No Brasil, o clima político continua o mais azedo possível. Para piorar, esta terça-feira foi dia de “correção” nos mercados globais.
Resultado, o real acabou como o pior desempenho dentre os emergentes, o Ibovespa recuou a 125 mil pontos e os juros futuros voltaram a incorporar “prêmios”, em considerável inclinação da curva. E o pior é que quarta-feira também não deve muito diferir até porque teremos a ata do FOMC e algo deve ser dito sobre o processo de tapering.
Ontem, o dólar disparou 2,39%, a R$ 5,2092, na maior alta percentual desde 24 de março e maior cotação desde 31 de maio e o Ibovespa cedeu 1,44%, a 125.094 pontos, no menor nível desde 27 de maio, com a Petrobras (SA:PETR4) perdendo entre 3% e 4%. Na semana, o índice paulistano recua 1,98%, elevando as perdas no mês a 1,35% e limitando os ganhos no ano, a 5,11%. Já no mercado de juros futuros as cotações dispararam mais de dez pontos em alguns vencimentos, o que levou a inclinação entre os contratos de janeiro de 2022 e de 2027 a flertar com os 300 pontos bases. Em NY, o único índice no azul foi a Nasdaq (+0,17%), puxado pela Amazon (NASDAQ:AMZN), a disputar um grande contrato de computação na nuvem com o Pentágono, depois do acordo da Departamento da Defesa com a Microsoft (NASDAQ:MSFT) ter sido cancelado.
No “derretimento” do real, dados mais fracos nos EUA e na Europa, CRISE POLÍTICA doméstica, mergulho do petróleo, diante do impasse nas negociações do OPEP+, levaram os investidores ao flight to quality, à uma aversão generalizada ao risco, correndo para o dólar e os treasuries americanos, cujas taxas desabaram, diante da proximidade da ata do FOMC. No mês, no Brasil o dólar valoriza 4,75%, e no exterior, o índice DXI, que mede o dólar frente à seis moedas fortes, registra alta firme, a 92,5 pontos.
Em parte, a justificar, a fraqueza de alguns indicadores externos, como o PMI de Serviços dos EUA, tendo passado de 64 pontos em maio a 60,1 em junho. Na Alemanha, o índice de expectativas econômicas recuou de 79,8 pontos para 63,3 entre junho e julho. Há uma leitura no mercado de que a retomada da economia global, puxada pelos EUA, não deve acontecer no ritmo que antes se esperava.
Na seara política o clima só piora diante das acusações contra o presidente na compra de vacinas, a começar pela Covaxin indiana, na qual o deputado Ricardo Barros resolveu exorbitar, “superfaturando” numa compra e o presidente “lavando as mãos”. Soma-se a isso, o mal estar com a proposta de reforma tributária e os receios de uma “guinada populista” do presidente, diante da perda de apoio e popularidade. Para tornar tudo ainda mais turvo, os caminhoneiros ameaçam uma greve (dia 25), depois do reajuste de combustíveis pela Petrobras.
Diante de tudo isso, a agenda de reformas pode acabar “de lado”, encontrando obstáculos no Congresso. Até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já deixou no ar que a CPI da COVID deve ser prorrogada. Como dito, o receio é de que o presidente Bolsonaro opte por uma “guinada mais populista”, diante do derretimento da sua popularidade. Um sinal foi a extensão do auxílio emergencial por mais três meses, além do Bolsa Família, em estudo para ser reformulado. O presidente é alvo também de um super-pedido de impeachment, e sofre acusações de receber parte dos vencimentos dos assessores, quando era deputado federal, nas de sempre chamadas “rachadinhas”.
Nesta quarta-feira, o governo deve enviar ao Congresso o projeto para a privatização dos Correios. Vamos ver o que os congressistas devem decidir desta empresa, absolutamente, um “mico”, dadas as transformações na sociedade de informação. Hoje tudo é realizado por e-mails, ficando as empresas de correio apenas com as transações e-commerce, com as encomendas de produtos comprados e vendidos. Além disso, esta iniciativa parece-nos mais um indicativo do empenho de Artur Lira pela agenda de reformas.
Interessante observar os caminhos de ambos os chefes do legislativo. Artur Lira, da Câmara, certo ou não, muito mais empenhado pelas reformas, Rodrigo Pacheco, do Senado, ao que parece, tentando compor com alguém, num sinal de alguma ambição política para 2022. O fato é que os dois mostram ter ambições diferentes. Estejamos atentos também à reação do Congresso à proposta, “vazada” pelo ministério da Economia, Paulo Guedes, de cortar subsídios nos setores de bebidas e petroquímicos, sobretudo, para ampliar a redução do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica. Há chances de que o movimento cause mais ruídos do que soluções, apesar de se enquadrar em cobranças históricas do mercado.
Na agenda de indicadores, atenção para o IGP-DI e as vendas de varejo de maio no Brasil, e nos EUA a ata do FOMC e o relatório de emprego JOLT, mostrando a mesma tendência dos dados do mercado de trabalho da última semana, contudo reiterando as contratações abaixo do seu potencial. Acreditamos que estes dados macro e a Ata do FOMC podem ter mais impacto sobre a curva curta do que sobre a longa nos próximos meses, reflexo da incorporação das estimativas nas decisões de política monetária.
A expectativa é de que o que for dito pela ata, deve influenciar na liquidez global das próximas semanas, assim como pela sinalização dos próximos passos do Fed no processo de tapering. Muitos acham que a geração de empregos, payroll, 880 mil na semana passada, deve servir de “start” para a definição da data de início deste processo de “redução na compra de ativos”.
No mundo árabe, depois de alguns dias de reuniões, segue o impasse nas negociações da OPEP+. As expectativas apontam para um acordo de aumento da produção em cerca de 400 mil barris por dia de agosto a dezembro. Mas quando os países do bloco devem chegar a um consenso?
Na China, nesta quinta-feira serão divulgados os índices de inflação, IPC e o PPI. A inflação ao consumidor deve apresentar uma alta na margem, sinalizando um consumo ainda enfraquecido, e o IPP deve seguir a mesma tendência.
Vamos conversando.
Bons negócios.