Ontem, o Banco Central deu prosseguimento ao ciclo de relaxamento da política monetária. Como antecipado na seção Copom Watch, veio o corte de 100 pontos-base, levando a taxa básica de juros para 11,25% a.a. Desde o primeiro corte em novembro do ano passado, já houve redução de 300 pontos-base, suficiente para mudar a posição da política monetária. Considerando as expectativas médias para a inflação nos próximos 12 meses coletadas pelo Focus e o swap 360 dias, no último dado diário disponível para aquelas, o juro real ex-ante está na casa de 4,79% a.a., o que dada nossas estimativas de juro neutro, posiciona a política monetária em terreno levemente expansionista. Como mostra o gráfico abaixo, utilizando dados mensais, é a primeira vez que isso ocorre desde 2013.
O juro real ex-ante, como pode ser visto no segundo gráfico abaixo, antecipa a trajetória do juro ex-post, sendo relevante para determinar os movimentos da política monetária. Desse modo, passamos a ver nos próximos trimestres uma mudança nos impulsos monetários sobre o nível de atividade, o que deve, ceteris paribus, se refletir no ciclo econômico. A saber, entre uma mudança na taxa básica e seu efeito total sobre os preços, passando pelo hiato do produto, leva-se entre 6 e 8 trimestres.
Nesses termos, portanto, um efeito mais vigoroso da política monetária sobre o nível de atividade será visto somente em 2018, ainda que haja algum efeito esse ano. Dado o tamanho da abertura do hiato do produto, em 2017, ainda estaremos crescendo abaixo do potencial - que, diga-se, se reduziu nos últimos anos. Em outras palavras, esse quadro favorece apostas em uma aceleração no ritmo de relaxamento monetário, nos termos discutidos em post anterior dessa seção: Copom Watch: corte de 100 pontos-base virou piso. Essa aceleração no ritmo de corte é o que o Comitê de Política Monetária (COPOM) tem chamado de antecipação do ciclo, que em suas palavras depende de alguns fatores para se consolidar.
Há entre esses fatores, questões conjunturais como o grau de reação do nível de atividade e questões estruturais como a reforma da previdência. Essa, por sua vez, tem impacto direto sobre o nível de juro neutro. Consolidar, por suposto, um juro real baixo no Brasil, que não interfira justamente nesse grau de impacto monetário vai depender e muito da agenda de reformas em discussão. Isso porque, uma redução muito forte na taxa básica, como ocorreu no passado, que a deixe muito distante do juro neutro, irá gerar incentivos expansionistas em demasia, o que desancorará as expectativas de inflação, levando mais à frente a novas rodadas de aumento no juro nominal.
Garantir, portanto, um juro real menor depende, soberbamente, dessa agenda de reformas. Há e sempre houve no Brasil pressão por juros reais menores. Difícil, entretanto, é fazer o vínculo entre juros menores e reformas estruturais, como tenho chamado atenção nesse espaço. Dessa vez será diferente?