Várias foram as medidas adotadas pelo governo no intuito de estimular a economia. Foram isentos de IPI vários setores sensíveis ao crédito da indústria, como o moveleiro, eletrodomésticos (linha branca), construção civil, automobilístico, etc; foi desonerada a folha de pagamentos de diversos setores; reduzida a taxa de juros em 5,25 pontos percentuais (de 12,5% para 7,25%); reduzido o depósito compulsório, visando aumentar a liquidez dos bancos, com mais recursos para emprestar; e o BNDES e os bancos oficiais disponibilizaram grandes montantes de recursos para estimular a produção.
Em adição, o BACEN segue deixando o real deslizar para um valor menor, já em torno de R$ 2,09 por dólar, visando estimular as exportações de manufaturados.
Mesmo assim, a economia responde com um movimento moderado de retomada, bem mais tímido do que o esperado. As vendas do varejo esboçam boa reação, até porque o nível de emprego e os ganhos de renda, ainda mais depois do reajuste do salário mínimo no início do ano, continuam preservados. Em 12 meses até setembro, as vendas do varejo acumularam alta de 8,1%. Neste caso, observa-se boa trajetória para as vendas de super e hipermercados, até por esta preservação do emprego e da renda real. A indústria, no entanto, segue patinando num desempenho sofrível, com retração de 3,1% no mesmo período de análise, com o setor de bens de capital despencando.
A explicar esta dicotomia entre indústria e comércio, o comportamento mais cauteloso do setor empresarial em ampliar investimentos, ainda mais com o cenário internacional conturbado, afetando a demanda externa, além das últimas intervenções do governo, gerando muitos ruídos nos mercados. Somado a isto, observamos que a indústria vem perdendo peso na composição do PIB nacional, já em torno de 15% pelo lado das manufaturas, o que pode ser explicado por uma série de motivos, como o aumento das importações, o surgimento de uma sociedade pós-industrial, mais focada em serviços, etc...
Visando reduzir (ou mitigar) este cenário de desindustrialização, o governo vem estimulando as exportações, ora pelas medidas “pontuais ou confusas”, na visão do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas, citadas no início, ou então por uma política cambial mais agressiva, visando dar maior competitividade ao setor pelo lado dos preços e não pelo aumento da quantidade. Neste ano, até a semana passada, a taxa de câmbio já havia se depreciado em 12%.
Com o setor industrial de lado, cauteloso diante dos últimos acontecimentos, os projetos de investimento acabam adiados. Estimativas de mercado indicam um consumo de bens de capital recuando, assim como a formação de capital fixo. No segundo trimestre, a formação bruta recuou 0,3% contra o mesmo trimestre do ano passado, com o PIB avançando 1,2% e o consumo das famílias 2,5%. Isto nos leva a crer que estes estímulos adotados vêm servindo muito mais para estimular o consumo, do que propriamente os investimentos.
Pelos gráficos a seguir, observa-se que o consumo até vem mantendo um ritmo regular de expansão, com poucas oscilações ao contrário da FBCF, instável e sujeita a muitos solavancos. Isto pode ser explicado pelo cenário externo recente mais conturbado, mas também pelo fato do país ainda estar preso na “armadilha do baixo crescimento”, no dilema entre ampliar a oferta e dosar a demanda, visando evitar novas pressões inflacionárias.
O fato é que os empresários ainda não se vêem exercendo o chamado animals spirits. Como decidir por novos investimentos, diante de um cenário externo retraído (demanda externa mais fraca) e por intervenções constantes do governo, alterando as regras do jogo em alguns setores?
Estas e outras indagações continuam em busca de uma resposta. Mesmo assim, os dados do PIB do terceiro trimestre, que devem sair nesta semana pelo IBGE, ainda devem mostrar uma economia crescendo pouco, algo em torno de 1% contra o trimestre anterior, para fechar o ano com um crescimento sofrível de 1,4%. Para 2013, estamos contando com um carry over em torno de 1%, que deve turbinar o PIB a crescer em torno de 3,4% a 3,8%.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do BACEN, uma espécie de prévia do PIB (ver gráfico a seguir), mostrou que, apesar da queda mensal de 0,52% em setembro, as expectativas são de “ritmo de atividade mais intenso neste semestre e no próximo ano”. Assim esperamos.