Crie a Sua Tabela e Marque a Bolha que Vai Estourar no Brasil

Publicado 13.09.2015, 14:48

Há cerca de 2 anos, mencionei aqui um estudo de 2002 do BIS (Banco de Compensações Internacionais), o "Banco Central dos Bancos Centrais", que buscava analisar as principais variáveis que agiam sobre o comportamento dos preços de imóveis de 6 regiões: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Irlanda, Holanda e Austrália.

Pouco se fala desse estudo, mesmo quando mergulhamos nos inúmeros textos que cobriam ou cobriram o Estouro da Bolha Imobiliária americana nos anos posteriores.Talvez pela "simplicidade" do modelo, talvez pela pouca publicidade, pelo alcance dos textos do BIS.

Pouco importa; o fato é que, entre tantas idiossincrasias e inconsistências de discursos, o estudo se debruça de forma séria sobre um dos mais importantes temas do universo econômico, ou seja, o que provoca as bruscas oscilações de preços dos imóveis ? Quais os principais fatores e variáveis?

Há como prever essas flutuações ? Há como determinar o quão frágil torna-se o patamar alcançado por uma eventual exacerbação nos preços dos ativos "imóveis"? Há como determinar o quão frágil torna-se o crescimento em "progressão geométrica" dos preços dos imóveis?

Ou de forma mais "popular": Há como determinar se estamos numa Bolha Imobiliária?

O estudo se restringiu a 3 variáveis pra analisar o impacto nos preços dos imóveis:

1- PIB (Aqui, não vamos nos aprofundar em ressaltar a diferença técnica entre "National Income", destacado no modelo do BIS, ou "Gross Domestic Product", o termo que nos remete, de fato, ao PIB de cada região; apenas resumir que o modelo tende a tratar e avaliar o impacto do PIB de um país ou região na flutuação dos preços dos imóveis)

2- Taxa de juros

3- Preços das Ações ou apenas "Nível das respectivas Bolsas de Valores"

Aqui, a passagem em que o texto resume tal direção:

"This special feature examines the extent to which house price fluctuations in six advanced economies – the United States, the United Kingdom, Canada, Ireland, the Netherlands and Australia – can be attributed to fluctuations in national incomes, interest rates and stock prices"

A conclusão?

Sim...as 3 variáveis acima citadas têm influência sobre o comportamento dos preços dos imóveis nas 6 regiões indicadas.

Aqui, também a passagem em que o texto resume tal conclusão:

"Interesting results emerge from the analysis. For instance, the empirical results indicate that shocks to national income, stock prices and interest rates influence house prices, and that some of the recent large gains in house prices can be explained in terms of the favourable economic developments captured by these variables."

Na última quinta-feira, como todos já sabem, o Brasil perdeu o que se convenciona chamar de "grau de investimento" na visão de uma das 3 principais agências de classificação de risco do mundo, a Standard Poor's.

Na prática, numa linguagem "menos técnica", significa dizer que o país já não é visto como "bom pagador", ou no mínimo, com contas razoáveis para suportar despesas correntes.

Ora...se você não é um "bom pagador", o crédito diminui e as taxas de juros sobem.

Crédito...crédito aqui, portanto, está intimamente ligado à "taxa de juros".

Diante dessa "correlação normal e natural", começaremos a estabelecer, para fins de análise e discussão, um complemento ao modelo acima proposto pelo BIS, isto é, acrescentaremos às 3 variáveis destacadas pelo estudo do BIS, a variável "crédito".

Assim, temos para o "nosso modelo" 4 variáveis:

1- PIB

2- Taxa de juros

3- Preços das Ações ou apenas "Nível das respectivas Bolsas de Valores"

4- Crédito

A discussão a ser iniciada terá como balizamento esse "modelo de 4 variáveis".

É importante ressaltar que a variável "crédito" ora incorporada poderia ter sido incorporada em qualquer outro momento, independente da decisão da Standard Poor's.

