O mercado de emissão de dívida (Debt Capital Market) vem se tornando, especialmente ao longo dos últimos anos, fonte de financiamento para empresas que desejam expandir suas operações, estruturar suas dívidas ou financiar seus projetos.
As opções para emissão são várias, dentre elas os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis, Notas Comerciais e debêntures.
Para a empresa emissora da dívida, o grande atrativo são as taxas de juros relativamente menores que aquelas praticadas por instituições financeiras. Aliás, também por este motivo, o Debt Capital Market tem atraído cada vez mais empresas do middle market e não apenas aquelas de grande porte.
Por outro lado, para o investidor, estes papéis representam investimento em renda fixa de longo prazo, de baixo risco se comparado com outras formas de investimento e, em alguns casos, como no CRI e no CRA, com isenção de Imposto de Renda (IR).
Ocorre que, no comparativo 22/23 entre o CRI e o CRA, os resultados são bem diferentes: se por um lado o volume e a quantidade de emissões de CRI cresceram, principalmente no comparativo do terceiro trimestre do ano, no caso do CRA estes números reduziram consideravelmente.
Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o valor total das emissões de CRI no terceiro trimestre de 2022 foi de R$ 14,666 bilhões, enquanto no terceiro trimestre de 2023 foi de R$ 18,860 bilhões, um aumento de cerca de 29%. No total, foram 169 emissões neste período em 2022 contra 271 emissões no mesmo período em 2023, um aumento de 69%, conforme gráfico abaixo:
Por outro lado, o valor total das emissões de CRA no terceiro trimestre de 2022 foi de R$ 17,831 bilhões, enquanto no terceiro trimestre de 2023 foi de R$ 10,953 bilhões, uma redução de cerca de 40%. No total, foram 100 emissões neste período em 2022 contra 60 emissões no mesmo período em 2023, também uma redução de 40%, conforme gráficos abaixo:
No comparativo dos nove primeiros meses de cada ano, tem-se um total de cerca de R$ 30 bilhões em valor de emissão de CRI em 2022 contra R$ 31 bilhões no ano de 2023, um leve aumento, sendo 420 emissões realizadas em 2022 contra 514 em 2023:
Já no caso do CRA, no comparativo dos nove primeiros meses de cada ano, tem-se um total de cerca de R$ 35 bilhões em valor de emissão em 2022 contra R$24 bilhões no ano de 2023, sendo 228 emissões realizadas em 2022 contra 156 em 2023:
É certo que o mercado de emissão de CRI está mais consolidado no setor imobiliário do que o mercado de emissão de CRA está no agronegócio, inclusive porque a legislação que primeiro tratou do CRI é de 1997 e a do CRA de 2004, de modo que o mercado imobiliário está mais acostumado com este produto.
Também é certo que estes setores estão, em certa medida, expostos a diferentes fatores e particularidades que influenciam à decisão sobre tomada de crédito.
Porém, ambos os setores historicamente se utilizam de linhas de crédito para desenvolvimento de suas atividades, de modo que é possível que a redução na emissão de CRA no ano de 2023 decorra de uma maior atratividade de outras formas de financiamento voltadas para o agro, como, por exemplo, o plano Safra 2023/2024, que já forneceu R$363bilhões de crédito ao agronegócio em 2023, um aumento de 27% se comparado à temporada anterior.
O agronegócio é um dos setores que mais tem contribuído com a economia brasileira, batendo recordes de produção anualmente.
A familiaridade deste setor com o mercado de capitais tem, ainda que 2023 diga o contrário, aumentado ao longo dos anos, mas, para que esta relação se fortaleça, inclusive para que tenhamos linhas de créditos consolidadas vindas do setor privado e fora do modelo que conta com instrumentos e recursos públicos, o fomento desta relação deve ser intensificado, especialmente por meio de maior divulgação das opções e produtos disponíveis ao setor.