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Crise bancária: Bitcoin é a própria antifragilidade, Taleb

Publicado 24.03.2023, 10:05
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Em 4 de janeiro, o renomado autor Nassim Taleb publicou uma entrevista com Laeticia Strauch-Bonart, intitulada "Bitcoin is the Detector of Imbeciles", na qual ele argumenta que o bitcoin não é capaz de desempenhar o papel de moeda ou de reserva de valor, motivo pelo qual, em suas palavras, "colapsará". Entendo a descrença. Para quem não destinou tempo suficiente para efetivamente estudar seus fundamentos, as fortes quedas como as de 58% do ano passado podem assustar, ainda que os retornos anuais entre 2011 e 2022 tenham sido os seguintes:


Fonte: Good Financial Cents

Mas o pilar central deste artigo não se estrutura em torno do preço de tela do BTC, e sim da tecnologia e ideologia por trás do ativo. Apesar de termos uma rede próspera de mineradores impulsionando progressivamente o hashrate e, consequentemente, a segurança econômica para cima, além de termos marcas importantes sendo batidas, como um milhão de endereços ativos e uma série de outras métricas on-chain, também não é deste ponto que queremos partir. O foco é que, graças ao Bitcoin, temos uma economia criptográfica emergente que não depende de confiança (“trustless”), é segura, opera ponto-a-ponto, é baseada em descentralização e é capaz de gerar escassez com sua política monetária.

É claro que o Bitcoin não é perfeito e há uma série de preocupações pertinentes sobre o futuro da rede que podemos abordar em outro momento. Mas, vamos combinar, essas preocupações são muito menos sólidas e mais contornáveis do que as do sistema financeiro tradicional, que só se sustenta com base na confiança dos usuários que, por sua vez, como bons espectadores, assistem ao teatro. Ou não é questionável que o mundo inteiro pare suas atividades para assistir o pronunciamento de um integrante de um órgão centralizado que ditará os rumos da economia, pautando o comportamento da sociedade?

Os recentes colapsos financeiros de instituições como SVB, Signature Bank, Silvergate, First Republic e Credit Suisse (SIX:CSGN), mais uma vez, destacaram a fragilidade dessa estrutura. Temos presenciado a destruição sistemática do setor por meio da degradação e da inflação geradas justamente por este sistema financeiro tradicional, por seus “bad actors” e suas péssimas decisões políticas. Se você se lembra de 2008, sabe que todos estes problemas não vêm de agora.

À época, os bancos, cujas imprudências deram causa à crise das hipotecas sub-prime, não foram punidos. Na verdade, enquanto milhares de famílias ficaram desabrigadas e sem ter onde morar como consequência dessa imprudência, o governo decidiu “resgatar” esses bancos com o dinheiro dos contribuintes, tendo grande parte desse capital sido destinado ao pagamento de bônus dos executivos. Justo?

Os sinais de falência do insustentável sistema já eram claros, mas não havia alternativa até a criação de Satoshi Nakamoto. Agora há. E Satoshi resolveu imortalizar a filosofia por trás do Bitcoin ao gravar a manchete do New York Times no primeiro bloco da rede para que nunca mais esqueçamos: “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks.”

Political statement by Satoshi or just a usecase of Timestamp server? :  r/Bitcoin

Foi para momentos como o atual, de “corrida aos bancos” e falência do sistema tradicional, que o Bitcoin foi criado. A mensagem passada há aproximadamente quatorze anos segue mais atual do que nunca e mostra que nada mudou. Hoje, estamos enfrentando as consequências do segundo maior colapso bancário da história dos Estados Unidos. E apesar da turbulência financeira, o Bitcoin permanece ileso e provando cada vez mais sua utilidade como reserva de valor e proteção patrimonial. Não à toa, o desempenho do dólar index versus o do BTC desde o início do colapso é oposto:

Imagem

Um adendo para que sejamos justos: ao contrário de 2008, agora os bancos não especularam no mercado hipotecário dos EUA. Eles “apenas” não souberam para onde ir com as vastas quantias de “dinheiro novo” sendo injetado na economia. Resolveram, ainda com a taxa de juros baixa, comprar títulos conservadores de longo prazo do governo para obter algum retorno, mas não contaram com a inflação e com a elevação dos fed funds para o maior patamar desde outubro de 2007.

Não se enganem: o fato de termos chegado até este ponto é consequência de décadas de irresponsabilidade e ineficiência. Embora desde a última crise tenham havido diversas conversas sobre controles mais rígidos e deficiências do sistema de “reserva fracionárias”, no qual os bancos só possuem uma pequena porcentagem dos fundos dos clientes, o caminho era inevitável pois a estrutura é falha. É só olhar para a própria pandemia.

Em 2020, o Covid só acentuou e evidenciou ainda mais este fato, e a única resposta foi imprimir ainda mais dinheiro para impulsionar os mercados de volta e evitar que o sistema colapsasse. Posteriormente, o FED, querendo manter a confiança, decidiu rapidamente reverter a tendência e fomentar o ciclo de aperto mais agressivo de todos os tempos. O problema com a “corrida aos bancos” é justamente este: confiança.

Quando um banco perde a confiança e os investidores correm para sacar seu capital, a insolvência bancária pode bater na porta, mesmo que isso não fosse uma realidade antes dessa corrida. É curioso como a dinâmica funciona praticamente como uma profecia autorealizável. Portanto, as movimentações que temos visto para proteger 100% dos depósitos após o colapso do SVB são justamente para que consigam manter essa confiança a qualquer custo, evitando que haja uma próxima corrida bancária, seguida de outra, e de outra, e de outra.

As autoridades federais estão tentando desesperadamente conter o contágio antes que ele se espalhe ainda mais, enquanto paralelamente precisam terminar o trabalho com a inflação antes que possam começar a imprimir mais dinheiro novamente. Já ouviram falar naquele ditado: “dinheiro não dá em árvore”? Bem, ele é válido, a não ser que você trabalhe no FED.

Todo o cenário atual deixa evidente a necessidade por um sistema trustless, descentralizado, ponto-a-ponto, com cronograma de suprimento determinado, com potencial deflacionário, sem vulnerabilidade central, sem um CEO ou horário específico de funcionamento, sem ninguém capaz de bloquear uma conta, disponível 24h por dia para todos em todo o mundo e com uma baixíssima barreira de entrada. O Bitcoin nasce da liberdade individual e a propicia continuamente para os indivíduos, resistindo a todos os empecilhos colocados em seu caminho até hoje. Isso sim é “antifragilidade”, Taleb.

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