O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cotado a 17.93 centavos de dólar por libra-peso no vencimento outubro/21, uma queda 24 pontos em relação à semana anterior, pouco mais de 5 dólares por tonelada. Também caíram na mesma proporção todos os vencimentos correspondentes à safra 22/23 do Centro-Sul, ou seja, de maio/22 até março/23. Como a moeda brasileira praticamente ficou inalterada no acumulado semanal, a queda no outubro/21 e março/22 foi em média 30 reais por tonelada. A 22/23 teve depreciação pequena de 7 reais por tonelada e a 23/24 igual à semana anterior.
As temperaturas congelantes no Centro-Sul do Brasil contrastam com o ambiente morno da movimentação de açúcar no mercado físico. Várias usinas afirmam ter sido abordadas pelas tradings para postergarem as entregas de açúcar para embarques em agosto enquanto outras tradings simplesmente atrasam o carregamento. Essas atitudes por parte das casas comercializadoras, validadas pelo spread outubro/março que exibe um desconto de quase 7% ao ano, destoam da percepção que o mercado tenta passar de que teremos falta de açúcar.
Os fundos tem sido os protagonistas dessa alta aproveitando a onda de frio e a narrativa dela decorrente de uma reduzida safra de cana em função do clima. Adicionaram, numa semana, 27.800 lotes (equivalentes a mais de 1.4 milhão de toneladas de açúcar) inflamando o mercado e trazendo séria preocupação para aqueles que estão vendidos e precisam margear junto à Bolsa as altas irracionais. Pelo nosso levantamento, o conjunto formado pelos vendidos (tradings, usinas, provedores de OTC, bancos, entre outros) representa uma drenagem de recursos do caixa que ultrapassaram US$ 2 bilhões.
Há um evidente contraste entre o que o mercado futuro quer mostrar e o comportamento do mercado físico de açúcar. É fato que o mercado já apreçou uma safra de cana no Centro-Sul tão baixa quanto 540 milhões de toneladas. Caso ela se desenhe para um volume menor do que esse, são grandes as chances de o mercado mudar de patamar de preço, dependendo também das outras variantes que nos orbitam, tais como o preço do petróleo no mercado internacional, o comportamento do real em relação ao dólar, a magnitude da recuperação das economias brasileira e global, para ficar apenas com algumas.
Contrastante também é o fato de que independentemente do tamanho da safra do Centro-Sul para este ano, existe um consenso de que a próxima safra de cana vai refletir muito mais nitidamente os problemas sofridos pela gramínea com a seca e a geada desta temporada. Em outras palavras, os preços em centavos de dólar por libra-peso no mercado futuro tanto para a safra 22/23 quanto para a 23/24, na nossa visão, não refletem o risco que o Brasil vai sofrer de produzir açúcar e etanol insuficientes para atender a demanda interna de combustíveis (claramente construtiva no pós-pandemia) e a demanda de açúcar no mercado mundial, crescendo 1.1% ao ano. Somem-se a estes fatores a Índia enveredando por um caminho sem volta na atenção dada ao etanol naquele país e, consequentemente, num futuro próximo, tornar-se apenas um fornecedor residual de açúcar para o mundo.
Nosso receio do não cumprimento desse script altista no médio/longo reside nos fatores exógenos que podem atrapalhar esse cenário. O Banco Itaú (SA:ITUB4) estima a SELIC para o final desse ano em 7.5%. Dessa forma, tudo o mais constante, nós veríamos as taxas de NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, para vencimento futuro propiciando mais reais por US$ vendido, com potencial de queda de até 100 pontos nas cotações em centavos de dólar por libra-peso referentes a 23/24 (maio de 23 a março de 24).
Também preocupa a demora de a Petrobras (SA:PETR4) colocar o preço da gasolina em linha com o mercado internacional. Hoje, a defasagem está em torno de R$ 0,3000 por litro prejudicando a arbitragem com o hidratado.
De boa notícia, a Índia aproveitando os bons preços do mercado internacional e em linha com a política ainda que sutil da redução de subsídios, deve reduzir os subsídios à exportação de açúcar dos atuais ₹4,000 para ₹3,500 por tonelada, o que colocaria o ponto de equilíbrio ao redor de 16.75 centavos de dólar por libra-peso, ainda um pouco abaixo do que mostram as cotações para o próximo ano safra indiano (que começa em outubro próximo). Em tempo: até ontem, a Índia já havia exportado 5.3 milhões de toneladas de açúcar das 5.85 milhões já registradas.
A Índia vendeu esta semana 500,000 toneladas de açúcar para embarques dezembro e janeiro a 440 dólares por tonelada FOB, açúcar que vai começar a ser produzido em outubro. O inusitado dessa venda, contrastando com o que normalmente ocorre, é que raramente os exportadores indianos vendem açúcar antes do anúncio do subsídio por parte do governo. O mercado acredita que algumas tradings brasileiras envolvidas na aquisição do açúcar estariam se antecipando a uma possível falta do produto no Brasil combinada com uma acomodação dos seus livros e, ainda, abrindo possibilidade de fazer um swap internamente do açúcar que receberiam aqui para a produção de etanol.