Nos últimos meses, temos acompanhado os esforços do governo chinês para conter a epidemia de coronavírus. Esforços que, aos poucos, parecem estar começando a surtir efeito no gigante asiático. Porém, as medidas adotadas até então não foram suficientes para barrar a expansão do vírus para outros países, que agora buscam meios para dividir essa conta.
Durante todo o mês de fevereiro, o mercado buscou mensurar os impactos do coronavírus na segunda maior economia do mundo e o seu reflexo sobre as projeções do crescimento global. Neste mês, já não há mais dúvida quanto à redução do crescimento do PIB do mundo, tanto que a própria Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou sua projeção para o crescimento do PIB global em 2020 de 2,9% para 2,4%, o que, se confirmado, significaria a menor expansão desde 2009.
Agora, os esforços estão concentrados em amortecer o impacto da epidemia e evitar um quadro de recessão generalizada, ou seja, ainda dá para piorar caso a crise do coronavírus fuja de controle nos países onde estão sendo reportados os novos casos da doença. Isso porque, até o momento, os impactos revelados ainda são consequência do fechamento de fábricas, restrições de viagens e paralisação das linhas de suprimento na China.
A resposta para combater a crise foi discutida nesta terça-feira (3) entre os países membros do G7. Representantes do governo e dos bancos centrais de Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão fizeram uma teleconferência e abordaram tópicos como a possibilidade de novos cortes nas taxas básicas de juros e ajustes fiscais (impostos), tidos como as alternativas com maiores chances de avançar nos próximos dias.
Mas a surpresa ficou mesmo por conta do Federal Reserve que, extraordinariamente e de maneira unânime, anunciou o corte de 0,50 ponto percentual na taxa de juros norte-americana para o intervalo entre 1,0% e 1,25%. O comunicado foi inesperado para o mercado, que especulava um corte antes da reunião prevista pelo Fed nos dias 17 e 18 de março, mas não tão rápido. Isso levantou a suspeita sobre a real profundidade da epidemia por lá.
De qualquer forma, o evento eleva as apostas de um novo corte na Selic pelo Banco Central brasileiro na próxima reunião do Copom, com a curva de juros (no momento em que escrevo) mostrando 67% de chances de corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do dia 18 deste mês e alguns apostando até em corte de 0,5 p.p., a exemplo do que aconteceu nos EUA. Fato que não elimina a pergunta: será que os novos cortes nos juros serão suficientes para estimular o consumo e evitar a temida recessão? Qual é a dose certa do remédio contra os impactos do coronavírus?
No Brasil, o sentimento é de que as quedas anteriores ainda não chegaram ao bolso do consumidor, em parte por conta do spread bancário e da margem de lucro ainda espremida do varejo com a crise, fatores que limitam a capacidade de compra da já comprometida renda familiar. A mudança desse cenário depende da geração de novos postos de trabalho e estímulos ao consumo, que ainda sofrem com a demora no avanço das reformas tributária e administrativa. Se o governo quiser salvar o ano, é preciso reagir.