Câmbio: Então a Culpa é da Ucrânia/Rússia ou do Próprio Brasil?

Publicado 11.08.2014, 07:20
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Estaria a questão Ucrânia versus Rússia impactando mais no Brasil do que nos outros países? Certamente não, por isso esta tese utilizada como “pano de fundo” para justificar a alta do Índice Dólar no nosso mercado não se sustenta, visto que não faz o menor senso.

O real sofre depreciação frente à moeda americana num comportamento bastante assimétrico em relação às demais moedas latinas emergentes de maior destaque.

O contraditório a todos os argumentos buscando razões e justificativas está nos números da economia brasileira e nos conceituais emitidos pelo mercado financeiro global, ou seja, como nos vêm do exterior.

Há razões originárias do próprio Brasil para justificar a pressão sobre o preço da moeda americana e de forma intensa neste segundo semestre, dada à conjunção de inúmeros fatores num curto período de tempo.

E no nosso modo de ver não há impactos da questão eleitoral sobre este quadro que deve se acentuar ao longo deste segundo semestre, visto que é uma situação “instalada” no país e que demandará tempo para ser revertida, seja este ou aquele candidato vencedor na disputa Presidencial.

O país precisa de um grande choque e isto implica em medidas com maturação de resultados ao longo de no mínimo um ou dois anos, e o problema que afeta o mercado de câmbio deve se acentuar no curtíssimo prazo.

O “status quo” brasileiro é a causa e não susceptível de mudança no curto prazo, por isso se constitui num grande desafio ao BC e ao próprio governo.

O país tem inflação no limite alto da meta nos últimos 12 meses, embora haja uma expressiva inflação comprimida em preços administrados que precisarão ser recompostos. Juros altos, câmbio com formação distorcida pró-contenção de mais pressão inflacionária e política fiscal novamente em trajetória de deterioração.

Tem hoje conceitos de risco de crédito piores que os principais países latinos, assim como “ratings” de notas de crédito, fluxos cambiais negativos com propensão a crescimento nesta linha, liquidez no mercado à vista de câmbio sendo gerada por bancos com posições vendidas que vem variando entre US$ 15,0 Bi a US$ 20,0 Bi e que, salvo se o BC assumir a geração da liquidez, devem avançar para números mais robustos, que representam endividamento de curto prazo e podem se tornar desconfortantes.

O quadro cambial já poderia ter se configurado complexo desde ao inicio do ano com ampliação dos fluxos negativos já advindos de 2013. Contudo, o FED americano, ao proporcionar revisão de expectativa para a ocorrência de mudanças na política monetária americana, abriu um espaço de tempo para que fossem estruturadas operações de “carry trade” gerando capital especulativo que se direcionou para o mercado brasileiro, que proporcionava juros elevados e tinha a Bovespa com preços deprimidos.

Mas mesmo com este movimento financeiro de ingressos o Brasil não conseguiu zerar os US$ 18,1 Bi de fluxo negativo líquido que foram migrados de 2013 e suportados por posições vendidas dos bancos. Ingressaram no país neste ano pelo segmento financeiro até o dia 1º de agosto US$ 293,984 Bi e o fluxo, neste segmento, está negativo em US$ 1,943 Bi, e a grande massa de capitais especulativos ainda não foi revertida, o que deve ocorrer neste 2º semestre, presumivelmente antes das eleições visto que este tipo de recurso procura se afastar de ambientes com incertezas.

Temos um fluxo comercial positivo de US$ 4,361 Bi oriundo em grande parte de “operações pontuais”, mas que não sugerem que se possa contar nem com este montante de contribuição ao final do ano.

Neste momento a visão prospectiva dentro do 2º semestre sugere reversão dos fluxos especulativos, mas, além disto, um eventual anuncio pelo FED de abreviação do prazo para implementar as mudanças na política monetária americana poderá implementar fluxo de saída adicional de capitais não rigorosamente especulativos atraídos pelo mercado financeiro americano.

Por outro lado, é razoável se esperar retração nos fluxos de ingressos por influência dos números atuais da economia brasileira sugerir atitude prudencial dos investidores em conta de capital, considerando-se que as captações de empréstimos por empresas brasileiras foram antecipadas em grande parte no 1º semestre, principalmente em ano eleitoral.

Doravante, a volatilidade deverá se intensificar e o preço da moeda americana acentuar a apreciação frente ao real.

Os contratos de “swaps cambiais” perdem parte da eficácia no monitoramento do preço da moeda americana quando a demanda se transfere do mercado futuro (proteção) para o mercado à vista (disponibilização de moeda efetiva), pois é neste que ganha destaque a falta de fluxo cambial para que o mercado autogere a liquidez.

A questão que temos posto permanece: quem vai gerar a liquidez? Bancos com aumento de posições vendidas ou o BC com leilões de venda de divisas das reservas cambiais.

Todas duas opções acarretam desconforto. Para os bancos, embora ganhando com arbitragens, ocorreria a elevação do endividamento de curto prazo provavelmente atingindo montante desconfortante, em especial num ambiente de fluxos adversos com projeção mais duradoura. Para o BC não seria conveniente utilizar as reservas cambiais, pois seria uma evidência de fragilidade do país, muito mencionada pelos analistas internacionais, e que poderia suscitar até algum movimento especulativo sobre o real.

Como temos salientado, o câmbio/setor externo tende a ser o grande desafio para a política monetária do governo até ao final do ano, podendo até a vir a exigir elevação na taxa SELIC.

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