendo dos bancos para evitar a venda direta de dólares ao mercado à vista, que assim passaram a ser os geradores de liquidez de forma direta ao mercado à vista, ancorados na geração indireta realizada pelo BC.

Para mitigar este quadro de comprometimento efetivo, porém de certa forma disfarçado, das reservas cambiais, os bancos com a melhora do cenário externo passaram a buscar as linhas de financiamentos dos seus posicionamentos vendidos junto a bancos estrangeiros. A não tomada de linhas de financiamentos do BC não decorreu de falta de demanda, mas sim fez parte da estratégia de reduzir a visibilidade do peso do BC utilizando os bancos para gerar liquidez ao mercado de câmbio à vista.

A posição de linhas de financiamentos do BC aos bancos, neste momento, está “zerada” e os bancos estão com “posições vendidas”, data base 8 de agosto, em US$ 12,049 Bi.

Mas de toda forma a falta de liquidez autogerada pelos fluxos do mercado à vista continua prevalecendo e está sendo financiada por linhas externas, quando na realidade num ambiente amplamente negativo em suas perspectivas de fluxos cambiais positivos para o país, deveria estar sendo zerada diretamente pelo BC com leilões de venda ao mercado à vista.

Num ambiente que não sugere que o mercado venha a recuperar fluxos cambiais satisfatórios no curto prazo, esta estratégia pode acarretar desconfortos aos bancos, pois lhes impõe um crescente endividamento de curto prazo.

O crescimento concomitante do volume de contratos de “swaps cambiais” com a evolução das posições vendidas dos bancos merece especial atenção da autoridade monetária, visto que pode fomentar movimentos especulativos, já que evidencia substantiva necessidade da autoridade monetária em “segurar” o preço da moeda americana e carência efetiva de fluxos cambiais positivos.

Sabidamente a diferença entre o remédio e o veneno é uma questão da dosagem. A rigor o BC só consegue colocar tamanho volume de “swaps cambiais”, que são instrumentos financeiros liquidáveis por diferença em reais, pela ancoragem que lhes presta o lastro existente de reservas cambiais, das quais já representam próximo de 25%.

Como mencionamos a posição vendida dos bancos acumula até o dia 8 o montante de US$ 12,049 Bi, equivalente a algo em torno de 3% das reservas cambiais brasileiras. O fluxo do mês até aquela data acumula US$. 1,238 Bi, divulgado hoje pelo BC, aponta positivo comercial de US$ 564,0 M e positivo no financeiro de US$ 674,0 M. No ano tem positivo comercial US$ 5,071 Bi, que foi recuperado face a intempestivo volume de US$ 5,2 Bi nos últimos 4 dias de julho provavelmente de petróleo e plataforma, que a rigor não saiu do país.

Não há expectativa favorável para um saldo de balança comercial muito acima de zerado, e, consequentemente não há como se ter expectativa otimista em relação ao fluxo comercial, salvo se ocorrer novos eventos pontuais. Contudo, o foco maior de preocupação é a tendência consistente de crescimento do fluxo cambial negativo financeiro, consequente do incremento de saídas de capitais estrangeiros do país e retração dos ingressos até de capitais produtivos, ou seja, aqueles direcionados a conta capital.

Temos sistemática e frequentemente abordado este presumível movimentos do fluxo cambial e os fundamentados com as nossas perspectivas, que permanecem incólumes.

Continuamos vislumbrando a ocorrência de volatilidade no mercado de câmbio à vista, com o fluxo cambial acentuando-se negativo e o preço da moeda americana com viés de alta, e não descartamos que na medida em que o BC acentue a oferta de contratos de “swaps cambiais” com evolução concomitante das posições vendidas dos bancos, possam ocorrer movimentos especulativos que exigirão rígido controle por parte da autoridade monetária.

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