Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
O calendário desta semana está repleto de dados que movimentarão os mercados, mas sem alterar suas tendências atuais. Por exemplo, o par USD/JPY está bastante fraco, já que se desvalorizou em sete dos últimos oito dias de negociação e está sendo cotado no nível mais baixo em 7 meses. Esse declínio reflete a ansiedade nos mercados e a expectativa por uma resposta do banco central, reforçado pela queda persistente dos rendimentos do Tesouro norte-americano e pela forte atividade de venda nas ações. Os investidores acreditam que, com a deterioração nas relações comerciais entre EUA e China e a virada nos mercados, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) não terá outra escolha senão reduzir as taxas de juros no mês que vem. De fato, de acordo com os futuros dos fundos federais, os traders estão precificando dois cortes integrais de juros antes do fim de ano. Essa expectativa não vai mudar, mesmo que os preços ao consumidor ou as vendas no varejo surpreendam pela alta, pois a crença é que esse nível de inflação e consumo será reduzido pelos últimos acontecimentos. E não há dúvidas quanto a isso: se os mercados continuarem em queda e as tensões comerciais se acirrarem, o lucro corporativo e o patrimônio dos consumidores serão negativamente afetados. Portanto, se o dólar disparar contra o iene japonês ou o franco suíço na esteira de melhores dados, é melhor buscar oportunidades contra a tendência, e não a favor do movimento. Agora é a hora de comprar os pares USD/JPY e USD/CHF, pois é apenas uma questão de tempo até que o patamar de 105 seja rompido no USD/JPY.
Os investidores devem ficar atentos ao dólar australiano e canadense. Embora o par AUD/USD tenha atingido a mínima de 10 anos na semana passada, acreditamos que o mercado esteja subprecificando a chance de um corte de juros neste ano. Com base nos futuros da taxa de juros, há apenas 60% de chance de um corte de 25 pontos-base até dezembro, e acreditamos que será difícil para o Banco Central da Austrália (BCA) evitar a flexibilização até outubro. O BCA está ciente dos riscos presentes no mercado neste momento e afirmou que cortaria os juros se as condições inflacionárias ou do mercado de trabalho piorassem. É difícil defender os argumentos do banco central para manter as taxas de juros estáveis. A atividade de serviços e manufatura desacelerou significativamente no mês de julho, e há boas chances de que os números do mercado de trabalho fiquem abaixo das expectativas. Portanto, acreditamos que o banco central australiano não terá outra escolha a não ser flexibilizar sua política. A instituição já admitiu que se todos os bancos centrais cortarem os juros para zero, também terá que levar isso em consideração. No entanto, antes que os juros caiam para zero, um afrouxamento maior por parte dos bancos centrais dos EUA, Europa (BCE) e Nova Zelândia (BCNZ) pode obrigar o BCA a reduzir os juros abaixo de 1%, principalmente se a economia mundial estiver se contraindo, e os mercados, em bancarrota. Por isso, é provável que haja mais perdas no dólar australiano em relação ao dólar estadunidense e o iene japonês.
Cortes de juros também são iminentes no Canadá depois do relatório de emprego da semana passada. O mercado esperava que o crescimento do emprego voltasse em julho, mas houve uma queda de -24.200, a maior desde agosto de 2018. O trabalho por meio período e em tempo integral caiu, empurrando a taxa de desemprego de 5,5% para 5,7%. O par USD/CAD se valorizou logo depois, mas reverteu a alta com a retomada das vendas de dólares americanos. O USD/CAD finalmente se estabilizou, e acreditamos que pode subir. Dito isso, a melhor oportunidade pode ser vender dólares australianos contra o iene japonês e o franco suíço.