Pùblicado originalmente em inglês em 26/07/2021
O mandato de Jerome Powell à frente do Federal Reserve se encerra em fevereiro de 2022. O presidente dos EUA, Joe Biden, ainda decidirá se o indica novamente ao cargo, mas alguns apontam sinais de mudança na discussão sobre quem será o próximo presidente do Fed.
Pelo menos existe uma discussão, o que era inconteste no caso de Alan Greenspan ou Ben Bernanke quando de sua renomeação à chefia do banco central americano. Ao que tudo indica, o debate sobre o futuro de Powell parece ter ganhado ímpeto nas últimas semanas.
Continuidade e estabilidade vs. “rua sem saída” da diversidade
E ainda existe o fato de que Biden tem feito o oposto de praticamente tudo o que o ex-presidente Donald Trump fez. Entretanto, isso pode ter repercussões positivas e negativas, já que Trump indicou Powell, mas também quebrou a tradição de reindicar o presidente do Fed independente das linhas partidárias.
Lael Brainard, alternativa mais provável para a presidência do banco central americano, é a única indicada democrata no conselho de governadores e, como mulher, pode cair bem com o apelo da maior diversidade. Ela sacrificou obedientemente suas ambições de ser secretária do Tesouro em favor de Janet Yellen e, mesmo que não houvesse um acordo formal, poderes democratas poderiam achar que lhe devem uma.
Mas ela também pode ficar presa em uma “rua sem saída" da diversidade. Progressistas aguardam há meses que Biden nomeie um economista negro à posição aberta no conselho, estando os nomes de Lisa Cook, do Estado de Michigan, e William Spriggs, da AFL-CIO, entre os mais mencionados.
Brainard, filha de um diplomata americano nascida na Alemanha e criada na Europa durante a maior parte de sua vida, é branca, com a clássica educação de elite em Wesleyan e Harvard. Cook, por outro lado, formou-se no historicamente negro Spelman College, em Atlanta, e obteve seu mestrado no Senegal, antes concluir o doutorado em economia em Berkeley. Spriggs foi para Williams e obteve seu doutorado na Universidade de Wisconsin em Madison.
Dennis Kelleher, diretor de um grupo esquerdista que comenta com frequência sobre o Fed, criticou Powell por ter sido muito complacente com a regulação bancária e disse recentemente que o presidente do banco central americano não tem sido líder em política climática. Parlamentares democratas, como os senadores Sherrod Brown e Elizabeth Warren, também criticaram o histórico do Fed quanto à regulação durante o mandato de Powell.
Legisladores republicanos gostam de Powell, mas podem não trabalhar em seu favor. A grande maioria dos economistas acredita que ele será renomeado, mas quando foi a última vez que acertaram alguma coisa?
O principal ponto a favor de Powell em sua renomeação seria um sinal de continuidade e estabilidade. A equipe de Biden talvez pense em combinar a reindicação de Powell com a nomeação de um negro progressista. (Powell não teria que sair do conselho se não fosse renomeado como presidente, mas é muito raro que alguém faça isso após ser tirado do cargo).
Enquanto isso, um artigo publicado na semana passada pela agência nacional de pesquisa econômica, usando inteligência artificial e análise de voz, mostrou que Powell foi o presidente mais negativo dos últimos três. Os pesquisadores descobriram que o tom das suas respostas nas coletivas de imprensa era mais negativo do que o de seus antecessores imediatos, Janet Yellen e Ben Bernanke, e tendeu a influenciar reações adversas do mercado.
A expectativa é que os formuladores da política monetária discutam o programa de aquisições de títulos do Fed durante a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto nesta semana, e os investidores ficarão decepcionados se Powell não tiver algo a dizer sobre a questão, mesmo que se apenas para indicar um cronograma para reduzir as aquisições.
O aumento de infecções por Covid-19 por causa da variante Delta está dando certa cobertura para que o Fed postergue uma decisão, à medida que prever o curso da economia se torna mais desafiador.
A variante é uma faca de dois gumes. Uma nova onda de infecções – principalmente se acompanha de ordens de uso de máscaras e outras restrições – pode afetar as cadeias de fornecimento e pressionar os preços, mas também impactar a recuperação, arrefecendo a demanda.