Na sexta-feira (24/09), os mercados de criptomoedas foram abalados, quando a China anunciou que todas as transações de criptomoedas eram ilegais. O que teria sido um choque, apesar da postura crítica bem estabelecida do país, acabou sendo mais uma reiteração da regulamentação anterior.
Olhando além do que se pode chamar de uma “liquidação” desta sexta-feira, que reforça a vulnerabilidade do bitcoin frente a oscilações de curto prazo, ainda é possível enxergar seu futuro potencial como uma forma de "ouro digital".
De forma mais ampla para o complexo de criptomoedas, observa-se que os reguladores permanecem muito críticos, enquanto mais e mais empresas estão explorando seu potencial. O mundo está bem ciente da postura crítica da China em relação às criptomoedas, o que resultou em várias repressões no segmento nos últimos anos, como a proibição de trocas e ofertas iniciais de moedas em 2017 e 2018, bem como a proibição de operações no início deste ano.
Na sexta-feira, os mercados foram abalados por uma notícia de que o Banco Popular da China anunciou que todas as transações relacionadas à criptomoeda eram ilegais. Uma interpretação diferente do referido anúncio aponta para uma reiteração das políticas existentes, mas, além disso, delineia uma estreita colaboração entre as agências para melhor fazer cumprir a regulamentação, tanto nacional quanto internacionalmente.
A interpretação do anúncio variou muito entre a grande mídia financeira – que o chamou de proibição total das transações – e comentaristas mais simpáticos às criptomoedas – que disseram que nada de novo havia sido revelado. Os preços do Bitcoin caíram até 10% com as notícias, enquanto outras moedas sofreram ainda mais, antes de recuperar o terreno perdido. Apesar da repressão deste ano às operações de “mineração”, a China ainda detém uma participação de mais de 45% na taxa de hash global de bitcoin, de acordo com o Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index.
A taxa de hash é uma medida do poder de computação usada para mineração de bitcoin e, portanto, um indicador de consumo de energia. Energia é um tema quente na China atualmente, já que a escassez em algumas províncias levou os governos locais a impor cortes de capacidade nas indústrias pesadas, enquanto a corrida do país para garantir suprimentos suficientes de gás natural liquefeito elevou os preços em todo o mundo.
Embora não possua as mesmas características de segurança do ouro hoje em dia, isso pode mudar no futuro, já que o bitcoin também é um recurso finito, cujo processo de criação e uso não estão substancialmente atrelados ao crescimento econômico geral. Digno de nota em relação ao complexo mais amplo de criptomoeda e blockchain é o fato de que, embora os reguladores permaneçam muito críticos sobre isso, não apenas na China, mas também na Europa e nos Estados Unidos, as empresas parecem muito mais abertas para explorar o potencial da tecnologia, principalmente em torno de finanças descentralizadas (DeFi).
Carsten Menke, Líder de Pesquisa Next Generation, Julius Baer