Crise EUA-China, Dólar e Juros na Pauta Criam Cenário de Aversão ao Risco

Publicado 12.08.2019, 11:00
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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O complexo embate comercial sino-americano já irradiava efeitos nefastos em todo cenário econômico mundial, que, como consequência, perdeu parte do dinamismo e passou a cultivar incertezas de forte impacto e PIB mundial decrescente.

Contudo, a inclusão nesta disputa de segmentos ultra influentes na formação de preços concorrenciais no comércio internacional como os fundamentais CÂMBIO e JUROS acarretam um novo fator mais relevante de maior impacto ainda, ou seja, a INSEGURANÇA.

A INSEGURANÇA não permite que o mercado global repercuta tão somente com a diminuição de fluxos comerciais, ou seja, com atividade econômica como tem sido observada, mas agrega mudança de postura que passa a ser severamente defensiva, pois a mudança do câmbio, em especial por parte da China, que é definida pelo governo e não pelo mercado (hoje 7,0211/US$), e os juros, como fator de influência direta na formação do câmbio, alteram a competitividade concorrencial afetando sua simetria e desorganizando preços relativos.

A insegurança impõe comportamento defensivo e carreiam para os ativos de proteção, em especial o dólar, o iene e o ouro, os recursos do mercado financeiro global e criam rigorosa aversão a riscos, que implica em reflexos diretos e imediatos nas economias mais frágeis, com grande repercussão negativa nos mercados emergentes, como o Brasil.

Os fundamentos prevalecentes até recentemente e as expectativas que fomentavam as projeções passam por revisão imediata, e, no caso dos países emergentes, são alteradas para o campo negativo com intensa rapidez.

E os efeitos no Brasil são perceptíveis e, no nosso entendimento, é ilusório imaginar-se que as mudanças são simples espasmos e que tudo voltará a ser como antes num curto espaço de tempo.

A aversão a riscos, independentemente de o Brasil deter neste momento excelente CDS, se evidencia de forma contundente, reduz fortemente às expectativas de fluxos de investimentos, que já não eram intensos dada a inércia da atividade econômica brasileira (IBC-BR 2ºT -0,13), e sugere que se proceda a revisões de algumas projeções, seja para recursos estrangeiros direcionados para a conta capital, seja para o mercado financeiro, tanto para renda fixa quanto para renda variável.

Nossa projeção para o preço do dólar ao final do ano tem sido desde janeiro no entorno de R$ 3,75, por entendermos compatível para o país considerando que o câmbio está bem defendido por reservas cambiais substantivas e déficit em transações correntes equilibrado, mas o “novo contexto de fluxo cambial negativo” vem merecendo atenção e tende a afetar esta projeção, que agora pode ser agravado pela intensificação da ‘aversão ao risco” e alta do dólar no mercado global, independentemente mesmo de redução de juro pelo Fed, mas alavancada pela postura global de busca de segurança em detrimento da rentabilidade.

O acirramento da disputa entre China e Estados Unidos, que envolvia comércio e tributações e já prejudicava o cenário de atividade econômica global, passou a incluir claramente interferências diretas no câmbio, especialmente por parte da China que define diretamente o preço da sua moeda, ou indiretamente com a utilização do juro como fator de influência e, neste caso ambos, os países poderão usá-los com relativa desvantagem para os Estados Unidos, visto que o dólar por ser moeda reserva de valor poderá ter menor repercussão na sua valorização do que o iuan com a redução da taxa de juro, dentro do princípio de que a segurança prevalece a rentabilidade.

O fato é que o quadro global ficou muito mais complexo e inseguro e de duração absolutamente indefinida, pois uma vez presente a insegurança se tem perfeita noção de como e quando se inicia, mas não se tem qualquer projeção segura quando se dará o término.

Neste momento, pode-se até ousar que o ambiente interno do Brasil está melhor do que o ambiente externo, mas não há como afastar a realidade do país da sua absoluta incapacidade de restabelecer a tração da sua economia somente a partir das Reformas da Previdência, em processo conclusivo, e Tributária, em processo propositivo, visto que o governo não tem recursos e o setor privado não tem a determinação de fazê-lo sem vislumbrar condições efetivas de eliminar a capacidade ociosa presente e os estoques.

Nem mesmo com as medidas em andamento para melhora do ambiente negocial no país, com desburocratizações, pois precisa ser recuperado o ímpeto de investir por parte do empresariado, e este observa que há fragilidade no potencial de consumo, face à expressiva inadimplência presente e ao relevante percentual de desemprego.

O IBC-BR do 2º trimestre revelou-se negativo em 0,13, embora em junho ante maio tenha registrado positivo 0,30.

O juro SELIC baixo e já projetado pelo mercado financeiro, Boletim Focus, em 5% para o final do ano não parece motivar o setor produtivo ao investimento, e por outro lado, tem baixíssimo reflexo nos custos de financiamentos ao consumo que continuam estratosféricos.

Não podemos deixar de considerar que o estreitamento cada vez maior entre a taxa de juro interna e a taxa de juro americana, num ambiente de fluxo cambial negativo para o Brasil, tem grande impacto na formação do custo do cupom cambial, que pode representar pressão adicional da taxa de câmbio do mercado à vista.

O cenário externo coloca em risco se tornar duradouro as ambições e propósitos do Governo com um programa de desestatização da economia, ou seja, com as privatizações, visto que a postura defensiva global dos investidores poderá ser um fator contrário aos objetivos do Brasil, e esta é a “janela” efetiva para o país recompor sua capacidade para investimentos.

Enfim, a conjuntura nacional e global conspira contra os interesses imediatos do Brasil para a retomada da atividade econômica. Baixa propensão ao investimento interno pelo setor produtivo e quase nulo por parte do governo, enquanto que os investimentos externos devem sofrer contenção pela postura defensiva dos investidores e aversão ao risco.

Neste cenário incerto, complexo e de duração absolutamente incerta, o preço do dólar no nosso mercado repercutirá mantendo o viés de alta, embora o país não tenha qualquer risco de crise cambial, e as perspectivas para o desempenho da Bovespa não devem ser alvissareiros, enquanto o interesse externo pelo mercado de juro deverá praticamente nulo.

O Brasil neste contexto local e global está num “corner”, por isso tem sido fortalecida a possibilidade de utilização de parte das reservas cambiais, sabidamente excessivas, como recursos para o governo fazer os investimentos e motivar o setor produtivo aos investimentos, e no conjunto ocorrer geração de emprego e renda e, naturalmente, consumo.

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