Quando o mercado está aquecido, costumamos ouvir falar de muitos projetos inovadores que prometem revolucionar não só as criptomoedas, mas diversos setores. Obviamente há projetos sérios que contam com equipes competentes, mas a maioria dos ICOs e projetos naufragou por diversos motivos. Dentre esses motivos, havia amadorismo e má-fé, porém não é impossível dizer que modelos de negócio deficientes não estavam entre as principais causas. Havia a tentativa de reinventar indústrias sem muita preocupação de dificuldade – técnica e comercial – de projetos inovadores como os usando blockchains.
Infelizmente, a capitalização de mercado recompensa projetos que agem de maneira contrária. Há uma predominância de projetos inspirados em problemas simples e tecnologias consolidadas. De acordo com o site coinmarketcap, das dez maiores criptomoedas, uma é o Bitcoin, duas são ou forks ou projetos extremamente parecidos com Bitcoin (Bitcoin Cash e Litecoin), dois são projetos que objetivam ser meios de pagamento e foram inicialmente inspirados em consenso clássico (XRP e Stellar) e dois são ferramentas simples que favorecem o pagamento de taxas (BNB) ou replicam o dólar de maneira mais automatizada (Tether). Apenas três projetos podem ser considerados mais ousados, porém eles são plataformas que buscam a mesma coisa: ser um world computer com algum nível de descentralização. Ethereum e EOS tentaram ser fortemente inovadores desenvolvendo tecnologias novas, já TRON é mais uma mistura dessas duas redes que exatamente um empreendimento que traz inovações consideráveis.
Podemos ver que efetivamente o mercado tem recompensado poucas soluções. Dessa maneira, alguns projetos que podem vir a ser mais interessantes são justamente forks que resolvam problemas reais. Apesar dos pesares e disputas tribais dos entusiastas de crypto, o Bitcoin Cash surgiu para resolver um problema que ficou muito tempo em aberto e só agora parece estar se fechando: como escalar o Bitcoin como meio de pagamento? A solução conservadora foi razoável e por muito tempo permaneceu como uma das maiores criptomoedas. O mesmo vale para o Litecoin. De certa maneira, podemos estar numa época bearish bem particular, mas o mercado já passou por diversos ciclos e vemos que algum conservadorismo e resposta a problemas reais do Bitcoin ajudou altcoins a se consolidarem.
Acredito, portanto, que por agora ficam lições sobre formação de portfólio. Não acredito que haja grandes motivos para desconfiar do Bitcoin posto que eles têm sido um core conservador e que não promete excessivamente, porém há a chance de ele ter algumas falhas. Mapear essas falhas e os projetos que respondam a elas de maneira mais conservadora pode ser uma maneira qualitativa de formar um portfólio de criptomoedas. Esse princípio se inspira na evolução: não é o melhor que necessariamente sobrevive, mas qualquer espécie suficientemente boa e robusta. A busca não deve ser por novos projetos revolucionários, mas por projetos robustos que respondam a pressões ambientais. O que acontece se, por exemplo, a Lightning Network falhar? O Bitcoin Cash funcionaria como hedge nesse caso? Quais as chances dessa falha ocorrer? Não são perguntas fáceis, porém devem ser encaradas e podem dar origem a um portfólio razoavelmente diversificado em termos fundamentais, apesar das fortes correlações atuais.