Qualquer outra variável pode ser incorporada ao modelo criado e estudado pelo BIS, "Modelo" é, intrinsicamente, uma "colcha de variáveis"; lhe cabe avaliar como as inúmeras variáveis interagem dr forma a produzir um "todo".

Mais uma vez, acrescentarei a variável "crédito" como extensão natural da "taxa de juros" para efeito de estudo nesse momento.

E qual o estudo a ser feito?

Vimos no Brasil, nos últimos 5,6,7 anos, verdadeiras aberrações nos "preços das coisas".....as chamaremos a partir de agora de "preços dos ativos".

Tais aberrações, ou foram consequências simples e óbvias de descontrole inflacionário ou foram "bolhas"...

No estudo ou "TABELA" que passaremos a construir abaixo, o objetivo é separar "várias coisas", "vários ativos", "várias bolhas", interagi-los com as 4 variáveis do "nosso modelo", e inferir se há uma bolha do "respectivo ativo" a ser estourada num espaço curto de tempo.


As 4 variáveis do "nosso modelo", uma "extensão do modelo do BIS", sempre estiveram no nosso "dia a dia".

Nos últimos meses tais variáveis foram moldando um quadro ruim.

A confirmação da ""perda do grau de investimento" pela Standard Poor's apenas tornou mais "cinzento e/ou frágil" o quadro brasileiro.

De outra forma, "PIB" continua com viés de baixa, "Taxa de juros" continua com viés de alta e ou estável, "mercado de ações" continua com viés de baixa e "crédito" continua com viés de baixa.

Assim, pra atingirmos o nosso objetivo, isto é, interagir cada "ativo", "cada bolha de ativo" da Tabela com as 4 variáveis, as consideraremos em posições "muito negativas".

E, como vamos interagir?

Para cada "ativo", "cada bolha de ativo" da tabela, faremos uma pergunta básica:

Dadas as "condições muito negativas" da variável em questão, "PIB", "Taxa de juros" , "Mercado de ações" e "Crédito", o "ativo" , "a bolha de ativo" perde "muito" ou "pouco"?

Simples...

Faz a pergunta, responde e escreve: "muito" ou "pouco".

Ao final, se os 4 retângulos estiverem marcados como "muito", o "ativo" ou "bolha de ativo" terá sua "bolha estourada" em pouco tempo.

Vamos dar início a "minha tabela":

1- Bolha de Imóveis

Dadas as "condições negativas" da variável em questão, "PIB", "Taxa de juros" , "Mercado de ações" e "Crédito", a "bolha de imóveis"" perde "muito" ou "pouco"?

Eu respondi que, dadas as "condições negativas" da variável em questão, "PIB", "Taxa de juros" , "Mercado de ações" e "Crédito", a "bolha de imóveis"" perde "muito"...

Ou seja, marquei "muito" para todas as variáveis...
Ou...o "PIB" em viés de baixa impacta muito nos preços dos imóveis.
Ou...A "Taxa de juros" em viés de alta impacta muito nos preços dos imóveis.

Ou...o "Mercado de ações" em viés de baixa impacta muito nos preços dos imóveis.
Ou...o "Crédito" em viés de baixa impacta muito nos preços dos imóveis.

Se todos os retângulos foram marcados como "muito", o resultado colocado ao lado para "Bolha estoura ou não", é "SIM".

Mais uma vez......todos os 4 retângulos terão de ser marcados com: "muito"..... para que o retângulo "Bolha estoura ou não" seja marcado com: "SIM".
exemplo

Assim, construirei a "minha tabela"...

Façam você mesmo a sua...e curtam todas as bolhas de ativos que serão estouradas no Brasil num curto espaço de tempo...

O Brasil já não estava numa posição confortável, a perda do "grau de investimento" indicada pela Agência de Classificação de risco Standard Poor's apenas chancelou essa posição, assim como ampliou a inércia negativa.

Não esqueçam que, depois do FED aumentar as taxas de juros americanas, a tabela terá de ser refeita...pois as variáveis tendem a mudar...pra pior...

Vamos a "minha tabela" completa:

tabela Márcio Lemos

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