É comum os nutricionistas explicarem que o peso de uma pessoa não quer dizer muita coisa, afinal, um halterofilista pode ter um peso alto justificado por sua musculatura, e estar muito em forma, enquanto eu estou apenas gorda mesmo…
Na avaliação de empresas e outros ativos, como moedas, tudo também é relativo, para dificultar um pouco mais a minha vida, que além de estar acima do peso, também sou analista de investimentos.
O que é caro e o que é barato quando avaliamos os ativos?
Tudo depende da métrica.
Deixei de ganhar muito dinheiro não investindo em Bitcoin em 2020, mas minha consciência permanece tranquila. Isto porque a minha decisão de ficar de fora foi pautada na minha falta completa de métricas confiáveis para saber se os preços dele estavam e estão caros ou baratos.
Ontem, por exemplo, ocorreu uma das maiores quedas no mercado de moedas digitais e algumas criptomoedas caíram mais de 50%. Isto as tornou baratas e uma boa oportunidade de compra?
Não faço a mínima ideia. Continua não dispondo de métricas que considero confiáveis e eficientes para medir isto. Talvez alguém as tenha, mas não é o meu caso. E como eu gosto de investir, e não de apostar, eu fico de fora.
Como analista de empresas, o bom e velho fluxo de caixa me parece uma métrica confiável, embora também possua seus defeitos, uma vez que para projetar os fluxos de caixa futuros, tudo o que fazemos são projeções sobre todas as premissas possíveis.
Ainda assim, neste caso, eu possuo métricas, históricos longos de dados e toda uma teoria econômica fundamentada, bem como um modelo - o desconto de fluxo de caixa - visto e revisto por muitos analistas e o mais importante, que para mim faz muito sentido, afinal, no fim das contas, o que importa é o quanto aquele ativo vai me gerar de dinheiro. Simples assim.
Mas a criatividade humana não tem limites. Na falta da capacidade de projetar fluxos de caixa em novos cenários incertos, utilizamos novas métricas para estimar (ou justificar) os preços negociados.
Com a grande explosão das fintechs e negócios online, que crescem a números astronômicos sua base de clientes, na maioria das vezes sem gerar fluxos de caixa no horizonte visível que seja justificável para o valuation pago, muitos vem usando uma métrica de valor por cliente.
Hoje, no entanto, me deparei com um anedótico dado do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), de que no último dia de março de 2021 nada menos do que 67,1 milhões de contas tinham menos de R$ 10 (dez reais) no Brasil, o que corresponde a 58,6% do total das contas.
É amigo, não é só você que sofre ao olhar seu extrato.
Acredito que muitas dessas contas continuarão assim para sempre, afinal, eu mesma tenho conta em umas dez instituições diferentes, que abri pois não me custava nada e pareciam oferecer algum benefício, como o cashback, mas que não pretendo usar no futuro, quando concentrar tudo em uma ou duas contas.
Moral da história: No caso de fintechs e empresas online, qual a eficiência da métrica do valuation por cliente? No caso de criptomoedas, qual a sua métrica de medição para o valor destas, e qual a eficiência e confiança que se pode ter desta métrica?
Não deixe de se perguntar, você pode com isso fugir de muitas roubadas.