Nos últimos meses, vimos um grande avanço das tecnologias de inteligência artificial (AI). Quem não ouviu falar sobre ChatGPT, Midjourney, Chatsonic ou qualquer outro player de destaque que tenha ganhado as manchetes e fascinado o público? Com essa ascensão, cresceu também a tese de que o setor de AI chegaria como grande concorrente de financiamento de investimentos frente às criptomoedas. Algo parecido com o discurso de que a inteligência artificial desbancaria totalmente os empregos humanos. Com todo o respeito aos defensores da tese, permitam-me discordar veementemente.
Sabemos que, hoje, há diferenças profundas entre a estrutura de blockchains e inteligências artificiais. Enquanto as blockchains são pautadas pela descentralização, as AI ainda dependem efetivamente de grandes bancos de dados centralizados para treinamento, havendo os tradicionais riscos relacionados à privacidade e segurança. Isso faz com que essa tecnologia acabe capturando capital de grandes corporações igualmente centralizadas, como é o caso da Microsoft (BVMF:MSFT34)(NASDAQ:MSFT) que pretende investir US$ 10 bi no ChatGPT.
O supracitado financiamento também incluiria outras venture firms e avaliaria a OpenAI, empresa por trás do ChatGPT, em US$ 29 bilhões. O uso do “futuro perfeito” como tempo verbal nesse parágrafo acontece por não haver clareza sobre se o acordo foi ou será de fato finalizado, apesar dos documentos enviados a potenciais investidores nas últimas semanas.
O fato é que, na verdade, assim como a AI chega para forçar os indivíduos a se adaptarem a ela e potencializarem suas funções profissionais a partir de seu uso, chega também para agregar à tecnologia blockchain e revolucionar o mercado de criptomoedas. Não há competição e sim cooperação. A disrupção proporcionada pela atuação conjunta de ambas só tende a acrescentar, e quem não abrir a cabeça para essa perspectiva ficará para trás.
E além das criptomoedas, que estão entre as principais aplicações das blockchains, uma das funcionalidades mais consistentes das blockchains diz respeito ao gerenciamento de recursos de computação de forma distribuída. As blockchains podem ser usadas para coordenar e verificar serviços para determinada rede, utilizando tokens como forma de incentivo aos contribuidores. Já vemos aplicações neste sentido para armazenamento em nuvem distribuído, como é o caso da Filecoin. E podemos ver um mix entre as funcionalidades de blockchains e serviços de AI.
Vale lembrar também do caso do BitTorrent, que começou como uma rede de compartilhamento de arquivos P2P não tokenizada e, por volta de 2017, mudou seu rumo para recompensar os usuários que tinham conexões mais rápidas por meio de tokens. Foi, posteriormente, comprada por Justin Sun.
Diversos projetos se adaptam ao longo do caminho e outros estendem a lógica da computação distribuída tokenizada para a inteligência artificial, como é o caso da SingularityNET, fundada por Bem Goetzel que trabalha com AI desde o final da década de 1980. O projeto consiste em uma arquitetura aberta que pretende unir diversas inteligências artificiais, como processadores de linguagem, geradores de imagem, etc.
Em outras palavras, a SingularityNet é uma plataforma que permite a qualquer pessoa criar, compartilhar e monetizar serviços de AI graças ao seu marketplace global. O usuário pode combinar serviços na rede que serão hospedados em qualquer lugar do mundo. O token do projeto, AGIX, se beneficiou da alta do tema e valorizou mais de 300% desde o começo de janeiro.
É evidente que uma rede de inteligência artificial combinável, como é o caso acima, pode democratizar o desenvolvimento das AI da mesma forma que as criptomoedas e os contratos inteligentes democratizam as finanças. Há um potencial inexplorado da atuação conjunta de crypto + AI que ainda estamos começando a ver e que poderá transformar ambas as indústrias, abrindo horizontes até então inimagináveis. Aliar o componente descentralizador das criptomoedas com a execução e o reconhecimento de padrões proporcionados pelas inteligências artificiais pode dar início a uma amizade duradoura.
E isso pode acontecer em diversas vertentes. Seja resolvendo problemas de detecção de fraude e compliance - temas que, apesar de não muito bem vistos pela comunidade, são inevitáveis - seja por incentivos econômicos bem estruturados nos “tokenomics” de projetos crypto que utilizarão AI em suas aplicações. Seja, ainda, detectando padrões gráficos de análise técnica ou até mesmo potencializando as operações de players centralizados que atuam no mercado crypto. A inteligência artificial chega para somar.
Alguns dos projetos crypto que podem valorizar a partir dessa narrativa, tanto de AI quanto de Big Data, envolvem, por exemplo, TheGraph (GRT), SingularityNet (AGIX), SingularityDAO (SDAO), Kambria (KAT), Zus Network (ZCN), DeepBrainChain (DBC), TrustVerse (TRV), Raven Protocol (RAVEN), Ocean Protocol (OCEAN), Fetch.ai (FET), entre muitos outros. Ressaltamos a importância de contar com profissionais qualificados para a tomada de decisão antes de investir em alguma tese, processo demorado e que demanda bastante estudo.