Educação financeira faz muita diferença na vida de toda pessoa. Seja para acumular patrimônio, seja para ter tranquilidade. Quanto mais cedo se coloca essa lógica em prática, melhor – eu, por exemplo, já comentei aqui que adoraria ter tido esse direcionamento desde mais nova. O Dia das Crianças traz uma ótima oportunidade para pensarmos em, em vez de gastar para agradar, pararmos para pensar em como passar adiante hábitos financeiros saudáveis.
É preciso, de início, desmistificar que não dá para ensinar educação financeira de forma lúdica. Já participei de gincanas em escolas envolvendo adultos e crianças em que ambos ficavam focados. Usar dinheiro “de mentirinha”, por exemplo, é uma forma fácil e criativa de ensinar conceitos abstratos. Outra dica é que há materiais educativos de instituições financeiras voltados ao público infantil, com personagens infantis e histórias do universo deles.
Em linhas gerais, a experiência no planejamento financeiro familiar e estudos de especialistas em comportamento indicam que o ideal é fazer ações graduais, de acordo com a faixa etária. Assim, eles vão assimilando os conceitos conforme conseguem absorver as informações.
Na primeira “faixa”, desde o nascimento até os 5 anos, mais ou menos, o trabalho é inteiramente dos pais. Importante dizer que os adultos precisam conhecer finanças pessoais também, para poderem passá-los adequadamente.
Além disso, outra tarefa é começar o hábito de economizar, criando uma aplicação para uso futuro do pequeno, especialmente em educação. Em vez da famosa “poupança para a faculdade”, é possível escolher um bom plano de previdência, com prazo mínimo de saída acima de 10 anos, que trará retornos mais interessantes e exige o compromisso do depósito periódico.
Há opções com aportes mensais a partir de R$ 50. O importante é começar. Mesmo que não dê para pagar um curso inteiro de faculdade, o montante pode ajudar com parte dos custos, ou ser usado em um intercâmbio escolar, por exemplo.
Entre os 5 e 7 anos de idade, quando a criança começa a aprender números e fazer contas, é possível começar a dar noção de dinheiro. Por exemplo, que ele é finito, e que, se temos apenas R$ 100 para gastarmos, não vamos conseguir comprar algo que custa R$ 140.
Crianças são muito imediatistas. Mostrar que há limites para compras, que não podemos ter tudo o que queremos na mesma hora, é um conceito que faz falta a muitos adultos que vivem endividados. Podemos também, nesta faixa etária, começar a dar noções de meritocracia, combinando tarefas em troca de uma pequena recompensa em dinheiro – mas sem tornar isso uma mesada.
Por volta dos 7 anos de idade, é possível começar a trabalhar com planejamento e, aí sim, estabelecer uma mesadinha regular. No caso de planejamento, envolver a criança em objetivos da família, como compra de um carro, eletrodoméstico, uma viagem. E mesmo convidá-la para ajudar: imagina só o orgulho dos pequenos em dizer aos amiguinhos que aquela compra foi possível graças à ajuda deles?
Quanto à mesada, é importante que seja estabelecido limite. Se gastou, gastou, tem que esperar o mês que vem. Dar extras não combinados periodicamente, para cobrir gastos sem critérios, só incentiva o descontrole financeiro.
A partir dos 9 anos, começa a entrar no radar deles vontades mais complexas. Aí, é possível falar de planos para a vida, para o futuro. E perguntar: "Filho, o que você tem vontade de fazer? Como vamos fazer para conseguir isso?". Se há pressa em atingir um objetivo, por exemplo, podemos ensinar como funciona um empréstimo no banco e, nós mesmos, darmos o crédito (mediante uma taxa de juros simbólica, para mostrar que antecipar é mais caro que poupar).
Essas são algumas ideias e caminhos para ajudar os mais jovens a lidar melhor com dinheiro para que, quando adultos, tenham mais sucesso na vida financeira. É claro que existem adaptações e outros pormenores, pois cada criança é única. Mas, de modo geral, vale o mesmo raciocínio da educação financeira: o importante é começar. E, quanto mais cedo, melhor.