No foco das atenções nesta semana a “arena política”, mais precisamente, a CPI da Covid, com os “depoimentos” do ex-chanceler Ernesto Araújo, dia 18, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, dia 19, e sua assessora direta, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã Cloroquina”, dia 20. Nos mercados, estejamos de olho na trajetória das commodities, na ata do FOMC, nos dados chineses e na agenda de reformas no Brasil.
Sobre a CPI, inevitável afirmar que cabe aqui a máxima “quem não deve não teme”. Parece claro que todos possuem alguma responsabilidade neste precipitado diagnóstico de recomendar “tratamento precoce”, uso de Cloroquina e Ivermectina, algo ignorado no mundo. Sabe-se agora que até manual para tratamento precoce o ministério da Saúde encomendou. Outro foco das investigações será a atuação do governo no colapso da rede de saúde em Manaus, onde pacientes morreram asfixiados pela falta de oxigênio.
Pazuello pretende ficar em silêncio, mas o STF determinou que o general terá que responder com a verdade sobre outras questões que digam respeito a terceiros, como o presidente Jair Bolsonaro. Se mentir poderá, sim, ter ordem de prisão decretada. Ernesto Araújo também estará no foco das atenções, nas relações diplomáticas com a China. Relações estas tumultuadas e justificativa para o atraso na entrega de insumos pelos chineses na produção da Coronavac, pelo Instituto Butantan, e AstraZeneca (LON:AZN) (SA:A1ZN34), pela Fiocruz.
Segundo o presidente da Comissão Omar Aziz, em entrevista no fim de semana, “não houve nenhum interesse pela compra de vacinas num primeiro momento”. Como aposta inicial, meio irresponsável, escutando as pessoas erradas, Bolsonaro optou pelo tratamento precoce e ingressou numa espiral de decisões desastradas, como na encomenda de grandes lotes de cloroquina, inclusive, importando “estoques excedentes” dos EUA.
Agora, sob desconfiança e investigação, vem tentando “fugir” e politizar o debate. Drogas contra lúpus e malária, sem a mínima comprovação científica. E o pior, seu total alienamento contra o início do programa de vacinação, argumentando ser contrário à vacina chinesa Coronavac, pelo simples motivo do governador de SP, João Dória, ter partido na frente (alguma teoria da conspiração ou anticomunismo atávico. Nunca se sabe).
Segundo Aziz, “o governo errou desde o primeiro momento. Não apostou no isolamento, não apostou na máscara, no álcool em gel, na vacina, uma série de coisas que poderiam ter ajudado a salvar pessoas. E continua apostando na cloroquina”. Por outro lado, o presidente da comissão apontou que as pessoas que orientaram o presidente devem também ser responsabilizadas. Aqui, incluímos Mayra Pinheiro, a “capitão cloroquina”.
Na Europa, por exemplo, tal tratamento, no uso destes remédios recomendados pelo governo, nunca foi colocado em prática.
Em Portugal, a única solução, com todos os custos sociais, foi o governo parlamentarista adotar, em várias etapas, “planos emergenciais de confinamento”, além da estrita exigência pelo uso de máscaras, álcool gel e isolamento social. Com isso, os lusitanos foram, aos poucos, superando a pandemia e retornando à vida normal, praticamente agora sem mortes e novos casos. E isso foi sendo adotado num crescente, claro que com erros em alguns momentos. Até porque nos confrontamos com algo desconhecido.
Pode-se afirmar que a decisão de manter o confinamento em boa parte do ano de 2020 e nestes primeiros cinco meses acabou por se mostrar acertada, diante do atraso das vacinas, dado o gargalo de oferta existente no mundo.
Há uma “batalha por vacinas”, e os países melhor preparados, mais organizados, com planejamento, atuação incisiva, correram atrás e acabaram beneficiados. Destaquemos a Nova Zelândia, Israel, num “tour de force” gigantesco, já tendo conseguido a imunidade total da população, os EUA na mesma toada, assim como o Reino Unido. Em alguns destes já foi liberada a “obrigatoriedade” no uso de máscaras.
Neste domingo, o Brasil registrou 1.036 óbitos, elevando o total a 435.751. Chegamos a 40.941 casos e o total de infecções a 15.627.475. O Brasil possui o segundo maior número de mortes pela doença no mundo, abaixo apenas dos EUA, e a terceira maior contagem de casos confirmados, só superada pela Índia e os EUA.
Sobre a agenda econômica da semana, atenção para a ata do Fomc nos EUA na quarta-feira, dia 19, e o discurso de Christine Lagarde no dia seguinte (dia 20). No Brasil, estejamos atentos para os avanços das reformas tributária e administrativa, a possível MP da Eletrobras (SA:ELET3) e a arrecadação federal na sexta-feira.
O presidente do Congresso, Arthur Lira, deve agitar o Congresso com as duas reformas em pauta, a administrativa e a tributária. Esta última deve ser fatiada no Senado e a primeira, para a CCJ, com o parecer do deputado Darci de Matos a ser discutido.
Na passagem de domingo para segunda-feira, saíram os dados da China de produção industrial e vendas no varejo de abril, mostrando atividade em recuperação, mas não de forma uniforme e na velocidade esperada.
Pela indústria, a produção veio em bom ritmo, acima das projeções (9,8% contra expectativa de 9,2%), enquanto que pelo varejo as vendas vieram abaixo do esperado (17,1% contra 24,9%). Isso mostra que a economia chinesa perdeu um pouco de tração entre março e abril, desacelerando. Em março, a produção industrial havia avançado 14,1% e as vendas do varejo 34,2%. Importante considerar também a base de comparação muito deprimida nestes indicadores, contra os mesmos do ano passado.
Falando da ata do Fed temos nesta quarta-feira o resgate do debate sobre os rumos da política monetária, embora os indicadores mais recentes afastem o risco de um superaquecimento da economia norte-americana.
BALANÇOS – A temporada termina hoje com os resultados da Gafisa (SA:GFSA3), Linx (SA:LINX3), Rede D'Or (SA:RDOR3), Boa Vista Serviços (SA:BOAS3) e Focus Energia (SA:POWE3), depois do fechamento do mercado. Promovem teleconferências: Cosan (SA:CSAN3) e Banco ABC Brasil (SA:ABCB4) (10h) e PDG Realty (SA:PDGR3) (11h).
Uma nota de pesar pelo falecimento do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. Uma linhagem difícil de encontrar por aí. Fui eleitor do seu querido avô, Mario Covas em 1989, na eleição presidencial, depois polarizada entre Lula e Collor.
Mario Covas, e seu neto Bruno, mostraram ser possível trilhar pelo caminho da seriedade, foco, eficiência e honestidade. Pessoas públicas que fazem muita falta nos dias de hoje.
Bons negócios!