Em geral, um grande choque em qualquer ativo financeiro - da Petrobras (SA:PETR4) ao Bitcoin - gera uma série de dias voláteis. Não há algo como apenas um dia ruim: eles são seguidos por tendências ou reversões. Essa questão é considerada um elemento básico da gestão de risco quantitativo, inclusive com um Nobel da Economia associado a ela (Robert Engle, 2003) e outros gênios da matemática também estudando a questão (Benoit Mandelbrot).
Controlar para esse risco é importante. Ele ocorre diariamente, então testes com base no histórico são possíveis. Na literatura de finanças quantitativas, já há testes suficientemente seguros para saber se essa sequência na volatilidade foi bem modelada. Estaremos parcialmente seguros se controlamos o problema. Entretanto, isso não resume o risco do mercado. Há diferentes formas de se modelar esse mesmo fenômeno (diferentes famílias de modelo) e outros riscos que não são capturados. A questão é: como se livrar desses riscos inesperados?
Uma abordagem demasiada conservadora limita ganhos durante épocas de normalidade. Essa solução não é adequada. Contudo, a maioria dos investidores é avessa ao risco; num momento ou mercado onde pode se esperar uma forte queda, vale a pena se proteger constantemente para evitar colapsos. Apesar de algo desanimador, essa abordagem de controlar o risco de caudas sempre deve ser praticado, em particular para partes não tão extremas das caudas: controlar o risco de perda a 1% significa evitar perder excessivamente a cada três meses.
Uma outra maneira de pensar o problema é mapear qualitativamente os riscos. George Soros, quando especulou contra a libra esterlina e fez o trade que impactou muito sua fama e riqueza, usou uma série de mercados – câmbio, juros, ações – avaliando os possíveis contágios. Apesar de possivelmente ter usado uma série de recursos para balizar suas decisões, havia uma lógica qualitativa extremamente intuitiva na operação. Esses mapeamentos, para bem e para o mal, fazem parte das estratégias de todos grandes investidores. Ray Dalio, fundador do Bridgewater Associates, um dos maiores hedge funds do mundo, revela em seu livro Principles que fazia e faz esquemas similares – atualmente com maior cuidado que quando jovem, usando rigoroso track record de analistas e técnicas avançadas de inteligência artificial – e, bem, não podemos falar que ele não é bem-sucedido. Vale notar que Ray Dalio já fez operações onde perdeu consideravelmente, sendo esse método também não suficiente para investir com sucesso.
Nessa semana o preço do Bitcoin Cash mais que dobrou e marcou o mercado de criptomoedas nesse final de ano. Uma abordagem de risco muito restritiva não teria ganho tudo que poderia com esse ativo. Uma abordagem qualitativista não tem muito suporte no mercado de criptomoedas, posto que muitas relações entre as criptomoedas não foram bem decifradas (excetuando-se um ou outro artigo trabalhando competição por investidores, dinâmica evolutiva ou co-explosões). O que fazer num cenário como esse?
Acredito que é importante trabalhar as duas frentes. Por um lado, admitir que vale controlar o risco desse ativo mais fortemente pela ausência de fundamentos claros, mesmo que isso limite ganhos eventualmente. Por outro, estar atento ao desenvolvimento de relações úteis e ao sentimento de mercado. Na ausência de fundamentos, as pessoas se guiam por sentimentos. Vale notar que o Litecoin no flopado flappening aumentou 10% apenas por ter passado o então decadente Bitcoin Cash, sem grandes razões além disso.
Portanto, gerenciamento de risco depende muito do mercado que se opera, como suas relações fundamentais são estabelecidas, como as caudas se comportam e frequência que se manifestam. Em mercados tradicionais, vale proteger para caudas não muito extremas e mapear possíveis contágios de maneira rigorosa. Em mercados mais experimentais ou alternativos, a tarefa é consideravelmente mais difícil, porém factível. Em todo caso, não podemos negligenciar essa complicada tarefa ou calibrá-la incorretamente. Um ecossistema financeiro sustentável depende, em grande parte, de melhor compreensão da natureza volátil do mercado. Nesse ponto, acredito que com os últimos anos – seja em mercados convencionais ou criptoativos – haja muitas lições para aprendermos.