O Brasil contribuiu ontem para que o mundo alcançasse a marca simbólica de 5 milhões de casos de coronavírus, após o salto de quase 20 mil novos infectados de Covid-19 em apenas 24 horas. E o prognóstico não é favorável, diante da movimentação nas estradas durante o feriado antecipado na capital paulista. Apesar de a pandemia ainda estar longe de ser controlada, o mercado financeiro só quer saber de antecipar o cenário à frente.
E tudo indica que será de maior tensão entre Estados Unidos e China. A decisão do Senado norte-americano de aprovar uma lei que pode proibir empresas chinesas de serem listadas nas bolsas de valores dos EUA e retirar as que já estão, afetando Alibaba e Baidu (NASDAQ:BIDU), lança uma nuvem sobre a recente recuperação dos ativos de risco. As ações estão no vermelho. Ao mesmo tempo, cresce a busca por proteção no dólar e nos títulos norte-americanos (Treasuries).
O projeto foi aprovado em decisão unânime e exige que as empresas certifiquem que não estão sob controle de um governo estrangeiro. Trata-se de mais uma medida que enfraquece os laços sino-americanos, após os legisladores dos EUA impedirem que fundos de pensão do país financiem grandes corporações chinesas, que visam desenvolver posições de liderança, principalmente na área de tecnologia.
O presidente dos EUA, Donald Trump, elevou a carga. No Twitter, ele afirmou que a China está fazendo uma “enorme campanha de desinformação” porque está “desesperada” para que o rival democrata, Joe Biden, vença a corrida presidencial e continue “roubando” os EUA. Em resposta, o editor-chefe do jornal Global Times, Hu Xijin, tido como porta-voz do governo chinês, afirmou que Trump “ajuda a promover a união” na China.
Portanto, a piora na relação entre EUA e China e os 5 milhões de casos globais de coronavírus põem em xeque o otimismo dos investidores em relação à reabertura das principais economias desenvolvidas no Ocidente e à expectativa por estímulos adicionais por parte dos bancos centrais. A sensação é de que a pandemia e a escalada da tensão põem em risco a fase um do acordo comercial sino-americano. Além disso, o risco de uma nova onda do vírus e o ceticismo com a liberação de uma vacina elevam a cautela.
No Brasil, o salto no número de mortes e novos casos de coronavírus combinado com a instabilidade na cena política devem pressionar os ativos locais. Ao mesmo tempo, persiste a ansiedade em torno da divulgação do vídeo, na íntegra, da reunião ministerial de abril, apontada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova da acusação de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.
Em meio a esse ambiente externo avesso ao risco e do “desgoverno” vivido no país, os mercados domésticos também repercutem as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que pode aumentar a atuação no câmbio, caso seja necessário. Ele sinalizou que a autoridade monetária pode ampliar a venda de dólares das reservas internacionais. Ontem, a moeda norte-americana fechou abaixo de R$ 5,70.
Agenda cheia lá fora
O calendário econômico do dia está carregado no exterior, já que aqui sai apenas a prévia da sondagem da indústria em maio (8h). Por lá, as atenções se dividem entre dados deste mês sobre a atividade nos setores industrial e de serviços nos EUA e na zona do euro, ao longo da manhã, e os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país, às 9h30.
Neste horário, sai o índice sobre a atividade na região da Filadélfia. A agenda norte-americana traz ainda dados do setor imobiliário e indicadores antecedentes, ambos às 11h e referentes ao mês de abril. Entre os eventos de relevo, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, fala (15h30) sobre como a Covid-19 está afetando a comunidade.
No fim do dia, o radar se volta para a China, onde, já na manhã da sexta-feira (hora local), tem início a sessão plenária do Congresso Nacional do Povo (NPC). Conhecido como as “Duas Sessões”, o encontro político teve início nesta quinta-feira, com a sessão anual do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC).