Os fortes ganhos e as negociações em uma volatilidade incrível das criptomoedas durante o primeiro semestre de 2017 levantaram questões sobre como as moedas digitais se comportarão durante a segunda metade do ano.
O bitcoin atingiu a máxima histórica de US$ 3.000 em 11 de junho e caiu 27% nos dias seguintes. Encerrou o primeiro semestre do ano com a cotação de US$ 2.436,70, após mais do que dobrar seu preço nos três meses anteriores.
A subida meteórica do bitcoin aconteceu, em grande parte, devido ao aumento da demanda na Ásia. No início de abril, novas regras entraram em vigor no Japão e deram ao bitcoin reconhecimento oficial como moeda legal, com grandes varejistas começando a aceitá-la como forma de pagamento.
Contudo, o bitcoin esteve sob pressão em meio à crescente divergência entre desenvolvedores e empresas sobre como aumentar de melhor forma a capacidade de negociação da moeda, uma vez que a velocidade das transações diminuiu com o crescimento do volume de negociações. Dessa forma, o bitcoin poderia ser quebrado em moedas distintas, concorrentes.
Novas propostas que tratem dessa questão são esperadas ainda para esse ano, o que poderia resultar em mudanças na capacidade de processamento da rede do bitcoin, o que é chamado de fork (garfo, em tradução livre), ou dividir a moeda em duas entidades separadas, versões hard fork e soft fork.
Temores sobre uma possível divisão na moeda limitaram a demanda dos investidores pelo bitcoin e impulsionaram a demanda por uma nova alternativa, ethereum.
Ethereum sobe
O ethereum atingiu a máxima histórica de US$ 419,30 em 11 de junho, antes de sofrer um acentuado flash crash. Encerrou o trimestre com a cotação de US$ 260,52
Ethereum, lançada em 2015, é a segunda maior criptomoeda em capitalização depois do bitcoin, de acordo com a Business Insider.
Atualmente, a capitalização de mercado do bitcoin fica em torno de US$ 41 bilhões, enquanto o ethereum tem uma valorização total em torno de US$ 26 bilhões.
Há, entretanto, algumas diferenças cruciais entre bitcoin e ethereum. Algumas são técnicas, como o tempo necessário para se completar uma transação, mas a mais importante diferença está relacionada ao propósito das moedas.
O bitcoin foi criada como uma alternativa às moedas; é dinheiro digital puro e simples. Por outro lado, desenvolvedores do ethereum tiveram como meta estabelecer uma plataforma que facilitasse contratos ponto a ponto ou, como alguns se referem a eles, "smart contracts" (contratos inteligentes, em tradução livre). A explicação simplificada: transações ethereum de qualquer tipo nivelariam o campo de atuação para compradores e vendedores ao permitir que o pagamento seja liberado simultaneamente à satisfação das condições de transação.
Embora tanto bitcoin quanto ethereum concorram como criptomoedas, não houve projeção, na realidade, para serem concorrentes diretas.
Tecnologia Blockchain
Nos últimos anos, o interesse em criptomoedas tem mudado para a tecnologia por trás delas, a blockchain (cadeia de blocos, em tradução livre). Potencialmente, isso poderia causar uma revolução maior no mundo financeiro do que as próprias criptomoedas.
Uma blockchain é um registro distribuído de transações financeiras, que ficam armazenadas em blocos; esse registro é mantido por uma rede de computadores na internet.
Uma vez gravados, os dados em um bloco não podem ser alterados sem a alteração de todos os blocos subsequentes na rede. Em maio deste ano, o consórcio mundial R3, de tecnologia aplicada a serviços financeiros, obteve cerca de US$ 107 milhões em financiamento para desenvolver aplicações comerciais para tecnologia de registros distribuídos no cerne da blockchain.
Os bancos esperam que a tecnologia, que verifica e acompanha as transações por conta própria, possa eventualmente ajudá-los a reduzir a complexidade e os custos de atividades como liquidação de negociações e pagamentos internacionais.
ICOs conduzindo a expansão
No segundo semestre de 2017, os preços tanto de bitcoin quanto de ethereum provavelmente serão conduzidos por ofertas iniciais de moedas, conhecidas pela sigla em inglês ICO, que surgiram como a ferramenta favorita para angariação de fundos com os quais são lançadas novas criptomoedas. Uma ICO é um cruzamento entre financiamento coletivo e oferta pública inicial que vende tokens (fichas, em tradução livre) digitais, ou "moedas", criadas através da tecnologia blockchain em troca de criptomoedas de valor imediato.
O desenvolvimento do ethereum foi financiado inicialmente por uma ICO. Com o apetite dos especuladores por blockchain rapidamente se expandindo, o preço de bitcoin e ethereum provavelmente continuará a subir conforme os fundos sejam angariados para estas moedas.
Além de bitcoin e Ethereum
O litecoin e ripple foram, respectivamente, as criptomoedas número dois e três antes da chegada do ethereum.
Nos últimos anos, o ripple ultrapassou o litecoin em capitalização de mercado, tornando-se a moeda a atual número três depois de bitcoin e ethereum.
Assim como bitcoin e ethereum, ripple e litecoin possuem propósitos diferentes. Ripple é um protocolo de pagamento, uma maneira segura de representar e transferir qualquer unidade de valor. É utilizado por bancos, como UBS (NASDAQ:UBSI) e Santander (NYSE:SAN), e não pode ser minerado, significando que a criação de moedas ripple adicionais é centralizada e pode apenas ser feita pelo proprietário do protocolo ou um de seus representantes com conhecimento e acesso à tecnologia apropriada.
O litecoin, embora similar ao bitcoin, é tecnicamente mais avançada uma vez que as transações podem ser processadas mais rapidamente, reduzindo os tipos de gargalos normalmente presenciados em negociações de bitcoin.
Em uma base cotidiana, entretanto, a volatilidade do preço das criptomoedas continuará a ser controlada por quem a negocia. Uma coisa é certa: quebras repentinas de 20% ou saltos igualmente violentos em questão de minutos não são coisa do passado nesta arena.
De acordo com dados recentes, há mais de 800 criptomoedas diferentes disponíveis hoje, incluindo moedas com nomes esotéricos como MarxCoin, PonziCoin, SelfieCoin, e PutinCoin, com mais moedas chegando ao mercado o tempo todo. É por isso que rumores de uma bolha continuam a surgir.
Durante os últimos meses, muitas dessas moedas tiveram valorização exponencial. SelfieCoin, por exemplo, valia US$ 0,000002 no início de junho; agora tem cotação de 0,000026. Podem parecer dois números ridículos, mas representam um ganho de 1.300% em menos de um mês. PonziCoin (um nome que sugere condição de bolha em si mesmo) foi de US$ 0,0014 em março para US$ 0,087 em sua máxima do ano até agora, em 6 de junho. É um ganho de 6.250%, ou 62,5 vezes seu valor prévio.
A possibilidade de lucros estratosféricos explica muito a crescente onda atual de interesse em criptomoedas, o que está fazendo tudo subir nesse domínio.
Adaptação de ETFs e Fundos Mútuos
Com tamanho potencial lucrativo em jogo, não é surpresa alguma que grupos administradores de fundos e empresas estejam também querendo entrar no domínio de moedas virtuais.
Grayscale's Bitcoin Investment Trust (OTC:GBTC) é um ETF negociado em mercado livre, ou seja, fora de corretoras estabelecidas; a empresa descreve o fundo como o primeiro "título com cotação pública investido em derivação de valor do preço do bitcoin". O ETF não reproduz exatamente o desempenho do bitcoin, já que é negociado com ágio em comparação ao par BTCUSD. O fundo teve retornos extraordinários em maio, quando ganho 248% comparado aos 72% do bitcoin. Desde o início de 2017, o ETF subiu 199%, enquanto o bitcoin subiu 129%.
Outros se mostram ansiosos para entrar na briga, nem sempre com sucesso imediato. Em decisão divulgada em 10 de março desse ano, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) rejeitou o pedido feito por Tyler e Cameron Winklevoss para negociarem seu Winklevoss Bitcoin ETF (COIN) na corretora Bats BZX. Ao mesmo tempo, a SEC afirmou ter negado o pedido dos Winklevoss devido ao risco de fraude e falta de regulamentação dos mercados de bitcoin do mundo.
Em 24 de março, a Bats recorreu da decisão ao apresentar petição para rever a rejeição. Um mês depois, a SEC concordou em considerar a petição da Bats. Potenciais investidores de bitcoin esperam pela próxima rodada de deliberações sobre o assunto e uma possível reviravolta na decisão original da SEC. Preços do bitcoin subiram com o anúncio da revisão. Ainda assim, de acordo com a CNBC, a aprovação não será fácil.
No mês passado, a Crypto Fund AG, de Zug, na Suíça, anunciou ter planos de lançar o Fundo de Criptomoedas, um fundo mútuo europeu baseado no Índice de Criptomoedas, que investirá nas moedas virtuais com mais destaques incluindo bitcoin, ether, ripple e outras criptomoedas bem estabelecidas. O fundo deve ser lançado em algum momento do quarto trimestre de 2017.
Fundamentos das Criptomoedas
Junto com o reconhecimento de fundos, há um número adicionais de fatores fundamentais que podem impulsionar os preços das criptomoedas na segunda metade do ano. O reconhecimento oficial de governos, ao reconhecer ao menos algumas das moedas virtuais como legítimas, aumentará a sua aceitação e, consequentemente, a demanda. O Japão recentemente passou a considerar o bitcoin como uma forma legal de pagamento, fazendo com que a moeda atingisse máximas históricas devido ao anúncio.
O reconhecimento de fundos e sanção oficial de moedas virtuais poderia captar mais atenção na mídia convencional. Hoje, mesmo com o interesse em criptomoedas crescendo, apenas uma pequena minoria da população está ciente de sua existência e seu funcionamento interno — e menos ainda participam das negociações. Conforme as oportunidades para usar as criptomoedas na vida diária aumentem, também aumentará o seu valor.
Por fim, bitcoin, Ethereum e outras podem ser vistas como "coberturas de desastre", uma vez que não são reguladas e existem independentemente de governos federais e bancos centrais que poderiam se revelar inestimáveis em caso de guerras ou grandes catástrofes. Embora a volatilidade impeça que sejam verdadeiros portos seguros, se a situação com a Coreia do Norte, por exemplo, ficar fora de controle, esperamos plenamente que bitcoin e moedas similares disparem em valor.
Alguns podem argumentar que sem uma ampla aceitação e supervisão governamental confiável do florescente mundo das moedas virtuais há pouco a se recomendar devido à alta volatilidade e ao ambiente de faroeste que parece caracterizar o universo dos "tokens digitais". Parece que o burburinho e as manchetes são os principais motivadores. Além disso, condição de porto seguro em caso de catástrofe é um nicho bem pequeno para um novo produto financeiro, muito menos para uma nova classe inteira de ativos.
Para todos aqueles que acreditam no futuro das criptomoedas, há muitos que pensam se tratar de uma bolha. No início de junho, por exemplo, o reconhecido investidor bilionário Mark Cuban tuitou sobre o bitcoin "acho que é uma bolha... Não estou questionando o valor. Estou questionando a valorização".
Estaria ele correto sobre o bitcoin e seus ativos irmãos? Ou seriam as criptomoedas a vanguarda na direção de algo novo, inteligente e altamente lucrativo?