Até que o COPOM está propenso a elevar o juro, mas temeroso e inseguro, sinaliza na Ata de sua mais recente reunião que vai esperar para aferir melhor os impactos da pandemia na atividade econômica e na delicadíssima situação fiscal.
Voltou a postura que já se revelou errática de considerar a inflação temporária, o que resultou no ano passado num IPCA de 4,52% acima da meta e um IGP-M estratosférico de 24%, e o sinal inicial deste equívoco já veio na primeira apuração do IPCA-15 neste ano com pujante 0,78%, puxado pelos alimentos afetados pelo câmbio e pela energia, que muitos temem que pode faltar se o país voltar a crescer.
Alguns integrantes do COPOM manifestaram o entendimento que o órgão deveria considerar o início do processo de normalização parcial da taxa básica de juro, reduzindo o grau “extraordinário” do estímulo.
Porém, mais uma vez o COPOM não se revelou proativo e, certamente, vai agir quando já houver causa irreversível.
Há muitas incertezas rondando as perspectivas de retomada da atividade econômica, até o próprio governo já considera que os efeitos da pandemia vorazmente forte podem impactar retrocedendo as expectativas de curto prazo, pelo menos já que ainda são muito frágeis as perspectivas da vacinação massiva da população este ano, seja por falta do produto, do insumo e até mesmo do negacionismo ainda fortemente predominante.
Por outro lado, com o agravamento da pandemia haverá pressão para a retomada dos programas assistenciais de suporte à população carente, o que vem sendo “politicamente muito falado”, mas que merece cuidados maiores para evitar o “populismo” e provoque danos irreparáveis às perspectivas de retomada da atividade econômica. Politicamente e não só da parte do Presidente há o anseio, mas há muito receio sobre eventual rompimento do teto orçamentário que provocaria efeitos amplamente negativos.
Existe um crasso erro por parte dos que não entendem bem sobre a Dívida Pública, comparando a situação do Brasil com a de outros países, sem se aperceber do óbvio que a DP gasta como investimentos oferece perspectivas de retorno e a DP constituída com gastos irresponsáveis não oferecem retorno. Todos têm consciência que os programas assistenciais concedidos pelo governo atingiram seus objetivos dando suporte à população carente e dinamizando a atividade econômica o que conteve a queda mais expressiva do PIB no ano passado, porém o valor acumulado antecedente de DP notoriamente não foi direcionado para fins que gerem retorno e é na atualidade um empecilho para a questão fiscal.
A elevação do juro SELIC ganhou a convicção do mercado em perspectiva de curto prazo e isto já impactou tirando relativamente pressão do preço do dólar no mercado futuro, deixando evidente o que já se sabe que tecnicamente a taxa de juro em descompasso com a realidade é um dos fatores de pressão altista sobre o preço no nosso mercado de câmbio à vista, a despeito de o ambiente externo fragilizar a moeda americana.
O câmbio mais equânime com a realidade impactaria de forma menos intensa na inflação e deterioraria em grau menor o poder aquisitivo da população.
O governo e o COPOM acreditam em crescimento de 3,5% do PIB este ano, mas este é tão somente um anseio visto que em realidade não se conhece a intensidade danosa da pandemia, que se revela maior do que na fase inicial, e o impacto na retomada da atividade econômica, no emprego e na renda pode ser drástico e frustrar expectativas.
O governo precisa assumir forte protagonismo na implementação das reformas fundamentais e nas privatizações, mas o caso presente da Eletrobrás foi altamente frustrante e deixa dúvidas sobre as efetivas intenções do governo sobre privatizações, que parece muito à mercê de grupos políticos contrários.
Estamos claramente num período transitório que sugere muita atenção, visto que há muitos fatores de incertezas formando pequenas nuvens, que juntas podem se tornar tempestade, e a volta à normalidade parece algo muito distante.
Continuamos com a percepção de que o IBOVESPA está demonstrando certo esgotamento, tendente a muita volatilidade e predominância de operações de “daytrade”, e com o investidor estrangeiro demonstrando ceticismo a respeito do Brasil dado a inércia de efetivas iniciativas nas questões centrais como as reformas, podendo até encetar movimento de saída.
O dólar tem um confronto de forças, as externas o depreciam enquanto as internas o apreciam, e, por enquanto, as internas vem se demonstrando mais impactantes, o preço ainda se mantém acima do razoável, a despeito do ajuste pontual de ontem.
A perspectiva da elevação do juro e a sua efetivação na próxima reunião do COPOM poderão atenuar as pressões altistas e apreciar relativamente o real, sendo que este fato poderá anteceder o fato em si, se a convicção se acentuar e o mercado referendá-la como sinaliza.