A aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara não é vista como positivo para a credibilidade do Brasil, uma vez que o texto prevê a alteração de regras da principal âncora fiscal do governo, mas muitos investidores passaram a enxergar a PEC como a melhor alternativa disponível para o governo financiar benefícios sociais de 400 reais por família em 2022, ano eleitoral e removeu parte das incertezas do cenário fiscal, mesmo com o prosseguimento da proposta no Senado, o que ajuda a explicar também a dinâmica dos mercados locais, especialmente curva de juros e taxa de câmbio. A divisa norte-americana negociada no mercado interbancário caiu 1,80%, a R$ 5,4031 na venda.
O dólar ampliou as perdas ontem, chegando a ir abaixo dos R$ 5,40 nas mínimas da sessão, deixando a moeda brasileira com o melhor desempenho entre as principais divisas globais em meio a expectativas crescentes de que o Banco Central endurecerá o ritmo de seu aperto monetário. A ampliação da queda resulta, dentre outros motivos, também da continuidade do desmonte de posições cambiais defensivas em função da aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara e pelo dólar fraco lá fora entre os principais pares emergentes do real.
A movimentação de ontem veio depois de quarta-feira o real ter apresentado desempenho muito superior ao de alguns de seus principais pares emergentes, apesar da disparada internacional do dólar na esteira de dados de inflação mais fortes do que o esperado dos Estados Unidos.
Investidores atribuíram a resiliência recente da divisa brasileira a expectativas de que o Banco Central pode intensificar seu atual ritmo de elevação de juros, uma vez que dados domésticos sobre os preços ao produtor continuam a surpreender para cima. A meta de inflação para o ano que vem é de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 pontos percentual para mais ou para menos. A taxa Selic está atualmente em 7,75% ao ano, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promover alta de 150 pontos-base em seu último encontro.
Juros mais altos tendem a tornar o mercado de renda fixa doméstico mais atraente, consequentemente elevando a demanda pelo real. A previsão é de pelo menos um aumento na mesma magnitude na próxima reunião.
Na esteira das incertezas, seguimos com muita variação cambial. Com a deterioração das condições de mercado neste segundo semestre, devido às preocupações com o quadro fiscal do Brasil, o ritmo de crescimento da economia, a inflação, os juros e as eleições presidenciais de 2022, o mercado de câmbio atravessa um período de turbulências, com cotações saltando da casas de R$ 5,00 para R$ 5,70 nos últimos quatro meses. E nestes dias operando na casa de R$ 5,40. Em minha opinião, a taxa de câmbio no Brasil deve seguir pressionada em 2022, permanecendo perto dos R$ 5,50. Em ano de eleição, as incertezas aumentam e, portanto, temos uma chance maior de depreciação cambial.
A principal questão é a manutenção da pressão global sobre os custos. Há um desconforto com questões inflacionárias no mundo inteiro. Também tivemos uma pequena diminuição da expectativa de crescimento global. Existe a possibilidade de elevação de juros pelo Federal Reserve (Fed), embora não agora, há a possibilidade disto ocorrer nos próximos meses. Isso criaria uma piora, ou ao menos uma resistência, para a queda da taxa de câmbio de qualquer país emergente.