USDA opta por projeções conservadoras neste fim de ano. Agentes do mercado, no entanto, não podem se dar o mesmo luxo
O Departamento de Agricultura Americano (USDA, na sigla em inglês) optou por uma atualização bastante conservadora em suas Estimativas Agrícolas. Os comportamentos recentes do mercado internacional de soja não foram refletidos na edição deste mês. As projeções referentes ao Brasil, à China e aos Estados Unidos foram mantidas em relação ao observado em novembro. Nem mesmo a demanda chinesa por soja americana surtiu efeito nas projeções de importação e exportação nestes países.
Tampouco a severa deficiência hídrica argentina repercutiu na projeção do Departamento na produção do país. O plantio nas lavouras platinas não consegue avançar devido a baixa umidade dos solos nas províncias de Buenos Aires e Córdoba, responsáveis por mais de 65% da produção nacional. Mesmo as áreas já semeadas apresentam sintomas comprometedores da produtividade. O último relatório de estimativas do USDA deste ano, no entanto, focou novamente na redução das exportações de soja no país, repercutindo a decisão do governo local de adiar o corte nas taxas de exportação da oleaginosa. Os produtores argentinos de milho e trigo já se beneficiam desta redução desde a troca de governo há um ano, o que não torna a produção de soja atrativa.
Contudo, ajustes nas projeções de produção de países menos representativos no cenário mundial da commodity levaram ao aumento da projeção de produção mundial para 338 milhões de toneladas. Um avanço de 8% em relação ao ano anterior.
A outra atualização relevante ao mercado da semana anterior foi a de comprometimento da safra exportável dos Estados Unidos. Com dados até o início de dezembro, o Departamento aponta que 75% do volume exportável da safra recorde de 2016/2017 já se encontra comprometido. Com vendas acima de 100 mil toneladas tendo sido reportadas todos os dias na última semana, este indicador de exportação deve avançar ainda mais no próximo relatório semanal.
As cotações na Bolsa de Futuros de Chicago seguem refletindo a demanda chinesa pela oleaginosa americana. Mesmo após o encerramento da safra deste ano nos Estados Unidos, no entanto, o clima deve influenciar o atendimento desta demanda. O rigoroso inverno americano está registrando nevascas mais cedo do que o esperado, o que compromete o transporte até os portos.
Nos próximos dias, já sem a expectativa de novidades vindas do USDA, o mercado deve se concentrar totalmente na produtividade sul-americana, em especial nos efeitos climáticos. Mesmo com a decisão do USDA de só contabilizar a produção mais perto da colheita, a ponta consumidora não pode se dar o mesmo luxo, e precifica a sua necessidade. A elevação dos juros americanos nesta semana, no entanto, deve dificultar as compras em dólar em relação às demais moedas.