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Crise na Ucrânia Impulsiona Gás Natural e Todas as Outras Commodities Energéticas

Publicado 03.03.2022, 12:51

Os mercados de petróleo e gás estão subindo em paralelo com a intensificação das tensões geradas pela guerra na Ucrânia e com a série de sanções aplicadas à Rússia. O resultado é que o mercado de energia está registrando sua maior valorização em uma década.

Os preços do barril de petróleo atingiram as máximas de dez anos e meio, acima de US$112, na quarta-feira, depois que a Rússia conquistou a cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, e bombardeou a parte leste de Kharkiv. Os preços do gás na bolsa TTF da Holanda dispararam acima de US$60, pico que não era visto desde dezembro de 2021.

Petróleo diário

No centro de distribuição de Henry, em Nova York, o contrato do gás natural com entrega para abril saltou 4%, para US$4,891 por unidade térmica, caminhando para a terceira semana seguida de ganhos, o que pode gerar um ganho acumulado de 24% no contrato desde a semana de 7 de fevereiro.

Gás natural diário

“No momento, os preços das diferentes commodities energéticas estão profundamente correlacionados, e cada mercado tenta precificar o risco associado à crise na Ucrânia e os efeitos adversos de um choque na oferta global”, declarou Dan Myers, analista da consultoria de mercados de gás Gelber & Associates, sediada em Houston, em uma mensagem de e-mail enviada aos clientes na quarta-feira.

Myers observou que, desde que eclodiu a guerra na Ucrânia, os preços no centro de Henry se valorizaram 17 centavos, com os contratos mais próximos registrando as maiores oscilações.

Com isso, a curva a termo no centro de Henry até 2024 registrou “backwardation”, ainda que não na extensão observada na curva a termo do petróleo West Texas Intermediate, que serve de referência nos EUA, escreveu Myers.

Seus comentários ocorreram antes da atualização dos estoques semanais de gás natural na quinta-feira pela EIA, agência americana de informações energéticas.

Estoques de gás natural nos EUA

Fonte: Gelber & Associates

Os analistas rastreados pelo Investing.com esperam uma queda de 138 bilhões de pés cúbicos (bpc) para a semana encerrada em 25 de fevereiro, em comparação com a retirada de 132 bpc durante a mesma semana do ano passado e a média de retirada de cinco anos (2017-2021) de 98 bpc.

Essa seria a oitava semana seguida em que a queima de gás pelos serviços de utilidade pública excede 100 bpc, com quatro dessas semanas registrando retiradas superiores a 200 bpc.

Na semana anterior, até 18 de fevereiro, os serviços de utilidade pública dos EUA retiraram 129 bpc de gás dos estoques.

Se a previsão dos analistas estiver correta, a retirada durante a semana encerrada em 25 de fevereiro reduziria os estoques para 1,644 trilhão de pés cúbicos (tpc), cerca de 13,4% abaixo da média de cinco anos e 11,6% abaixo da mesma semana do ano passado.

“A robusta demanda impulsionada pelo clima pode estar por trás dessa grande retirada”, declarou Myers em seu email.

Houve 183 graus-dia de aquecimento na semana, em comparação do um normal de 30 anos de 165 graus-dia de aquecimento para o período, segundo dados da Refinitiv .

O método graus-dia de aquecimento mede o número de graus que a temperatura média de um dia fica abaixo ou acima de 18º C.

Myers disse ainda que “um exame do mercado sem os efeitos climáticos revela que o cenário doméstico está atualmente se enfraquecendo a cada semana em relação ao seu estado extremamente subabastecido”.

Além da atualização dos estoques de gás na quinta-feira, tudo indica que as próximas retiradas de gás para calefação podem ser menores, ressaltou Myers.

Apesar disso, “as previsões de inverno mais fraco foram, em grande medida, deixadas de lado, já que os distúrbios internacionais estão criando longas e duradouras sombras sobre o resto dos mercados de commodities, limitando os impactos das mudanças simples do dia a dia doméstico que anteriormente dominavam os mercados há algumas semanas”, concluiu.

Kaushal Ramesh, analista sênior da Rystad Energy, tem visão similar.

Por causa da guerra russo-ucraniana, podemos ver uma “mudança total” da demanda para exportações americanas de gás natural liquefeito, destacou Ramesh em comentários feitos ao portal naturalgasintel.com.

“Como a Europa já tinha pouca oferta neste inverno, a redução das entregas de gás da Rússia ampliariam a necessidade do continente de ofertas dos EUA", afirmou.

Bespoke Weather Services concordou com Ramesh e Myers, notando que a probabilidade de maior demanda por GNL dos EUA poderia ofuscar a modesta demanda doméstica gerada pelo clima.

“Por enquanto, a previsão é que o clima quente predomine nas próximas semanas, inclinando as projeções de 15 dias levemente para o lado abaixo do normal" de graus-dia ponderados de gás, disse a Bespoke em comentários também veiculados pelo naturalgasintel.com.

“O principal vetor da ação de preços em todos os mercados continua sendo a situação na Ucrânia”, destacou.

“O mercado está sendo mais influenciado por notícias do que pelos dados” e “isso deve continuar acontecendo no futuro próximo”.

Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.

 

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